Reabilitação social.É como os maconheiros intelectuais chamam a cadeia.Eu chamo de "Jardim do Inferno" ou "Quintal do capeta".
Traficantes,estelionatários,estupradores,muitos,muitos viciados e claro homicidas.Nada como apertar o pescoço de um safado até
sentir a vida abandonar o corpo dele.Quanta gente será que já matei?Não importa.Nem se quer fui preso por isso.
Armaram pra mim.A polícia recebeu uma denuncia anônima de que Tony portava uma mala com no mínimo 10 kg de Spank num motel na avenida
Brasil,no caso eu.A prostituta que estava comigo ja havia evaporado quando os canas chegaram.Tenho certeza de que ela trabalhava para a família Braga.
Aqueles filhos da puta agem em todo tipo de sujeira dessa cidade.E claro,Antônio Braga não queria um matador competente como eu solto nas ruas.Ainda
mais quando eu me recusei a trabalhar particularmente para ele.Eu trabalho por conta própria.Você me diz quem tenho que matar,me paga e lhe entrego a cabeça
do sujeito num prato.
Pagaram minha fiança,quem faria tal caridade por mim?Caridade uma ova.Isso não existe no meu mundo.Quem me quer fora da cadeia?Ainda tiveram
que comprar muita gente pra me tirarem daqui.5kg de spank não é só considerado tráfico de drogas.É crime contra humanidade,pelo menos na minha concepção.
Pego minhas coisas:um maço de maconha,um chaveiro do Fluminense e minha carteira.Sem documentos,os que tinham lá eram todos falsos.Nunca tive documentos.
Me adimiro em ver que não fumaram meus cigarros.
Saio de Bangu 4 e vejo na entrada um carrão do ano.Desses elétricos cheios de comodidade.Não entro em um desses desde que roubei um playboy em Copacabana a
6 meses atrás.O vidro abaixa e eu posso ver a silhueta de uma mulher.Ela pisca o farol e me chama.É óbvio,é lógico,é evidente que é alguma cilada.Eu não tenho amigos.Ninguém
quer me favorecer.Mas eu vou,como um patinho.Ela abre a porta e eu me sento no banco do carona.Ah,perfume de mulher.Isso esquenta meu sangue.Me faz lembrar da Kelly.
Kelly,uma dançarina de boate.Dançarinas de boate não são prostitutas,pelo menos a Kelly não é,porém é díficil explicar isso para os clientes bêbados.
Eu a conheci numa noite qualquer.Entrei na boate,pedi uma cerveja e ela entrou no palco.Foi uma visão maravilhosa.Eu sentado numa mesa,matando minha sede,e ela,
rebolando e se pendurando no mastro como uma serpente.Mas não foi assim que ela me encantou.Nem quando ela tirou a parte de cima do biquine.Mesmo com aquela marquinha de
biquine.E posso afirmar que existe pouca coisa melhor do que ver uma mulher nua na sua frente com todas aquelas marquinhas feitas em Copacabana ou Ipanema.Tudo bem,ela é uma
striper,mas não é puta.E nunca a chame assim na minha frente,se quiser viver.
A diante,minha reflexão sobre marcas de biquine e perfume de mulher foram interrompidas pela dama ao meu lado.Ela tirou seus óculos escuros e falou comigo:
"-Tony,certo?Paguei a fiança do cara certo,né?"
"-Madame.Não sei por que fez isso,mas,se for uma emboscada é melhor saber que eu não estou de bom humor hoje,nem pretendo ser cavalheiro."
"-Há,há,há.Tenho certeza de que é o cara certo.Tem idéia de quem armou pra você ir pra cadeia?"
"-Moça,eu tenho muitos inimigos.Se me disser que foi Antônio Braga não me surpreenderei."
"-Eu sei do que ocorreu entre você e a família Braga.Sei que você se recusou a prestar seus serviços a eles.Porém eles não ficaram tão ressentidos assim,não foram
eles quem armaram pra você."
"-Dona,não me interessa quem tenha feito.Eu não me importo,na verdade era até melhor na cadeia.Pouca gente sabe quem eu sou lá dentro.Meus companheiros de sela todos
gente fina.E o melhor,eu tinha um teto e comida tudo de graça,pago pelo sistema.Quer me dizer o que você quer de mim?"
"-Farei mais que isso Sr.Tony.Vou lhe contar toda a história,assim creio que você terá mais motivação para o trabalho.Conhece o vereador Jorge Siqueira?"
"-Eu não voto.Não faço idéia de quem seja.O que tem ele?"
"-Ele armou pra você.Deve estar se perguntando sobre o interesse dele na sua prisão.É simples.Ele está prestes a derrubar um grande esquema de máquinas caça-níquel,chefiado
pelos Braga.Jimmy Braga,sobrinho querido de Antônio,fez contato com Siqueira lhe oferecendo um generoso dinheiro,em vão.Então os mafiosos tentaram contratar você,tendo como primeira missão
matar nosso vereador.Você se recusou,mas Siqueira não soube disso,sabia apenas que você era um matador contratado para pegá-lo.Daí ele armou pra você e te botou no chadrez."
"-É,agora sei por que fui parar na cadeia.Mas ainda não sei por que me tirou dela."
"-Pois bem,aqui direi.Meu nome é Rita Siqueira,esposa de Jorge.E eu vim lhe contratar para matar meu marido."
O motivo para a esposa de um cara rico,que tem tudo que deseja nas mãos,querer matar seu marido só pode ser um:
"-Ele está me traindo,saindo com uma garota de programa!Li os e-mails no computador dele,o desgraçado fazendo juras de amor pra cachorra!
Tudo nas minhas costas!Não quero mais saber dele,nem do dinheiro dele.Quero ele morto.E quero estar presente na hora.Vou descobrir uma oportunidade e irei te informar,daí chegarei lá
com você para presenciar a morte desse calhorda!Está dentro ou não?"
"-Dona Rita,falemos então de grana.Então poderei lhe dizer se posso ajudar ou não."
Odeio falta de ética profissional.Mas não sou trouxa,sei que sou o melhor no que faço,por isso,cobro caro.Ela aceita minha proposta e entramos num acordo.Na oportunidade certa ela
me avisará.Pego um panfleto do cara e decoro bem o rosto dele.O mundo muda e se moderniza a cada piscar de olhos,mas algumas coisas nunca mudam.
Vou ao night club onde Kelly trabalha,tomar uma cerveja,coisa que eu não faço desde o dia em que fui preso.E lógico ve-lá novamente.
Do palco ela me enxerga no meio de todos aqueles tarados e pervertidos,que olham para o corpo dela serpentiando em torno daquele mastro.Nossos olhos se encontram e ela se dedica mais
no rebolado ao me ver.Deixe-me dizer como realmente nos conhecemos.Na noite em que a vi pela primeira vez,depois do show ela saia da boate.Quando três malditos tarados tentaram estupra-lá,sorte eu
ter saído para fumar um baseado fora do local,sorte eu ter ouvido os gemidos dela no beco,sorte eu ainda ter sentidos mesmos depois de todas as merdas que eu usei.
Eles não tiveram chance.Eram três,mas poderiam ser 10,não importaria,eu mataria a todos.
Kelly me olhou nos olhos e me beijou,transamos aquela noite.Até então tudo tranquilo,pra mim ela era só uma striper.Mas depois,conversamos nos conhecemos,como quaisquer pessoas normais.
Achei que ela só estava agradecendo,mas ainda assim me encantei por ela.Ela me disse até seu nome verdadeiro,Cristina.Quando uma mulher da noite te fala seu verdadeiro nome,pode ter certeza que ela confia
em você.Sou romântico,o que posso fazer?Me apaixonei por Kelly.Na noite seguinte lhe mandei flores em seu camarim.A gratidão estampada no rosto dela não sai da minha cabeça até agora.Mas eu estive preso,
fora por meses.Não sei como estamos agora.Na verdade nem sei se ela gosta de mim como eu gosto dela,mas sua amizade já me serve de consolo.
Ao fim do show,a espero na saída dos fundos do lugar.Ela está fria,realmente o tempo que estive fora fez diferença.Quem não é visto,não é lembrado.Mas não pude me manter presente.Nisso ela diz:
"-Desculpe Tony,preciso ir.Pode evitar de me procurar?Por um tempo só.Não me entenda mal." essas palavras me doeram,muito.
"-Tudo bem Kelly,mas quando você precisar de mim,saiba que pode contar comigo." tudo bem uma ova,eu pensava comigo.
"-Eu sei.Vou me mudar,sair dessa vida.Acho que vou para o exterior."
"-Eu desejo o melhor pra você.Mas quem é o safado que te prometeu isso?Algum filho de papai com dinheiro?"
"-Adeus,Tony."
Ela abaixou a cabeça e foi embora.Simplesmente.Já tomei muita porrada da vida.Tanto emocional quanto física,principalmente física.Soco na cara,chute no saco,até tiro ja tomei de raspão.Porém
esse golpe foi forte.Tem algum canalha cheio da grana que está prometendo vida de princesa pra Kelly e ela tá entrando na dele.Por que eu não sou rico também?Meu trampo dá dinheiro.O problema é que quando
eu tenho dinheiro na mão minha principal ação é gastar.Tipo reflexo.Devia fazer umas economias.
Volto pro meu velho esconderijo,está do jeito que deixei.Todas as minhas armas,facas,luvas e serras.Uma pequena quantidade de grana ainda está aqui,ótimo.Deito para descançar,passo a noite em claro.
De manhã cedo meu velho telefone de contatos no submundo me chama atenção,gritando feito uma galinha estridente.Rita Siqueira ela diz,temos nossa chance.Digo a ela para levar a grana em seu carro,
tudo em dinheiro vivo.Ela me passa os detalhes,seu marido é mesmo um crápula.Se o cretino pode ter a mulher que quiser,então pra que se prender a uma?Pra traí-lá?Não suporto mentiras e traições.Não engoli ainda o fora
que Kelly me deu.Tento tirar da cabeça e me concentrar no trabalho.Rita conta que seu Jorge,disse que passaria o fim de semana trabalhando em Resende.Mas na verdede ele estava indo pra Búzios com sua amante.E é
pra lá que vamos,antes recebo meu pagamento adiantado.O cheiro do dinheiro me motiva cada vez mais a matar o vereador adúltero.
Eles têm uma casa em Búzios.Ao chegar,peço pra Rita estacionar seu carro não muito próximo e pego as chaves da casa com ela.Ela esteve monitorando o marido a tempos.Me garante que não tem alarmes e nem
câmeras na casa.Tudo fácil até demais.Carrego minha arma e coloco as luvas.Entro na casa sorrateiramente.Subo ao quarto conforme Rita me indicou.Jorge Siqueira está deitado na cama dormindo,ouço o barulho do chuveiro ligado
no banheiro do quarto.A amante está lá.Ligo pra Rita,fazia parte do acordo que ela esteja presente na hora da execução.Pra minha surpresa,rapidamente ela entra com uma sub-metralhadora,e uma arma dessas na mão de uma mulher
traída é extremamente perigoso.Com seus gritos de ódio e fúria ela desperta Jorge Siqueira de seu sono infantil:
"-Seu desgraçado olhe para mim enquanto eu mato você!"
"-E-eu posso explicar tudo isso meu amor...!" é,eu sei que é bem típico,mas ele falou isso mesmo.Porém,o que já estava ruim piorou,a acompanhante de Jorge saiu do banheiro ao ouvir os gritos de
Rita.
"-O que está acontecendo aqui?!" eu reconheci sua voz imediatamente.
"-Kelly?!" sim,Kelly era a amante de Jorge,a prostituta do vereador.Que merda...
"-Tony? O que você faz aqui?" sua vitalidade,sua voz,o brilho da sua vida.Tudo acabou para Kelly.Rita não pensou e cheia de ódio fez sua arma rugir,metralhou o delicado corpo de Kelly.De imediato cometi um erro vital
pra um assassino,larguei minha arma.Fui ao amparo de Kelly.Eu tinha o que um matador não pode ter,sentimentos.
"-Meu Deus,Kelly!Eu vou te levar para o hospital." palavras inúteis.Ela estava morta.O imbecil do Jorge nem sequer olhou pro corpo dela,do contrário pegou minha arma e apontou para sua esposa.Rita estava abalada,não
estava tão preparada assim para cometer um assassinato.Jorge descarregou a arma em cima dela,muitos tiros na cabeça.Olhou para mim,tentou pegar a metralhadora de Rita mas eu fui mais rápido.Chutei a arma pra longe e sentei a porrada nele.
Não o matei.As pessoas mais inocentes no fim das contas morreram.E eu disse a ele:
"-Isso tudo.Toda essa merda é culpa sua!Você vai viver,por que quero ver você foder a família Braga.Mas agora,é bom saber como vai explicar tudo isso."
Não o deixei viver por compaixão.Espero que ele não se corrompa e pegue mesmo os Braga.É só por isso que o deixei viver.Ainda ajudei o maldito.Roubei o seu carro e algum dinheiro que ele tinha.Para polícia ele alegou que um assaltante
entrou lá,matou sua esposa e saiu fora.Eu levei o corpo de Kelly.Cavei uma cova suja no meio do mato e a enterrei.Um funeral digno de uma puta.Só que aquela mulher puta ou não,era a mulher que eu amei de verdade.Sei que ela não sentia a mesma coisa
por mim,mas e daí?Amar a quem te ama é fácil,é obrigação sua.Devemos amar quem não gosta da gente.Li isso uma vez em algum lugar,não lembro onde.Olha só pra mim um assassino incopentente.Pensei nisso enquanto voltava de Búzios.Recebi a grana
e não matei o cara.Porém Rita também não cumpriu o acordo.Pior,ela matou quem eu amava.Quantas pessoas que eram amadas e amavam também eu ja tirei a vida?Muitas.Isso me faz engolir o choro e pensar que a vida não é justa pra ninguém.Se sou um
assassino sujo e mercenário.Aceito meu destino.No fim das contas,quem eu matei se acerta comigo.Cada pessoa que eu mato me faz morrer por dentro.Me disseram certa vez num bar:"Quem vive pela espada,por ela morrerá."Sábias palavras.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Frases.
"A criatividade é uma maldição pra quem tem,mas parece uma benção para os que observam o produto dela."
"A inspiração vem quando se fecham os olhos do possível,abrindo assim a visão para o que não tem limites."
"As vezes o vazio me consome.Quando isso acontece,eu faço o mesmo com doses de vodka,as consumo."
"O tempo que passou não volta.É fraqueza querer se prender ao passado.O que me encomoda é saber que poderia ter sido diferente."
"A inspiração vem quando se fecham os olhos do possível,abrindo assim a visão para o que não tem limites."
"As vezes o vazio me consome.Quando isso acontece,eu faço o mesmo com doses de vodka,as consumo."
"O tempo que passou não volta.É fraqueza querer se prender ao passado.O que me encomoda é saber que poderia ter sido diferente."
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Guerreiro Tricolor
Na guerra é lembrado quem vence.
Pode haver honra na derrota.Eu mesmo
ja tive derrotas das quais não me envergonho,
por ter lutado até o fim,com garra e com raça.
Mas a vitória carrega o doce sabor.
Existem aqueles que desfrutam da vitória amarga,
sem honra e sem caráter.A glória deles é marcada
por guerreiros desonestos.O próprio capitão do
exército deles,hoje está encarando a justiça que lhe
bate a porta.Falo de maltrapilhos e mulambos.Homens
que não sabem o que é ser homem.Ser guerreiro.
Já foi dito que o bom guerreiro combate o bom combate.
O trabalho duro de uma campanha digna,marcada por lágrimas
sangue,suor e entrega,tanto física quanto emocional.Esse é o bom cambate.
Minhas vitórias nunca foram fáceis.Todas sofridas.Há quem diga:"Se não é sofrido
não é Fluminense."
Meus guerreiros são fiés em todo momento.Já me viram amargar derrotas arrasadoras.
Me viram tombar até o mais fundo que uma queda pode ser.Se envergonharam de meu nome?
Nunca!
Isso só fez reforçar nossa fidelidade.Os que ja eram dos nossos se tornaram mais leais
e os que não eram,passaram a ser,com a glória de nosso retorno.
Essa explosão de branco,verde e grená.Cada vez mais nos remete a paz,esperança e o vigor.
A disciplina do nosso guerreiro a todos fascina.
Todas as honras para o bom guerreiro;
o campeão que combateu cada luta como se fosse a decisão da guerra.
Salve aquele que é por tantas vezes campeão.
Fluminense!
Campeão Brasileiro de 2010.
Campeão Brasileiro de 2010.
sábado, 27 de novembro de 2010
Visões do Novo Século pt.1- "O Céu da Pátria Nesse Instante"
Hoje é 21 de Janeiro de 2025.Fazem dois anos que perdi minha mulher e filho em um acidente de automóvel.Ainda posso ouvi-lá
agonizar,basta fechar os olhos.Meu filho,morreu na hora.Minha esposa foi levada ao hospital,lá quando cheguei,pude ouvir seus gritos de dor
que ecoavam como um hino de louvor macabro.O destino é macabro.A vida não é justa,foi o que eu pensei.Mas com o passar do tempo eu entendi
que era melhor para as vidas inocentes dos dois,serem sacadas desse mundo.Para não correrem o risco de se corromperem com a podridão e
as injúrias dessa cidade imunda.Injustiça na verdade,era aquelas duas puras e amadas almas vivendo mais tempo no meio desse mundo horroroso
e corrúpto.Minha esposa Talita faria 52 anos se fosse viva e meu filho Fernando 19.Um homem enterrar a família é foda.
A necessidade de um desenvolvimento sustentável fez mudar a cara de nossas indústrias,nossa política e lógicamente o comportamento
individual de cada cidadão.
Inventaram o carro movido a eletricidade,Talita dirigia um quando dois maconheiros correndo vieram na contra mão.Eles estavam chapados e dirigiam
a 120km/h onde só era permitido até 80km/h.O que realmente mechia comigo era o fato de eles só terem sofrido algumas fraturas,enquanto minha família morreu.
Certo,as câmeras de segurança de uma loja ali perto do local filmaram tudo e os caras foram a julgamento.Estão vendo o Sol nascer quadrado agora,mas...Ah,
e daí?
Maconheiros.Eu poderia ser chamado de preconceituoso se disser isso no meio da rua.Em 2020 houve um referendo sobre a legalização do uso para o
lazer da cannabis sativa em sua forma refinada e preparada.A maconha como conhecemos,pronta para virar um baseado.Pra surpresa minha e de muita gente,
a maioria da população votou a favor da legalização.Ou seja,nosos jovens pretensos intelectuais,nossos artitstas,sejam eles atores,musicos,pintores,escritores e afins.
Droga,estou sendo preconceituoso de novo.Não importa quem tenha votado.
A legislação mudou,existem restrições para o uso da maconha.Não se pode fumar em local fechado,perto de crianças menores de 14 anos.Para comprar precisa
ter mais de 18 anos.Não se pode dirigir com um grau de THC elevado no organismo.Como na lei seca,existem aparelhos usados pelos oficiais para identificar o quão
emaconhado você está.Não obedecendo essas restrições você pode ficar na cadeia por até 5 anos ou pagar simplesmente uma multa,ou também pode dar seu cigarrinho para o
guarda e ele vai te aliviar na boa.Sem falar também no tráfico,que perdeu seu principal negócio para as lojas e supermacados que vendem cannabis.A procura por outras drogas nas
bocas de fumo são bem menores que pela maconha.O pó é que ainda é usado por seus fiéis cheiradores.Crack nem tanto.Todo mundo hoje em dia quer bancar o Bob Marley,até por que
é mais barato que uma dose de Wisky.O tráfico mudou,acho que agora tá mais pra máfia mesmo.Porque o crime nunca descansa.
A indústria do tabaco afundou,nicotina não se usa mais.O negócio agora,parceiro,é a verdinha.As empresas que migraram do tabaco pra cannabis se deram muito bem
e as que insistiram no tabaco se fuderam bonito.Tentaram incrementar com novos ingredientes que acabaram sendo considerados ilegais,quase inventaram uma nova droga.Muitos
empresários foram presos por isso.Dizem que alguns deles ainda fazem essa droga nova por aí,em esquinas e bocas de fumo.Se for o caso,o trafico de drogas vai voltar a crescer.
Na região nordeste daqui do Brasil,se produz a melhor e em maior quantidade a maconha.Temos a erva mais procurada do mundo.No Ceará principalmente,existem enormes
fazendas de cultivo de maconha,como era o café antigamente.Isso fortaleceu e muito a nossa economia.A exportação de maconha é nossa principal atividade.A qualidade de vida do brasileiro
é invejada em toda a américa do sul.Desde as Olimpíadas em 2016 e da Copa do Mundo em 2014 na qual o Brasil foi hexa campeão,não se vê o povo brasileiro tão satisfeito e orgulhoso de si.
E só passaram 5 anos,desde que a maconha foi liberada aqui no Brasil,no resto do mundo a maconha já é liberada desde de 2012.Acho que era isso que os Maias queriam dizer com fim do mundo
em 2012,a liberação global da maconha.A Terra não é mais o planeta azul,agora é verde.
Ainda existem muitas pessoas que são contra essa era de maconheiros que vivemos,eu sou um,por motivos óbvios.
Eu converso com um psicólogo desde o ocorrido com minha família.Eu finjo que me recupero e ele acredita.Acho que ele não é um bom profissional.Hoje teríamos consulta,mas recebi a
notícia de que ele foi assassinado ontem à noite,quando saía de seu consultório.Coitado,deve ter ajudado muita gente,curado muita gente,só não conseguiu me ajudar.Se ele tivesse me ajudado eu não
teria parado meu carro nesse momento no meio da ponte Rio-Niterói,determinado a dar um tiro na cabeça e deixar meu corpo cair no mar.Pelo menos a água foi tratada.A Baía de Guanabara agora
é como era quando os portugas andavam por aqui.Finalmente criaram tecnologia e logística para salvar o planeta em vez de fuder com ele.O único problema são os maconheiros.Sujando o mundo com
sua existência.E eu.Que já to cansado da minha própria existência.
Suícidio.É a fulga dos covardes?A escapatória dos fracos?Não sei,mas acho que a decisão que eu tomei a seguir foi pior do que a própria morte e até incoerente com o que eu vinha pregando.
Haviam inventado uma nova droga realmente,para concorrer com a maconha,era um tipo de nicotina com os elementos alucinógenos da cannabis.Se a maconha era o cigarro do demônio eu
não quero nem imaginar quem iventou essa merda.Se chamava "Spank" e eu não sei o que quer dizer essa palavra,algo como espancar talvez,sei lá.Só sei que um cara doidão disso era de dar medo.
Spank destruia seus neurônios mais rápido do que o baseado comum.E não sei se eu já mencionei,mas o Ministério da Saúde determinou para o uso da maconha,o controle e a diminuição do THC,
fingindo estar preocupado com a saúde dos consumidores.Uma tremenda balela!É tudo sobre dinheiro.A legalização trouxe uma movimentação de capital grandiosa para o mundo.Foda-se a saúde.O
alcool que destrói tantas partes específicas dos seus orgãos internos é vendido a anos legalmente por isso.Por que dá dinheiro!E quanto mais um sujeito fica intorpecido por components químicos
mais o cérebro dele fica corroído.Isso é bom pra quem suja as ruas com todo esse lixo.
Enfim,quando eu estava na beirada da ponte,com o cano da 9mm dentro da boca,pronto para dar um tiro mortal,chegou o cara.Ele disse que tava passando devagar por ali,era de madrugada não
tinha quase carro na ponte.Ele me disse que tinha uma coisa melhor pra mim do que a morte.E que não importava os motivos que eu tinha pra querer me matar.Um homem com tal coragem era o que ele precisava.
Eu tava cagando e andando pro que aquele sujeito falava.Mas fui com ele.De fato eu não era tão corajoso pra me matar ou covarde o bastante pra fugir dos meus desgostos.Eu ia fazer aquilo por impulso mesmo.
Aquele homem era o antigo sócio da filial brasileira da Marlboro.É,aquele cigarro do cowboy.Hoje ele tava recrutando gente para seu novo negócio.A venda,produção e destribuição de spank nas ruas.
Como vinha dizendo,tomei a decisão mais contraditória possível.O que me confortava era que eu tava tentando ferrar a indústria verde.Com algo até pior.Mas quando entrei eu só pensava nisso.
Pouco tempo depois eu já tinha que me esforçar e muito pra lembrar o nome da minha mulher e filho.O lucro era grande.Essa porcaria viciava muito mais rápido do que qualquer coisa que eu ja tinha visto.Os viciados
vinham em peso e a máfia agradeceu.O tráfico saiu das favelas e foi se organizar nos casarões de empresários quase falidos.Finalmente podemos ver o quão revolucionário é o século 21.Minha vida deu um giro drástico
em poucos meses.Minha vida,minha mente,minhas convicções.
Meu nome é Antônio Braga.Sou um dos cabeças do maior cartel de drogas que esse país já viu.E a minha vida mostra como se faz pra criar um monstro.Um somatório da incompetência
do estado com minha fraqueza individual.
agonizar,basta fechar os olhos.Meu filho,morreu na hora.Minha esposa foi levada ao hospital,lá quando cheguei,pude ouvir seus gritos de dor
que ecoavam como um hino de louvor macabro.O destino é macabro.A vida não é justa,foi o que eu pensei.Mas com o passar do tempo eu entendi
que era melhor para as vidas inocentes dos dois,serem sacadas desse mundo.Para não correrem o risco de se corromperem com a podridão e
as injúrias dessa cidade imunda.Injustiça na verdade,era aquelas duas puras e amadas almas vivendo mais tempo no meio desse mundo horroroso
e corrúpto.Minha esposa Talita faria 52 anos se fosse viva e meu filho Fernando 19.Um homem enterrar a família é foda.
A necessidade de um desenvolvimento sustentável fez mudar a cara de nossas indústrias,nossa política e lógicamente o comportamento
individual de cada cidadão.
Inventaram o carro movido a eletricidade,Talita dirigia um quando dois maconheiros correndo vieram na contra mão.Eles estavam chapados e dirigiam
a 120km/h onde só era permitido até 80km/h.O que realmente mechia comigo era o fato de eles só terem sofrido algumas fraturas,enquanto minha família morreu.
Certo,as câmeras de segurança de uma loja ali perto do local filmaram tudo e os caras foram a julgamento.Estão vendo o Sol nascer quadrado agora,mas...Ah,
e daí?
Maconheiros.Eu poderia ser chamado de preconceituoso se disser isso no meio da rua.Em 2020 houve um referendo sobre a legalização do uso para o
lazer da cannabis sativa em sua forma refinada e preparada.A maconha como conhecemos,pronta para virar um baseado.Pra surpresa minha e de muita gente,
a maioria da população votou a favor da legalização.Ou seja,nosos jovens pretensos intelectuais,nossos artitstas,sejam eles atores,musicos,pintores,escritores e afins.
Droga,estou sendo preconceituoso de novo.Não importa quem tenha votado.
A legislação mudou,existem restrições para o uso da maconha.Não se pode fumar em local fechado,perto de crianças menores de 14 anos.Para comprar precisa
ter mais de 18 anos.Não se pode dirigir com um grau de THC elevado no organismo.Como na lei seca,existem aparelhos usados pelos oficiais para identificar o quão
emaconhado você está.Não obedecendo essas restrições você pode ficar na cadeia por até 5 anos ou pagar simplesmente uma multa,ou também pode dar seu cigarrinho para o
guarda e ele vai te aliviar na boa.Sem falar também no tráfico,que perdeu seu principal negócio para as lojas e supermacados que vendem cannabis.A procura por outras drogas nas
bocas de fumo são bem menores que pela maconha.O pó é que ainda é usado por seus fiéis cheiradores.Crack nem tanto.Todo mundo hoje em dia quer bancar o Bob Marley,até por que
é mais barato que uma dose de Wisky.O tráfico mudou,acho que agora tá mais pra máfia mesmo.Porque o crime nunca descansa.
A indústria do tabaco afundou,nicotina não se usa mais.O negócio agora,parceiro,é a verdinha.As empresas que migraram do tabaco pra cannabis se deram muito bem
e as que insistiram no tabaco se fuderam bonito.Tentaram incrementar com novos ingredientes que acabaram sendo considerados ilegais,quase inventaram uma nova droga.Muitos
empresários foram presos por isso.Dizem que alguns deles ainda fazem essa droga nova por aí,em esquinas e bocas de fumo.Se for o caso,o trafico de drogas vai voltar a crescer.
Na região nordeste daqui do Brasil,se produz a melhor e em maior quantidade a maconha.Temos a erva mais procurada do mundo.No Ceará principalmente,existem enormes
fazendas de cultivo de maconha,como era o café antigamente.Isso fortaleceu e muito a nossa economia.A exportação de maconha é nossa principal atividade.A qualidade de vida do brasileiro
é invejada em toda a américa do sul.Desde as Olimpíadas em 2016 e da Copa do Mundo em 2014 na qual o Brasil foi hexa campeão,não se vê o povo brasileiro tão satisfeito e orgulhoso de si.
E só passaram 5 anos,desde que a maconha foi liberada aqui no Brasil,no resto do mundo a maconha já é liberada desde de 2012.Acho que era isso que os Maias queriam dizer com fim do mundo
em 2012,a liberação global da maconha.A Terra não é mais o planeta azul,agora é verde.
Ainda existem muitas pessoas que são contra essa era de maconheiros que vivemos,eu sou um,por motivos óbvios.
Eu converso com um psicólogo desde o ocorrido com minha família.Eu finjo que me recupero e ele acredita.Acho que ele não é um bom profissional.Hoje teríamos consulta,mas recebi a
notícia de que ele foi assassinado ontem à noite,quando saía de seu consultório.Coitado,deve ter ajudado muita gente,curado muita gente,só não conseguiu me ajudar.Se ele tivesse me ajudado eu não
teria parado meu carro nesse momento no meio da ponte Rio-Niterói,determinado a dar um tiro na cabeça e deixar meu corpo cair no mar.Pelo menos a água foi tratada.A Baía de Guanabara agora
é como era quando os portugas andavam por aqui.Finalmente criaram tecnologia e logística para salvar o planeta em vez de fuder com ele.O único problema são os maconheiros.Sujando o mundo com
sua existência.E eu.Que já to cansado da minha própria existência.
Suícidio.É a fulga dos covardes?A escapatória dos fracos?Não sei,mas acho que a decisão que eu tomei a seguir foi pior do que a própria morte e até incoerente com o que eu vinha pregando.
Haviam inventado uma nova droga realmente,para concorrer com a maconha,era um tipo de nicotina com os elementos alucinógenos da cannabis.Se a maconha era o cigarro do demônio eu
não quero nem imaginar quem iventou essa merda.Se chamava "Spank" e eu não sei o que quer dizer essa palavra,algo como espancar talvez,sei lá.Só sei que um cara doidão disso era de dar medo.
Spank destruia seus neurônios mais rápido do que o baseado comum.E não sei se eu já mencionei,mas o Ministério da Saúde determinou para o uso da maconha,o controle e a diminuição do THC,
fingindo estar preocupado com a saúde dos consumidores.Uma tremenda balela!É tudo sobre dinheiro.A legalização trouxe uma movimentação de capital grandiosa para o mundo.Foda-se a saúde.O
alcool que destrói tantas partes específicas dos seus orgãos internos é vendido a anos legalmente por isso.Por que dá dinheiro!E quanto mais um sujeito fica intorpecido por components químicos
mais o cérebro dele fica corroído.Isso é bom pra quem suja as ruas com todo esse lixo.
Enfim,quando eu estava na beirada da ponte,com o cano da 9mm dentro da boca,pronto para dar um tiro mortal,chegou o cara.Ele disse que tava passando devagar por ali,era de madrugada não
tinha quase carro na ponte.Ele me disse que tinha uma coisa melhor pra mim do que a morte.E que não importava os motivos que eu tinha pra querer me matar.Um homem com tal coragem era o que ele precisava.
Eu tava cagando e andando pro que aquele sujeito falava.Mas fui com ele.De fato eu não era tão corajoso pra me matar ou covarde o bastante pra fugir dos meus desgostos.Eu ia fazer aquilo por impulso mesmo.
Aquele homem era o antigo sócio da filial brasileira da Marlboro.É,aquele cigarro do cowboy.Hoje ele tava recrutando gente para seu novo negócio.A venda,produção e destribuição de spank nas ruas.
Como vinha dizendo,tomei a decisão mais contraditória possível.O que me confortava era que eu tava tentando ferrar a indústria verde.Com algo até pior.Mas quando entrei eu só pensava nisso.
Pouco tempo depois eu já tinha que me esforçar e muito pra lembrar o nome da minha mulher e filho.O lucro era grande.Essa porcaria viciava muito mais rápido do que qualquer coisa que eu ja tinha visto.Os viciados
vinham em peso e a máfia agradeceu.O tráfico saiu das favelas e foi se organizar nos casarões de empresários quase falidos.Finalmente podemos ver o quão revolucionário é o século 21.Minha vida deu um giro drástico
em poucos meses.Minha vida,minha mente,minhas convicções.
Meu nome é Antônio Braga.Sou um dos cabeças do maior cartel de drogas que esse país já viu.E a minha vida mostra como se faz pra criar um monstro.Um somatório da incompetência
do estado com minha fraqueza individual.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Filosofias Boêmias
O bar está fechando,mas entra um engravatado de meia idade fumando um charuto.Henrique está quase afogado numa garrafa de vodca.
O homem pede duas cervejas e pergunta se pode se sentar a mesa com Henrique.Com a visão turva Henrique olha para o sujeito.
Um homem de terno e bem aparentado.O jovem Henrique responde:
"-A menos que você seja o Diabo querendo me comprar a alma,sente-se."
"-Puxa,estou aparentemente pior do que eu imaginei,a ponto de ser confundido com senhor das almas danadas."
"-Há!"Senhor das almas danadas."É filósofo?Ou poeta?"
"-Suas deduções deixam a desejar.Errou as três que tentou até agora.Pode justificá-las?"
"-Poetas e filósofos involuntáriamente jogam pérolas aos porcos,como você fez agora,exacerbando seu prentensioso
vocabulário.E eu vi "O Advogado do Diabo",uma bela atuação de Al Pacino,vale ressaltar.Você,com esse seu terninho italiano está
bem no esteriótipo do anjo rebelde moderno.Além de tudo isso,não seria estranho se o mesmo viesse me aborrecer a esta altura."
"-São justificativas consideráveis,apesar de errôneas.Garoto,por acaso anda esperando tal visita?"
"-Não foi o que eu disse."
"-Eu ouvi o que você disse.Posso me sentar ou não?"
"-Já está com duas cervejas na mão,veio aqui na esperança de convecer alguém a beber contigo.Quer conversar sobre seus
problemas,vá a um psicólogo."
"-Não acredito em psicologia..."
"-Há! Quando eu digo isso,as pessoas me chamam de ignorante.Meu psicólogo é essa cristalina garrafa de vodca! Sente-se,bom homem,
vamos então filosofar!"
"-Sento-me então e lhe oferto essa cerveja em agradecimento pela companhia de sua jovialidade,que fora preconcemente perdida por mim.
A que idade está jovem?"
"-Idade...Sabe que existem crianças carentes que antes mesmo da puberdade ja viveram muito mais que homens feitos,porém nascidos em berço de ouro?
A sua idade está na sua mente e no seu agir.Que tal pularmos a idade e irmos para apresentações?Sou Henrique não estudo,não trabalho.Quem és tu?Homem de
negócios?"
"-Agora acertou.Veja meu cartão."
"-Realmente gostaria,mas creio que estou mais embreagado do que aparento.Meus olhos me traem e as letras desse cartão parecem inquientas como um cardume.
Deixa ver...Dr. Augusto.Poderia apagar seu cigarro Augusto?Odeio o maldito cheiro dessa fumaça."
"-Não é cigarro.É um charuto e é cubano."
"-Nossa,muito bem observado.Lamento não ter feito tal distinção.Também pudera,meia garrafa de vodca me dobra como um trator dobra concreto."
"-Vamos igualar então essa situação.Passe-me a vodca."
"-É um mestre.Num gole fez sumir o restante do ardente líquido."
"-Ah...Sim,Henrique.Estaremos em situação parecida em poucos segundos.Explique-me,a que motivos se devem sua bebedeira,vou lhe adiantar meus motivos
para tonar justa minha indagação..."
"-Não faça isso,viemos aqui para esquecermos frustações.Ignorá-las com covardia simplesmente.Não para reavivarmos quaisquer que sejam nossas tribulações.
O que é a embreaguez,se não a fuga de uma realidade muitas vezes ruim?Porém existem os momentos em que bebemos de felicidade.Para aumentarmos nosso prazer
e estado de glória.Entretanto,os motivos que nos trazem ambos sozinhos para cá,evidentemente são os da primeira opção que sugeri."
"-Com toda certeza. Hump!(soluços).Vou lhe ser sincero,menino.Existem questões que são mistérios para a humanidade.Você sabe me dizer por que índios não têm barba?"
"-Talvez Darwin explique..."
"-Tem visto Darwin ultimamente?"
"-Temo que não..."
"-...Eis a questão!"
"-Hamlet."
"-Não,Shakespeare.Afinal o autor pensa antes de escrever,certo?Logo ele pensou antes do personagem."
"-É,tens razão.Você bebeu o resto de minha vodca e a cerveja que me trouxe já se esgotou.Não posso tecer um pensamento digno sem mais desse líquido que lubrifica minha mente."
"-Garçom,mais duas cervejas.Podemos prosseguir?"
"-Certamente.Sobre o que falávamos,Agusto?"
"-Sobre a felicidade,caro Henrique.Já experimentou da dita cuja?"
"-Seria ela um mero estado passageiro ou seja,variável e momentânea,ou seria uma constante,algo que se possa obter para sempre,que mesmo alternada por tristezas e demais emoções
opostas,esteja fixada como uma tatuagem na pele de um skinhead?Creio que já a experimentei,durante meses,enquanto estive com ela...Isso lhe afirmo."
"-Uma mulher! Que outro motivo faria um jovem viver como um velho?Mas enfim...respeitarei sua privacidade."
"-Ficarei grato com isso."
"-Pois bem Henrique.Direi o que é a felicidade.Confundida muitas vezes com alegria,paixão e prazer.Porém,esses são estados temporários como você havia dito anteriormente.A felicidade não.
Ela só pode ser definitiva.Não deixando assim de ser um estado de espírito,mas porém mesmo estando na mesma condiçao de tal,é duradoura.Contentamento e alegria,é o que muitos sentem e chamam
de felicidade.Não cabe a mim definir o que você sentiu.Mas eu lhe digo.Sou um homem feliz,mas estou momentaneamente frustrado.Tenho certeza de que entendeu minhas palavras,estou certo?"
"-Sim,está.Apesar de bêbedo consigo entender sua prosa.Afinal,como eu,você é o típico alcólatra que estando tonto,confuso e impulsivo,consegue dissertar e falar bem sem embolar as palavras
que seu cérero expele pela sua boca,mesmo que não faça sentido."
"-Em suma,todas as sensações que remetem a felicidade são buscadas diariamente por cada ser humano,ao longo de toda a sua existência."
"-Quem em sã conciência diria que não deseja felicidade,Dr.Augusto?"
"-De fato,onde estaria o homem se não fosse ao menos capaz de procurar sua plenitude?"
"-Dante Alighieri nos responderá,Dr.,com sua obra prima da literatura mundial:
"VAI-SE POR MIM A CIDADE DOLENTE,
VAI-SE POR MIM A SEMPITERNA DOR,
VAI-SE POR MIM ENTRE A PERDIDA GENTE.
MOVEU JUSTIÇA O MEU ALTO FEITOR,
FEZ-ME A DIVINA POTESTADE,MAIS
O SUPREMO SABER E O PRIMO AMOR.
ANTES DE MIM NÃO FOI CRIADO MAIS
NADA SENÃO ETERNO,E ETERNA EU DURO.
DEIXAI A ESPERANÇA,Ó VÓS QUE ENTRAIS."
"-Provavelmente é onde estaríamos condenados,jovem Henrique.E leríamos também nós,esses dizeres dois quais acaba de citar.Assim como Dante leu ao chegar na porta do Inferno,tais inscrições que lá se
encontram.No átrio do inferno,onde são punidos os ingnavos;os que não fizeram o Mal,mas foram relaxados na escolha do Bem.Estariam lá também os ignorantes que foram relaxados na busca pelo saber e pela própria
felicidade?Por nos fazer filosofar então,proponho um brinde "A Divina Comédia" de Dante!"
"-Entendeu meu ponto!Brindemos,então!"
"-Cabe a nós iludir nossa tristeza quando ela nos bater a porta.E buscarmos a felicidade sem perder a esperança!"
"-Belas palavras,garoto.Aliada a felicidade o que devemos buscar igualmente?"
"-O saber!Devemos aprender a todo momento.A vida deve ser baseada na busca pelo conhecimento."
"-E como se busca o saber,Henrique?"
"-Buscando a verdade,o saber é a verdade incontestavel!"
"-E quem detém todo o saber?"
"-Deus?"
"-Exatamente!Você me orgulha rapaz.Você crê na existência do ser que possui todo o conhecimento?"
"-É aceitavel...mas não foi provado ainda..."
"-Farei isso por você.Te darei argumentos,jovem filósofo."
"-Ah! Estou dando ouvidos a um bêbado! E não me chames de filósofo."
"-Cala-te e ouvi-me.Defenderei uma tese de Tomás de Aquino.Ele se utilizou do pressuposto de "movimento".Partindo da idéia de que tudo que se move é movido por outro.
Pois bem,raciocina-se:"se aquilo pelo qual é movido por sua vez se move,é preciso que também ele seja movido por outra coisa e esta por outra.Mas não é possível continuar ao infinito;do contrário,não
haveria primeiro motor e nem mesmo os outros motores moveriam como,por exemplo,o bastão não move se não é movido pela mão.
Portanto,é preciso chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum outro, e por este todos entendem Deus." "
"-Muito vago o seu argumento."
"-Vou apresentar outra prova baseada em raciocínio,basta pensar pra você constatar a existência de Deus:
"Constatamos no mundo sensível a existência de causas eficientes. É, entretanto, impossível que uma coisa seja sua própria causa eficiente, porque, se assim fosse, esta coisa existiria antes de existir, o que não tem nenhum sentido.
Ora, não é possível proceder até o infinito na série de causas eficientes, porque, em qualquer série de causas ordenadas, a primeira é causa intermediária e esta é causa da última, quer haja uma ou várias causas intermediárias.
Com efeito, se suprimirdes a causa, fareis desaparecer o efeito: portanto, se não há causa primeira, não haverá nem última, nem intermediária. Ora, se fosse regredir até o infinito dentro da série de causas eficientes, não haveria causa primeira,
e, assim, não haveria também nem efeito, nem causas intermediárias, o que é evidentemente falso. Portanto, é preciso, por necessidade, colocar uma causa primeira que todo o mundo chama Deus”.
Essas palavras não são minhas Henrique,são de Tomás de Aquino que dedicou sua vida ao estudo e a filosofia."
"-Certo,sei que você não espera mudar minha forma de pensar assim de uma maneira tão repentina.Eu conheço muitos estudos que apresentam a existência de um "criador".Porém vejo que provavelmente você segue uma
orientação religiosa.Eu tentarei desafiar suas convicções,dizendo: "Se Deus existe e criou todos as coisas,Ele é mal.Pois criou o Mal e permite o sofrimento a todos nós."
"-Convicções...Você vai me perdoar por mais uma vez eu ter que lhe provar o contrário usando palavras que não são minhas.Usarei as palavras que alguns dizem ser de Albert Einstein.Com isso lhe pergunto Henrique,o frio existe?"
"-Mesmo estando bêbado,eu posso senti-lo,logo,sim o frio existe meu caro."
"-Na verdade meu jovem,o frio não existe.De acordo com as leis da física,o que chamamos "frio" é na realidade a ausência de calor.E a escuridão?Ela existe?"
"-Claro que existe,seu coroa pinguço!"
"-Você está enganado.A escuridão também não existe.Ela é na realidade a ausência de luz.A luz nós podemos estudar mas não podemos o mesmo com a escuridão.Deus não criou o mal.O mal é o resultado do que acontece na ausência de Deus."
"-Humpf...Eu preciso de mais uma dose."
"-Se fizer isso,certamente entrará em coma,rapaz.E eu te acompanharei.Garçom! Traga-me duas doses do seu melhor conhaque!"
"-Ah...antes desse último gole de lucidez,vejamos a que ponto chegamos...sobre o que conversávamos mesmo?"
"-Al Pacino,Darwin,Shakespeare,Dante,Aquino....Falamos de artes,filosofia e não consigo lembrar do que mais...Mas estou certo de que a conclusão que chegamos é a de que precisamos de momentos como este,de realidade suspensa,melhor fazer isso com alcóol.
Pode parecer fraqueza mas nada melhor do que limpar a mente e começar do zero."
"-Que prazer conversar com você Dr.Augusto.Foi como formatar meu HD.Bebamos no três: um!"
"-Dois!"
"-Três!"
Glup! Ambos viram todo o conhaque em um único gole.Henrique acorda na calçada,horas depois.Agusto desapareceu.As únicas coisas que fazem Henrique ter certeza de que viveu tudo o que lhe diz a memória turva,são um cartão de um empresário chamado Augusto e uma
dor de cabeça dignamente platônica.
O homem pede duas cervejas e pergunta se pode se sentar a mesa com Henrique.Com a visão turva Henrique olha para o sujeito.
Um homem de terno e bem aparentado.O jovem Henrique responde:
"-A menos que você seja o Diabo querendo me comprar a alma,sente-se."
"-Puxa,estou aparentemente pior do que eu imaginei,a ponto de ser confundido com senhor das almas danadas."
"-Há!"Senhor das almas danadas."É filósofo?Ou poeta?"
"-Suas deduções deixam a desejar.Errou as três que tentou até agora.Pode justificá-las?"
"-Poetas e filósofos involuntáriamente jogam pérolas aos porcos,como você fez agora,exacerbando seu prentensioso
vocabulário.E eu vi "O Advogado do Diabo",uma bela atuação de Al Pacino,vale ressaltar.Você,com esse seu terninho italiano está
bem no esteriótipo do anjo rebelde moderno.Além de tudo isso,não seria estranho se o mesmo viesse me aborrecer a esta altura."
"-São justificativas consideráveis,apesar de errôneas.Garoto,por acaso anda esperando tal visita?"
"-Não foi o que eu disse."
"-Eu ouvi o que você disse.Posso me sentar ou não?"
"-Já está com duas cervejas na mão,veio aqui na esperança de convecer alguém a beber contigo.Quer conversar sobre seus
problemas,vá a um psicólogo."
"-Não acredito em psicologia..."
"-Há! Quando eu digo isso,as pessoas me chamam de ignorante.Meu psicólogo é essa cristalina garrafa de vodca! Sente-se,bom homem,
vamos então filosofar!"
"-Sento-me então e lhe oferto essa cerveja em agradecimento pela companhia de sua jovialidade,que fora preconcemente perdida por mim.
A que idade está jovem?"
"-Idade...Sabe que existem crianças carentes que antes mesmo da puberdade ja viveram muito mais que homens feitos,porém nascidos em berço de ouro?
A sua idade está na sua mente e no seu agir.Que tal pularmos a idade e irmos para apresentações?Sou Henrique não estudo,não trabalho.Quem és tu?Homem de
negócios?"
"-Agora acertou.Veja meu cartão."
"-Realmente gostaria,mas creio que estou mais embreagado do que aparento.Meus olhos me traem e as letras desse cartão parecem inquientas como um cardume.
Deixa ver...Dr. Augusto.Poderia apagar seu cigarro Augusto?Odeio o maldito cheiro dessa fumaça."
"-Não é cigarro.É um charuto e é cubano."
"-Nossa,muito bem observado.Lamento não ter feito tal distinção.Também pudera,meia garrafa de vodca me dobra como um trator dobra concreto."
"-Vamos igualar então essa situação.Passe-me a vodca."
"-É um mestre.Num gole fez sumir o restante do ardente líquido."
"-Ah...Sim,Henrique.Estaremos em situação parecida em poucos segundos.Explique-me,a que motivos se devem sua bebedeira,vou lhe adiantar meus motivos
para tonar justa minha indagação..."
"-Não faça isso,viemos aqui para esquecermos frustações.Ignorá-las com covardia simplesmente.Não para reavivarmos quaisquer que sejam nossas tribulações.
O que é a embreaguez,se não a fuga de uma realidade muitas vezes ruim?Porém existem os momentos em que bebemos de felicidade.Para aumentarmos nosso prazer
e estado de glória.Entretanto,os motivos que nos trazem ambos sozinhos para cá,evidentemente são os da primeira opção que sugeri."
"-Com toda certeza. Hump!(soluços).Vou lhe ser sincero,menino.Existem questões que são mistérios para a humanidade.Você sabe me dizer por que índios não têm barba?"
"-Talvez Darwin explique..."
"-Tem visto Darwin ultimamente?"
"-Temo que não..."
"-...Eis a questão!"
"-Hamlet."
"-Não,Shakespeare.Afinal o autor pensa antes de escrever,certo?Logo ele pensou antes do personagem."
"-É,tens razão.Você bebeu o resto de minha vodca e a cerveja que me trouxe já se esgotou.Não posso tecer um pensamento digno sem mais desse líquido que lubrifica minha mente."
"-Garçom,mais duas cervejas.Podemos prosseguir?"
"-Certamente.Sobre o que falávamos,Agusto?"
"-Sobre a felicidade,caro Henrique.Já experimentou da dita cuja?"
"-Seria ela um mero estado passageiro ou seja,variável e momentânea,ou seria uma constante,algo que se possa obter para sempre,que mesmo alternada por tristezas e demais emoções
opostas,esteja fixada como uma tatuagem na pele de um skinhead?Creio que já a experimentei,durante meses,enquanto estive com ela...Isso lhe afirmo."
"-Uma mulher! Que outro motivo faria um jovem viver como um velho?Mas enfim...respeitarei sua privacidade."
"-Ficarei grato com isso."
"-Pois bem Henrique.Direi o que é a felicidade.Confundida muitas vezes com alegria,paixão e prazer.Porém,esses são estados temporários como você havia dito anteriormente.A felicidade não.
Ela só pode ser definitiva.Não deixando assim de ser um estado de espírito,mas porém mesmo estando na mesma condiçao de tal,é duradoura.Contentamento e alegria,é o que muitos sentem e chamam
de felicidade.Não cabe a mim definir o que você sentiu.Mas eu lhe digo.Sou um homem feliz,mas estou momentaneamente frustrado.Tenho certeza de que entendeu minhas palavras,estou certo?"
"-Sim,está.Apesar de bêbedo consigo entender sua prosa.Afinal,como eu,você é o típico alcólatra que estando tonto,confuso e impulsivo,consegue dissertar e falar bem sem embolar as palavras
que seu cérero expele pela sua boca,mesmo que não faça sentido."
"-Em suma,todas as sensações que remetem a felicidade são buscadas diariamente por cada ser humano,ao longo de toda a sua existência."
"-Quem em sã conciência diria que não deseja felicidade,Dr.Augusto?"
"-De fato,onde estaria o homem se não fosse ao menos capaz de procurar sua plenitude?"
"-Dante Alighieri nos responderá,Dr.,com sua obra prima da literatura mundial:
"VAI-SE POR MIM A CIDADE DOLENTE,
VAI-SE POR MIM A SEMPITERNA DOR,
VAI-SE POR MIM ENTRE A PERDIDA GENTE.
MOVEU JUSTIÇA O MEU ALTO FEITOR,
FEZ-ME A DIVINA POTESTADE,MAIS
O SUPREMO SABER E O PRIMO AMOR.
ANTES DE MIM NÃO FOI CRIADO MAIS
NADA SENÃO ETERNO,E ETERNA EU DURO.
DEIXAI A ESPERANÇA,Ó VÓS QUE ENTRAIS."
"-Provavelmente é onde estaríamos condenados,jovem Henrique.E leríamos também nós,esses dizeres dois quais acaba de citar.Assim como Dante leu ao chegar na porta do Inferno,tais inscrições que lá se
encontram.No átrio do inferno,onde são punidos os ingnavos;os que não fizeram o Mal,mas foram relaxados na escolha do Bem.Estariam lá também os ignorantes que foram relaxados na busca pelo saber e pela própria
felicidade?Por nos fazer filosofar então,proponho um brinde "A Divina Comédia" de Dante!"
"-Entendeu meu ponto!Brindemos,então!"
"-Cabe a nós iludir nossa tristeza quando ela nos bater a porta.E buscarmos a felicidade sem perder a esperança!"
"-Belas palavras,garoto.Aliada a felicidade o que devemos buscar igualmente?"
"-O saber!Devemos aprender a todo momento.A vida deve ser baseada na busca pelo conhecimento."
"-E como se busca o saber,Henrique?"
"-Buscando a verdade,o saber é a verdade incontestavel!"
"-E quem detém todo o saber?"
"-Deus?"
"-Exatamente!Você me orgulha rapaz.Você crê na existência do ser que possui todo o conhecimento?"
"-É aceitavel...mas não foi provado ainda..."
"-Farei isso por você.Te darei argumentos,jovem filósofo."
"-Ah! Estou dando ouvidos a um bêbado! E não me chames de filósofo."
"-Cala-te e ouvi-me.Defenderei uma tese de Tomás de Aquino.Ele se utilizou do pressuposto de "movimento".Partindo da idéia de que tudo que se move é movido por outro.
Pois bem,raciocina-se:"se aquilo pelo qual é movido por sua vez se move,é preciso que também ele seja movido por outra coisa e esta por outra.Mas não é possível continuar ao infinito;do contrário,não
haveria primeiro motor e nem mesmo os outros motores moveriam como,por exemplo,o bastão não move se não é movido pela mão.
Portanto,é preciso chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum outro, e por este todos entendem Deus." "
"-Muito vago o seu argumento."
"-Vou apresentar outra prova baseada em raciocínio,basta pensar pra você constatar a existência de Deus:
"Constatamos no mundo sensível a existência de causas eficientes. É, entretanto, impossível que uma coisa seja sua própria causa eficiente, porque, se assim fosse, esta coisa existiria antes de existir, o que não tem nenhum sentido.
Ora, não é possível proceder até o infinito na série de causas eficientes, porque, em qualquer série de causas ordenadas, a primeira é causa intermediária e esta é causa da última, quer haja uma ou várias causas intermediárias.
Com efeito, se suprimirdes a causa, fareis desaparecer o efeito: portanto, se não há causa primeira, não haverá nem última, nem intermediária. Ora, se fosse regredir até o infinito dentro da série de causas eficientes, não haveria causa primeira,
e, assim, não haveria também nem efeito, nem causas intermediárias, o que é evidentemente falso. Portanto, é preciso, por necessidade, colocar uma causa primeira que todo o mundo chama Deus”.
Essas palavras não são minhas Henrique,são de Tomás de Aquino que dedicou sua vida ao estudo e a filosofia."
"-Certo,sei que você não espera mudar minha forma de pensar assim de uma maneira tão repentina.Eu conheço muitos estudos que apresentam a existência de um "criador".Porém vejo que provavelmente você segue uma
orientação religiosa.Eu tentarei desafiar suas convicções,dizendo: "Se Deus existe e criou todos as coisas,Ele é mal.Pois criou o Mal e permite o sofrimento a todos nós."
"-Convicções...Você vai me perdoar por mais uma vez eu ter que lhe provar o contrário usando palavras que não são minhas.Usarei as palavras que alguns dizem ser de Albert Einstein.Com isso lhe pergunto Henrique,o frio existe?"
"-Mesmo estando bêbado,eu posso senti-lo,logo,sim o frio existe meu caro."
"-Na verdade meu jovem,o frio não existe.De acordo com as leis da física,o que chamamos "frio" é na realidade a ausência de calor.E a escuridão?Ela existe?"
"-Claro que existe,seu coroa pinguço!"
"-Você está enganado.A escuridão também não existe.Ela é na realidade a ausência de luz.A luz nós podemos estudar mas não podemos o mesmo com a escuridão.Deus não criou o mal.O mal é o resultado do que acontece na ausência de Deus."
"-Humpf...Eu preciso de mais uma dose."
"-Se fizer isso,certamente entrará em coma,rapaz.E eu te acompanharei.Garçom! Traga-me duas doses do seu melhor conhaque!"
"-Ah...antes desse último gole de lucidez,vejamos a que ponto chegamos...sobre o que conversávamos mesmo?"
"-Al Pacino,Darwin,Shakespeare,Dante,Aquino....Falamos de artes,filosofia e não consigo lembrar do que mais...Mas estou certo de que a conclusão que chegamos é a de que precisamos de momentos como este,de realidade suspensa,melhor fazer isso com alcóol.
Pode parecer fraqueza mas nada melhor do que limpar a mente e começar do zero."
"-Que prazer conversar com você Dr.Augusto.Foi como formatar meu HD.Bebamos no três: um!"
"-Dois!"
"-Três!"
Glup! Ambos viram todo o conhaque em um único gole.Henrique acorda na calçada,horas depois.Agusto desapareceu.As únicas coisas que fazem Henrique ter certeza de que viveu tudo o que lhe diz a memória turva,são um cartão de um empresário chamado Augusto e uma
dor de cabeça dignamente platônica.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Temores De Uma Geração
Em janeiro de 1967 eu comecei a estagiar em um jornal de caráter duvidoso no Rio de Janeiro.E em 31 de março de 1964,três anos antes,houve um golpe contra o Presidente da Repúplica,João Goulart.
O golpe de Estado marcou a influência política do Exército Brasileiro e a sua determinação de tomar o poder do país ao abrigo de uma doutrina de segurança nacional.Quem assumiu o cargo máximo
da nação foi o Marechal Castello Branco,com a queda de Goulart.
Foi um período drástico de mudanças,não só para o país,pra minha pessoa também.Eu tinha acabado de completar meus estudos,na busca por um emprego e com pouca formação acadêmica,entrei
na gráfica do jornal.Não era muito "saudável" trabalhar em um jornal naquele período,mas eu precisava de grana,na verdade,todo mundo precisa de grana.Mas eu queria grana porque estava muito afim de
comprar um carro.Queria impressionar minha namorada,Talita.Não que eu precise impressioná-la mas eu quero fazer isso.Amor de mulher tem de ser renovado a cada minuto.
O jornal se chamava "Diário Nacional".E todos os colunistas,formadores de opinião,mamavam nas tetas do governo ou simplesmente tinham medo de bater de frente com a constituição atual.Era uma época
estranha,o exército e a polícia militar tinham muitos direitos,como o de te prender e torturar por você ser suspeito,agora suspeito de que não sei.Não sou antenado nos assuntos politicos,mas trabalho em um jornal,
acabo lendo quando o papel acaba de sair da prensa.Era essa a situação em que as coisas se encontravam.
Hoje irei encontrar Talita.Nos conhecemos na escola.Terminamos no fim do ano,na festa de formatura,onde bebi demais,coisa que nunca tinha feito antes.Acabei dançando com outra menina,é incrível como o fato
de você estar namorando,atrai mais mulheres pra você,acho que elas fazem isso para se provocar.A menina com a qual eu dancei me beijou,Talita não viu mas suas amigas viram,foi uma tragédia.O amor de uma mulher
se transforma em ódio com uma facilidade tremenda.Descobri isso já bem jovem,mas o que sentíamos um pelo outro era mais forte do que qualquer fraqueza,nesse caso,fraqueza exclusivamente minha.
Umas semanas depois estávamos juntos novamente.Ela aceitou minhas desculpas,após eu insistir por dias e noites,tardes e manhãs,incansávelmente.O sentimento dos jovens amantes tende a ser mesmo mais caloroso
e arrebatador,mas eu não tinha dúvida de que eu e Talita éramos um caso diferente de todos os outros.Era um tipo de amor que só quem já sentiu poderia entender minha descrição,para os demais é inútil tentar entender.
Por todos esse motivos,eu contava as horas no trabalho para sair e ir busca-lá na faculdade.Ela cursa direito,é uma garota muito inteligente e antenada,acredita na democracia e sempre tenta puxar assunto comigo sobre
política,eu desconverso.Ela percebe meu constrangimento e logo muda de assunto.
Findado o expediente eu me apresso,ando rápido,mas não corro.Parece que está havendo um protesto aqui na rua,não quero estar perto da confusão.Estão prendendo um monte de gente.Dizem coisas terríveis sobre o tratamento
na prisão.Prefiro nem pensar nisso.
Chego 10 minutos antes da aula de Talita terminar.Espero impaciente,olhando para o relógio a cada 30 segundos.Finalmente,lá vem ela.Com seus cabelos encaracolados e pele morena,acho que ela é exatamente o meu tipo de mulher.
Afinal de contas eu não consigo imaginar outra mulher que não seja ela.Meu coração acelera nos rítmos dos passos que ela dá,que se tornaram mais rápidos ao me ver,vindo em minha direção.O abraço dela,apesar de apertado,toca meu corpo como
se fosse um leve toque de uma fada.Nosso beijo é a materialização de tudo que sentimos.Eu olho para ela e pergunto:
"-Estou sonhando?"ela ri e responde:
"-Espero que não.Do contrário,quero dormir para sempre!"
Vamos ao local onde sempre a levo,debaixo da mesma árvore de sempre,na praça próxima a casa dela.Quando estamos juntos o tempo passa vagarosamente,como se ele não tivesse pressa de se mover.Nos sentamos encostados na árvore,
eu passo minutos olhando para o rosto dela de perfil e sentindo sua quente respiração.Ficamos ali por algumas horas,conversando sobre nossos assuntos típicos.Começa a escurecer e eu preciso levá-la até sua casa.O tempo passou para o resto do
mundo,mas para nós,parecia que tínhamos acabado de chegar ali.
No portão ela me diz algo sobre o próximo fim de semana,não prestei atenção no que ela falava,nos beijamos e nos despedimos com juras de amor eterno.Sinto como se fossemos ficar dias afastados,mas eram só algumas longas horas até
o dia seguinte.
Em casa sento-me a mesa com minha tia para o jantar.Fui criado por ela desde quando perdi meus pais num trágico acidente de automóvel,eu tinha apenas 3 anos.Depois de comer vou ao meu quarto,mas sou obrigado a voltar quando toca o telefone.
Minha tia atendeu e disse que era alguém do jornal querendo falar comigo em urgência.Não faço idéia de quem possa ser ou de que se trata o assunto:
"-Alô?"
"-Você é Davi,certo?Da gráfica..."
"-Sim,sou eu.Quem fala?"o homem falava com a voz em baixo tom.
"-Eu sou Cristiano Andrade, colunista do Diário.Preciso de um imenso favor seu."
Não reconheci a voz do sujeito porque nunca a tinha ouvido antes.Mas o nome dele rondava todo jornal,ele era o único colunista que ousava soltar algumas frases de duplo sentido,que iam contra a filosofia do jornal e do governo.Fiquei precavido ao ouvir o
nome dele:
"-Olha meu senhor,não sei se posso ajudá-lo não."
"-Escute rapaz,não vou lhe meter em problemas,só quero que me encontre amanhã bem cedo.Não precisa se preocupar.Basta chegar na gráfica minutos antes dos demais funcionários,ok?"
"-Isso eu posso fazer,não quero problemas,o senhor entende,não é?"
"-Perfeitamente meu jovem,você será uma ajuda muito significativa para mim."
O cara desligou o telefone,fiquei meio preocupado.Mas dormi tranquilo voltando a pensar em Talita.Sonhei com ela,como todas noites.
Na manhã seguinte levantei cedo,engoli meu café da manhã e fui trabalhar.Me lembrei da ligação de Andrade na noite anterior,me apressei,estava curioso para saber o que ele queira que eu fizesse.Ele ja estava lá quando cheguei.Me recriminou dizendo que
eu demorei.Na verdade eu só me lembrei da ligação dele quando já estava no caminho daqui.
O homem estava muito agitado e olhava para os lados.Sacou um envelope da sua pasta e me deu,me recomendou com essas palavras:
"-Não leia o que está escrito,apenas entregue para Jair,o cara que trabalha com você na gráfica,ele assumirá a responsabilidade de tudo e saberá o que fazer.Estou te pedindo isso porque o cerco se fechou,meus passos estão limitados,mas isso é de grande importância
para o país."
Olhei para ele confuso e desabafei:
"-O que é isso?Disse ao senhor que não quero confusão,todos sabem como estão as coisas no Brasil."
"-Não se preocupe rapaz,nada acontecerá com você.Já comigo...Tive a sorte de ter escapado.Fiquei dois dias preso!Me mativeram acordado todo esse tempo,isso causa danos no cérebro!Fiquei amarrado a uma dura cadeira e fui surrado a cada 3 horas que passavam!Minha
casa foi invadida e minha irmã raptada!Não sei o que podem estar fazendo com ela agora!Não quero que mais ninguém passe por isso,Davi.Estes documentos devem ser entregues a Jair,entendeu?"
"-S-Sim!"
Fiquei completamente amedrontado,com a descrição que Cristiano Andrade me dera da prisão.Resolvi ajudar mesmo assim.Porém nesse momento,como se houvessem preparado tal emboscada,apareceram policiais militares montados à cavalo.Cristiano olha para mim com os olhos
saltados ao ver os oficiais.A expressão dele refletia seus pensamentos como se eu os pudesse ler.Mas nem precisei tentar adivinhar o que se passava na mente de Andrade,pois ele exclamou:
"-Corra Davi! Livre-se do envelope!"
Se eu fosse um pouco mais atlético talvez não teria sido tão covarde a disputa de velocidade minha,com os cavalos dos militares.Os homens vêm em nossa direção apressadamente,era evidente que eles sabiam quem Cristiano Andrade era.O soldado da frente acertou a cabeça do jornalista
em cheio com seu cacetete e o segundo me bateu na nuca com a sua arma metros a frente.Antes de ser atingido pude jogar em um arbusto o envelope que recebi de Andrade.Sem fazer idéia do que poderia conter nele.Com a pancada que recebi fui ao chão e antes de apagar pensei que seria
melhor se eu soubesse o que havia no envelope,pois poderia dizer algo aos homens sem que eles precisassem me interrogar duramente.Sem saber de nada era pior,eu serei torturado e poderei ter minha familia perseguida e atiginda.Penso em Talita,meus olhos se fecham e eu não vejo mais nada.
Acordo amarrado a uma cama,com Andrade me fazendo despertar.Ele está ao meu lado na mesma situação que eu,na cama ao lado da minha:
"-Não se preocupe garoto,você sairá daqui.Eu vou assumir toda a responsabilidade.Soube por um dos soldados que minha irmã está viva,porém eles fazem coisas imundas nesse lugar,prefiro não imaginar o que pode ter acontecido a ela.Eu negociarei a sua liberdade e a dela,pela minha
total colaboração,também os subornarei.Fique tranquilo."
"-M-minha família!Talita..." minha voz está trêmula e minha cabeça leteja.
"-Desculpe por envolvê-lo nisso,mas fique calmo.Não há o que temer."
Não consigo confiar em nenhuma das palavras que aquele homem me diz.Minha cabeça ficou confusa,acho que por causa da pancada.Mas consigo raciocinar o bastante,para ver que Andrade era pirado.Provavelmente ficou assim por causa do cárcere no qual foi submetido.Ele só me contou que
ficou preso hoje,quando nos encontramos,se ele tivesse me dito antes pelo telefone,eu jamais aceitaria colaborar com ele.O tio de Talita também foi preso,ficou meses detido e saiu completamente louco.Dizem que fazem testes no cerébro das pessoas,coisas que se faziam na Segunda Guerra Mundial.
Ouvi descrições de salas onde as pessoas ficam o tempo inteiro acordadas ao som de músicas altas e obrigadas a assitirem imagens numa tela grande.Eu começo a lamentar a maldita hora em que topei colaborar com este louco.
O lugar onde estamos é um tipo de quarto muito pequeno,não existe nada aqui além das duas camas nas quais estamos presos.Menos de dez minutos depois de eu ser despertado por Andrade,a porta se abre e por ela entram dois caras vestidos de branco e sujos do que parece ser sangue,a vestimenta
deles lembram as de cirurgiões,mas sei que eles estão mais para açougueiros do que pra médicos.O lugar é claustrofóbico,sem janelas,apenas uma porta e uma fraca lâmpada no centro do teto.Os homens levam Andrade,ele vai pacificamente sem demonstrar resistência.Fico ali por horas.Me debato na cama
tentando me desamarrar,estou ali por muito tempo,não me preocupo comigo mas com Talita,eles podem estar atrás dela e da minha tia.Não faço idéia de que horas são,não sei se ainda é dia ou se já é noite.Sinto muita fome e sede.Olho para meu braço e percebo que estou recebendo algo na minha veia,é soro.
Ou será que é alguma substância alucinógena?Como eu só fui perceber agora que estou recebendo isso na minha veia?Estou muito confuso e desorientado.Fecho os olhos em prantos,acabo adormecendo quando as lágrimas param de cair.Acordo com uma outra pessoa em pé na minha frente fazendo anotações.
Esse sim se parece um médico,deve ter sido enviado aqui para ver meu estado,se posso suportar torturas talvez.Ele me chama pelo nome e diz:
"-É Davi,foi uma forte pancada.Você precisa descansar.Sua tia foi localizada..."
"-Seus monstros!Fiquem longe dela!Não temos nada a ver com isso!Andrade não disse nada a vocês?Eu não sei de nada!"
"-Preciso lhe dar uma dose de calmante,Davi"
"-Não!Parem de me drogar seus malditos!"
A forma sarcástica que ele se dirigiu a mim me fez ter certeza de que tinham capturado minha tia,temi por Talita.Preciso sair daqui.O cara me injeta o remédio e eu apago novamente.Me sinto impotente.
Quando acordo,estou mais inquieto e preocupado.Eu entregaria minha vida para manter a segurança de minha namorada.Ela seria amada por outras pessoas,somos jovens e uma garota linda e adorável como ela,encontraria homens talvez até mais dignos para ela do que eu.Não é difícil se apaixonar por Talita,
pois ela é absurdamente amável.Porém a idéia de imaginar a vida dela com outro homem que não fosse eu,era mais dolorosa do que a própria prisão e a morte.Olho para meus braços e me surpreendo ao ver que não estou amarrado.Leio no recepiente que está ligado a minha veia a inscrição que revela ser soro,aquele
líquido que vem pelo meu braço.Puxo a águlha e me livro.Minha cabeça dói muito.Me levanto e sinto tonturas,provaveis efeitos dos alucinógenos que me injetaram enquanto estive aqui.Perdi a noção do tempo,acho que estou aqui a dias,não me trouxeram alimentos,isso explica minha fraqueza e também por esse motivo me
deram soro,para que meu corpo não ficasse muito debilitado.Ando lentamente até a porta,forço a maçaneta e ela se abre.Vejo um vasto corredor a minha frente.Este lugar é muito grande e parece um labirinto.Está cheio de pessoas,elas andam rápido e conversam,não consigo fixar meus olhos em nenhum ponto.Parece que sou
míope.É difícil reconhecer algum rosto.Então,uma mulher se aproxima de mim,não sei quem é,quando olho pro rosto dela vejo apenas algo embaçado e desforme.Passo a mão pelos olhos e passo a enxergar um pouco melhor.A moça se identifica:
"-Davi,eu sei que está dificil enxergar e que você está tonto,são as drogas,mas precisa confiar em mim.Eu sou Amanda,irmã de Cristiano Andrade."
"-Andrade,onde ele está?"
"-Ah,ele sabe se cuidar.Precisamos sair daqui o mais rápido possível.Você sofreu uma forte pancada na cabeça,está mantido aqui desde de ontem a tarde.Sei que você não deve estar bem,porém precisamos nos apressar.Está acontecendo uma rebelião aqui."
Olho para os lados e vejo as pessoas correndo por todos os cantos,atrás delas vêm oficiais militares com cacetetes.Amanda me puxa pelo braço e começamos a correr em disparada,com ela guiando o caminho.Olho para cintura dela e vejo que porta uma arma.Paro e solto a mão dela do meu braço.Ela pergunta:
"-O que foi?"
"-Prometa que quando sairmos daqui vai me levar até minha casa.Acho que não conseguirei sozinho.Estou muito atordoado."
"-Sim,prometo.Além disso você também precisa me ajudar.Tem que me dizer onde está o envelope que meu irmão lhe entregou."
Não digo a ela,mas não faço idéia de onde coloquei o envelope.Não consigo lembrar.Quero chegar em casa e saber logo se minha tia está segura,depois,vou procurar por Talita.Na mesma hora que penso nela,ouço a sua voz,sussurrar baixinho:
"-Estarei aqui com você Davi,o tempo todo.Não sairei"
Continuo correndo e olhando para os lados,quase caio,não a vejo em lugar nenhum!Mas além de ouvir sua voz,tive até a impressão de ter sentido o calor da respiração dela,bem perto de mim.Amanda me olha,preocupada:
"-Está alucinando,Davi?"
"-Acho que sim,mas já passou.Isso é assustador!"
"-Sei como é,mas precisa ser forte.Estamos quase na saída."
Quando saimos vejo a rua em que estamos,se parace com o centro da cidade,mas não consigo reconhecer exatamente onde.Amanda cumpre o que prometeu e me acompanha até minha casa.Eu bato na porta mas ninguém vem abri-lá,então,empurro a porta e entro.A casa está toda reverida,móveis quebrados e coisas no chão.
Entro em desespero ao subir até o quarto de minha tia e a vejo em sua cama.Que tipo de gente faz isso com senhoras?Minha doce tia estava muito machucada,mas permaneceu acordada e disse que estava me esperando,pois sabia que eu viria.Começo a chorar e pego em sua mão,enquanto ela me diz:
"-Davi,estamos aqui com você." Não entendo o que ela quer dizer mas a conforto:
"-Eu sei tia,descanse.Vou levá-la para um hospital."
Amanda me ajuda a levar minha tia até um hospital próximo,lá vejo uma mulher muito estranha.Não consigo acreditar em meus olhos,mas ela se parece com minha mãe.E está usando a mesma roupa que usava na foto que eu tenho dela,ao lado de meu pai.A mulher entra por uma porta e me chama.Vejo que é a saída.Corro até lá
e abro a porta,uma luz forte quase me cega.Eu caio no chão e começo a ter espasmos,desmaiei.Quando acordo estou na porta da casa de Talita.Amanda me explica que tive convulsão,por causa do dano que sofri no cérebro.Ela me trouxe até ali.Entro na casa e vejo mesmo cenário que vi na anteriormente,tudo revirado.Evito tentar imaginar
o que pode ter acontecido.Na sala,vejo o pai de Talita com a sua esposa desacordada no chão.Ele olha para mim com um misto de desespero e fúria:
"-Por quê se envolveu nisso moleque?Olha o que você fez!"
"-E-eu sinto muito senhor,ó Meu Deus...!"
"-Não fique aí feito um idiota!Entregue a eles o maldito envelope!Minha filhinha...Talita..eles a levaram!"
Arregalei meus olhos ao ouvir o nome dela.Peguei a chave do carro que eu já sabia onde o pai de Talita guardava,entreguei a Amanda e nos dirigimos até o "Diário Nacional".
Chegando lá não perco tempo e me encaminho para a entrada dos funcionários,acompanhado por Amanda.Ao nos ver Jair vem em nossa direção,dá um forte abraço em Amanda e nos chama para um lugar mais reservado.A jovem pergunta a Jair:
"-Está com o envelope?"o homem responde:
"-Pensei que estivesse com seu irmão ou melhor com Davi."
Fico sem reação pois não sei onde deixei.Minha face me denuncia:
"-Onde está,Davi?" me pergunta Amanda.
"-Lamento..." respondo,sem coragem de olhar nos olhos deles.
"-Davi,é importante que encontremos o envelope.Podemos tirar uma cópia dele e negociar a cópia pelo resgate de Talita."
"-Eu sei! Mas eu não consigo me lembrar...Por que fui me envolver nisso tudo? Eu não queria isso..."
"-É tarde para lamentações,rapaz.Agora por favor,concentre-se."
Nossa conversa é pausada pelo som de sirenes e explosões.Tiros e gritos são ouvidos.Saimos da sala que estávamos e vemos militares capturando gente e disparando contra as máquinas de impressão que haviam ali.Um homem uniformizado como alguém de alta patente vem em nossa direção.Ele chama Amanda e Jair.Os três conversam,estão bem agitados,
até que Amanda olha para mim e entrega sua arma para o fardado.Não compreendo sua ação,mas em um ato de extrema covardia o sujeito dispara contra Jair.Amanda começa a insultar o homem demonstrando surpresa em sua atitude e ele repete seu ato,matando ela também.As duas pessoas que eu sabia que poderia confiar foram assassinadas a sangue frio.A mulher
que me criou está no hospital e a que eu mais amo está raptada.Medo e desespero correm pelo meu corpo como que guiados pelo meu sangue.O sujeito anda em minha direção e eu agarro uma barra de ferro que estava no chão.Ele cai na gargalhada e se apresenta:
"-Eu sou o coronel Tavares.Você deve ser Davi.Se tornou muito conhecido rapaz.Serei breve,traga-me o envelope dentro de uma hora para esse endereço,sua namoradinha estará lá esperando.Seja pontual,por favor."
Recebi um cartão dele que continha um endereço.Os oficiais saem do local levando alguns prisioneiros.Choro sobre os corpos de Jair e Amanda.Vejo que a arma dela fora abandonada ao chão pelo coronel.Guardo ela comigo e vou para fora da gráfica.
Sento-me desesperado junto aos arbustos pensando em meios de usar aquela arma para acabar com meu sofrimento,me sinto covarde.Nessa hora sinto uma mão apertar a minha,fecho meus olhos e tenho uma sensação de queda.Abro novamente os olhos e me dou conta de que alucinei novamente.Minha cabeça dói quando tento me lembrar do paradeiro do envelope.
Ouço uma linda canção,assobios na verdade.Observo pássaros assobiarem esta canção,estranho o assobio é igual ao de minha tia.Os passarinhos estão entre os arbustos da calçada,me aproximo de lá e começo a sorrir.O envelope esteve ali o tempo todo,agora me lembro que o atirei ali quando levei a pancada do guarda.Estava determinado em abri-lo e quando o fiz,para
minha surpresa estava tudo escrito em uma língua que eu desconheço.Provavelmente era para não ser lido se caísse em mãos erradas.Parecia ser latim.
Aliviado agora,apanhei as chaves do carro no bolso de Amanda e fui para o endereço no papel.Tive nova tontura,fechei os olhos e quando os abri ja estava bem próximo do lugar.O efeito de entorpecentes somado ao trauma no meu cérebro fazia tudo parecer tão irreal.
O lugar onde chego é um estacionamento vazio,apenas um carro está lá.Minha visão começa a me trair,tudo fica confuso.O céu se torna um borrão vermelho como sangue.Coronel Tavares sai do carro com a pessoa que me faz recuperar meus sentidos.Talita.Ela está tão linda quanto da ultima vez em que a vi.Eu me aproximo e vejo bem de perto o rosto do coronel,
me arrepio.O coronel Tavares se parece com meu pai que eu não me lembro bem,mas sei que ele era do Exército.Entrego-lhe o envelope,ele liberta Talita entra no carro e diz:
"-Muito bem meu filho,só precisa se levantar agora."
Não compreendi suas palavras mas não me importei,queria abraçar Talita.Tentei lhe tocar mas ela permanecia inerte e eu não conseguia encostar em seu corpo.Meus braços pareciam transpassa-la.Estou drogado ou enlouqueci de vez?Isso tudo parece um pesadelo.Então ela me olha e diz:
"-Exatamente Davi.Você não veio aqui para me salvar.Eu lhe touxe até aqui,para que você seja salvo."
"-O que está dizendo meu amor?Não entendo."
"-Acorde Davi!"
De repente tudo passou a fazer sentido.A voz que eu ouvi de Talita e sua respiração,o assobio de minha tia,ambas dizendo que estavam comigo.A imagem de meus pais,todo esse surrealismo.Entendi tudo.Comecei a fazer força com todos os músculos do meu corpo,mas eles pareciam travados.Então apanhei a arma que eu carregava,minha amada me olhou e disse:
"-Vai ser como nas tragédias teatrais,que costumamos assistir." ela tomou a arma de mim e atirou contra si.Fiquei assustado,mas recuperei a arma e fiz o mesmo dizendo:
"-Meu Deus!É bom que isso seja um sonho!"
Abri meus olhos,estava suado e com meu corpo dormente,respirei fundo como se estivesse ficado muito tempo sem ar.Na minha frente estava numa poltrona minha tia e a meu lado estava Talita.Ela vê que eu estou acordado e sorri com satisfação.O sorriso dela é uma das imagens mais belas e tranquilizantes que eu jamais vi na vida.Elas chamam por médicos e enfermeiros.
Estive em coma por 4 dias,desde que levei a pancada de dois assaltantes montados a cavalo.Roubaram minha carteira.Cristiano Andrade,que estava comigo foi exilado,segundo o que o pessoal do jornal informou a minha tia.Os assaltantes foram presos e confessaram que usavam disfarces militares para efetuar roubos naquela região a semanas.Minha cateira foi
recuperada.Eu apenas vivi todos os meus maiores temores e frustrações em minha mente,durante os ultimos 4 dias.
Tudo não passou de um sonho ruim.Recebi alta no hospital no dia seguinte.Talita esteve ali o tempo todo comigo.Eu agradeço a ela e digo que seu amor me salvou de um pesadelo.Ela me fala que eu sempre digo coisas "fofas".Eu sorrio e me sinto feliz por ter encontrado meu verdadeiro amor.
Volto para minha rotina.Em um dia comum de trabalho resolvo ir até os arbustos próximo da calçada.Lá vejo o maldito envelope.Entro na gráfica,pego uma garrafa de alcool e uma caixa de fósforo.Atiro fogo em toda aquela vegetação,sem tocar naquele indesejado pedaço de papel.Andei procurando por Jair na gráfica mas ele pediu demissão,desde o ocorrido.Penso
no que deveria conter aquele envelope.Mas a vontade de me livrar dele e meu subconsciente criativo me convencem a deixá-lo queimar e esquecer toda essa historia,de uma vez por todas.
O golpe de Estado marcou a influência política do Exército Brasileiro e a sua determinação de tomar o poder do país ao abrigo de uma doutrina de segurança nacional.Quem assumiu o cargo máximo
da nação foi o Marechal Castello Branco,com a queda de Goulart.
Foi um período drástico de mudanças,não só para o país,pra minha pessoa também.Eu tinha acabado de completar meus estudos,na busca por um emprego e com pouca formação acadêmica,entrei
na gráfica do jornal.Não era muito "saudável" trabalhar em um jornal naquele período,mas eu precisava de grana,na verdade,todo mundo precisa de grana.Mas eu queria grana porque estava muito afim de
comprar um carro.Queria impressionar minha namorada,Talita.Não que eu precise impressioná-la mas eu quero fazer isso.Amor de mulher tem de ser renovado a cada minuto.
O jornal se chamava "Diário Nacional".E todos os colunistas,formadores de opinião,mamavam nas tetas do governo ou simplesmente tinham medo de bater de frente com a constituição atual.Era uma época
estranha,o exército e a polícia militar tinham muitos direitos,como o de te prender e torturar por você ser suspeito,agora suspeito de que não sei.Não sou antenado nos assuntos politicos,mas trabalho em um jornal,
acabo lendo quando o papel acaba de sair da prensa.Era essa a situação em que as coisas se encontravam.
Hoje irei encontrar Talita.Nos conhecemos na escola.Terminamos no fim do ano,na festa de formatura,onde bebi demais,coisa que nunca tinha feito antes.Acabei dançando com outra menina,é incrível como o fato
de você estar namorando,atrai mais mulheres pra você,acho que elas fazem isso para se provocar.A menina com a qual eu dancei me beijou,Talita não viu mas suas amigas viram,foi uma tragédia.O amor de uma mulher
se transforma em ódio com uma facilidade tremenda.Descobri isso já bem jovem,mas o que sentíamos um pelo outro era mais forte do que qualquer fraqueza,nesse caso,fraqueza exclusivamente minha.
Umas semanas depois estávamos juntos novamente.Ela aceitou minhas desculpas,após eu insistir por dias e noites,tardes e manhãs,incansávelmente.O sentimento dos jovens amantes tende a ser mesmo mais caloroso
e arrebatador,mas eu não tinha dúvida de que eu e Talita éramos um caso diferente de todos os outros.Era um tipo de amor que só quem já sentiu poderia entender minha descrição,para os demais é inútil tentar entender.
Por todos esse motivos,eu contava as horas no trabalho para sair e ir busca-lá na faculdade.Ela cursa direito,é uma garota muito inteligente e antenada,acredita na democracia e sempre tenta puxar assunto comigo sobre
política,eu desconverso.Ela percebe meu constrangimento e logo muda de assunto.
Findado o expediente eu me apresso,ando rápido,mas não corro.Parece que está havendo um protesto aqui na rua,não quero estar perto da confusão.Estão prendendo um monte de gente.Dizem coisas terríveis sobre o tratamento
na prisão.Prefiro nem pensar nisso.
Chego 10 minutos antes da aula de Talita terminar.Espero impaciente,olhando para o relógio a cada 30 segundos.Finalmente,lá vem ela.Com seus cabelos encaracolados e pele morena,acho que ela é exatamente o meu tipo de mulher.
Afinal de contas eu não consigo imaginar outra mulher que não seja ela.Meu coração acelera nos rítmos dos passos que ela dá,que se tornaram mais rápidos ao me ver,vindo em minha direção.O abraço dela,apesar de apertado,toca meu corpo como
se fosse um leve toque de uma fada.Nosso beijo é a materialização de tudo que sentimos.Eu olho para ela e pergunto:
"-Estou sonhando?"ela ri e responde:
"-Espero que não.Do contrário,quero dormir para sempre!"
Vamos ao local onde sempre a levo,debaixo da mesma árvore de sempre,na praça próxima a casa dela.Quando estamos juntos o tempo passa vagarosamente,como se ele não tivesse pressa de se mover.Nos sentamos encostados na árvore,
eu passo minutos olhando para o rosto dela de perfil e sentindo sua quente respiração.Ficamos ali por algumas horas,conversando sobre nossos assuntos típicos.Começa a escurecer e eu preciso levá-la até sua casa.O tempo passou para o resto do
mundo,mas para nós,parecia que tínhamos acabado de chegar ali.
No portão ela me diz algo sobre o próximo fim de semana,não prestei atenção no que ela falava,nos beijamos e nos despedimos com juras de amor eterno.Sinto como se fossemos ficar dias afastados,mas eram só algumas longas horas até
o dia seguinte.
Em casa sento-me a mesa com minha tia para o jantar.Fui criado por ela desde quando perdi meus pais num trágico acidente de automóvel,eu tinha apenas 3 anos.Depois de comer vou ao meu quarto,mas sou obrigado a voltar quando toca o telefone.
Minha tia atendeu e disse que era alguém do jornal querendo falar comigo em urgência.Não faço idéia de quem possa ser ou de que se trata o assunto:
"-Alô?"
"-Você é Davi,certo?Da gráfica..."
"-Sim,sou eu.Quem fala?"o homem falava com a voz em baixo tom.
"-Eu sou Cristiano Andrade, colunista do Diário.Preciso de um imenso favor seu."
Não reconheci a voz do sujeito porque nunca a tinha ouvido antes.Mas o nome dele rondava todo jornal,ele era o único colunista que ousava soltar algumas frases de duplo sentido,que iam contra a filosofia do jornal e do governo.Fiquei precavido ao ouvir o
nome dele:
"-Olha meu senhor,não sei se posso ajudá-lo não."
"-Escute rapaz,não vou lhe meter em problemas,só quero que me encontre amanhã bem cedo.Não precisa se preocupar.Basta chegar na gráfica minutos antes dos demais funcionários,ok?"
"-Isso eu posso fazer,não quero problemas,o senhor entende,não é?"
"-Perfeitamente meu jovem,você será uma ajuda muito significativa para mim."
O cara desligou o telefone,fiquei meio preocupado.Mas dormi tranquilo voltando a pensar em Talita.Sonhei com ela,como todas noites.
Na manhã seguinte levantei cedo,engoli meu café da manhã e fui trabalhar.Me lembrei da ligação de Andrade na noite anterior,me apressei,estava curioso para saber o que ele queira que eu fizesse.Ele ja estava lá quando cheguei.Me recriminou dizendo que
eu demorei.Na verdade eu só me lembrei da ligação dele quando já estava no caminho daqui.
O homem estava muito agitado e olhava para os lados.Sacou um envelope da sua pasta e me deu,me recomendou com essas palavras:
"-Não leia o que está escrito,apenas entregue para Jair,o cara que trabalha com você na gráfica,ele assumirá a responsabilidade de tudo e saberá o que fazer.Estou te pedindo isso porque o cerco se fechou,meus passos estão limitados,mas isso é de grande importância
para o país."
Olhei para ele confuso e desabafei:
"-O que é isso?Disse ao senhor que não quero confusão,todos sabem como estão as coisas no Brasil."
"-Não se preocupe rapaz,nada acontecerá com você.Já comigo...Tive a sorte de ter escapado.Fiquei dois dias preso!Me mativeram acordado todo esse tempo,isso causa danos no cérebro!Fiquei amarrado a uma dura cadeira e fui surrado a cada 3 horas que passavam!Minha
casa foi invadida e minha irmã raptada!Não sei o que podem estar fazendo com ela agora!Não quero que mais ninguém passe por isso,Davi.Estes documentos devem ser entregues a Jair,entendeu?"
"-S-Sim!"
Fiquei completamente amedrontado,com a descrição que Cristiano Andrade me dera da prisão.Resolvi ajudar mesmo assim.Porém nesse momento,como se houvessem preparado tal emboscada,apareceram policiais militares montados à cavalo.Cristiano olha para mim com os olhos
saltados ao ver os oficiais.A expressão dele refletia seus pensamentos como se eu os pudesse ler.Mas nem precisei tentar adivinhar o que se passava na mente de Andrade,pois ele exclamou:
"-Corra Davi! Livre-se do envelope!"
Se eu fosse um pouco mais atlético talvez não teria sido tão covarde a disputa de velocidade minha,com os cavalos dos militares.Os homens vêm em nossa direção apressadamente,era evidente que eles sabiam quem Cristiano Andrade era.O soldado da frente acertou a cabeça do jornalista
em cheio com seu cacetete e o segundo me bateu na nuca com a sua arma metros a frente.Antes de ser atingido pude jogar em um arbusto o envelope que recebi de Andrade.Sem fazer idéia do que poderia conter nele.Com a pancada que recebi fui ao chão e antes de apagar pensei que seria
melhor se eu soubesse o que havia no envelope,pois poderia dizer algo aos homens sem que eles precisassem me interrogar duramente.Sem saber de nada era pior,eu serei torturado e poderei ter minha familia perseguida e atiginda.Penso em Talita,meus olhos se fecham e eu não vejo mais nada.
Acordo amarrado a uma cama,com Andrade me fazendo despertar.Ele está ao meu lado na mesma situação que eu,na cama ao lado da minha:
"-Não se preocupe garoto,você sairá daqui.Eu vou assumir toda a responsabilidade.Soube por um dos soldados que minha irmã está viva,porém eles fazem coisas imundas nesse lugar,prefiro não imaginar o que pode ter acontecido a ela.Eu negociarei a sua liberdade e a dela,pela minha
total colaboração,também os subornarei.Fique tranquilo."
"-M-minha família!Talita..." minha voz está trêmula e minha cabeça leteja.
"-Desculpe por envolvê-lo nisso,mas fique calmo.Não há o que temer."
Não consigo confiar em nenhuma das palavras que aquele homem me diz.Minha cabeça ficou confusa,acho que por causa da pancada.Mas consigo raciocinar o bastante,para ver que Andrade era pirado.Provavelmente ficou assim por causa do cárcere no qual foi submetido.Ele só me contou que
ficou preso hoje,quando nos encontramos,se ele tivesse me dito antes pelo telefone,eu jamais aceitaria colaborar com ele.O tio de Talita também foi preso,ficou meses detido e saiu completamente louco.Dizem que fazem testes no cerébro das pessoas,coisas que se faziam na Segunda Guerra Mundial.
Ouvi descrições de salas onde as pessoas ficam o tempo inteiro acordadas ao som de músicas altas e obrigadas a assitirem imagens numa tela grande.Eu começo a lamentar a maldita hora em que topei colaborar com este louco.
O lugar onde estamos é um tipo de quarto muito pequeno,não existe nada aqui além das duas camas nas quais estamos presos.Menos de dez minutos depois de eu ser despertado por Andrade,a porta se abre e por ela entram dois caras vestidos de branco e sujos do que parece ser sangue,a vestimenta
deles lembram as de cirurgiões,mas sei que eles estão mais para açougueiros do que pra médicos.O lugar é claustrofóbico,sem janelas,apenas uma porta e uma fraca lâmpada no centro do teto.Os homens levam Andrade,ele vai pacificamente sem demonstrar resistência.Fico ali por horas.Me debato na cama
tentando me desamarrar,estou ali por muito tempo,não me preocupo comigo mas com Talita,eles podem estar atrás dela e da minha tia.Não faço idéia de que horas são,não sei se ainda é dia ou se já é noite.Sinto muita fome e sede.Olho para meu braço e percebo que estou recebendo algo na minha veia,é soro.
Ou será que é alguma substância alucinógena?Como eu só fui perceber agora que estou recebendo isso na minha veia?Estou muito confuso e desorientado.Fecho os olhos em prantos,acabo adormecendo quando as lágrimas param de cair.Acordo com uma outra pessoa em pé na minha frente fazendo anotações.
Esse sim se parece um médico,deve ter sido enviado aqui para ver meu estado,se posso suportar torturas talvez.Ele me chama pelo nome e diz:
"-É Davi,foi uma forte pancada.Você precisa descansar.Sua tia foi localizada..."
"-Seus monstros!Fiquem longe dela!Não temos nada a ver com isso!Andrade não disse nada a vocês?Eu não sei de nada!"
"-Preciso lhe dar uma dose de calmante,Davi"
"-Não!Parem de me drogar seus malditos!"
A forma sarcástica que ele se dirigiu a mim me fez ter certeza de que tinham capturado minha tia,temi por Talita.Preciso sair daqui.O cara me injeta o remédio e eu apago novamente.Me sinto impotente.
Quando acordo,estou mais inquieto e preocupado.Eu entregaria minha vida para manter a segurança de minha namorada.Ela seria amada por outras pessoas,somos jovens e uma garota linda e adorável como ela,encontraria homens talvez até mais dignos para ela do que eu.Não é difícil se apaixonar por Talita,
pois ela é absurdamente amável.Porém a idéia de imaginar a vida dela com outro homem que não fosse eu,era mais dolorosa do que a própria prisão e a morte.Olho para meus braços e me surpreendo ao ver que não estou amarrado.Leio no recepiente que está ligado a minha veia a inscrição que revela ser soro,aquele
líquido que vem pelo meu braço.Puxo a águlha e me livro.Minha cabeça dói muito.Me levanto e sinto tonturas,provaveis efeitos dos alucinógenos que me injetaram enquanto estive aqui.Perdi a noção do tempo,acho que estou aqui a dias,não me trouxeram alimentos,isso explica minha fraqueza e também por esse motivo me
deram soro,para que meu corpo não ficasse muito debilitado.Ando lentamente até a porta,forço a maçaneta e ela se abre.Vejo um vasto corredor a minha frente.Este lugar é muito grande e parece um labirinto.Está cheio de pessoas,elas andam rápido e conversam,não consigo fixar meus olhos em nenhum ponto.Parece que sou
míope.É difícil reconhecer algum rosto.Então,uma mulher se aproxima de mim,não sei quem é,quando olho pro rosto dela vejo apenas algo embaçado e desforme.Passo a mão pelos olhos e passo a enxergar um pouco melhor.A moça se identifica:
"-Davi,eu sei que está dificil enxergar e que você está tonto,são as drogas,mas precisa confiar em mim.Eu sou Amanda,irmã de Cristiano Andrade."
"-Andrade,onde ele está?"
"-Ah,ele sabe se cuidar.Precisamos sair daqui o mais rápido possível.Você sofreu uma forte pancada na cabeça,está mantido aqui desde de ontem a tarde.Sei que você não deve estar bem,porém precisamos nos apressar.Está acontecendo uma rebelião aqui."
Olho para os lados e vejo as pessoas correndo por todos os cantos,atrás delas vêm oficiais militares com cacetetes.Amanda me puxa pelo braço e começamos a correr em disparada,com ela guiando o caminho.Olho para cintura dela e vejo que porta uma arma.Paro e solto a mão dela do meu braço.Ela pergunta:
"-O que foi?"
"-Prometa que quando sairmos daqui vai me levar até minha casa.Acho que não conseguirei sozinho.Estou muito atordoado."
"-Sim,prometo.Além disso você também precisa me ajudar.Tem que me dizer onde está o envelope que meu irmão lhe entregou."
Não digo a ela,mas não faço idéia de onde coloquei o envelope.Não consigo lembrar.Quero chegar em casa e saber logo se minha tia está segura,depois,vou procurar por Talita.Na mesma hora que penso nela,ouço a sua voz,sussurrar baixinho:
"-Estarei aqui com você Davi,o tempo todo.Não sairei"
Continuo correndo e olhando para os lados,quase caio,não a vejo em lugar nenhum!Mas além de ouvir sua voz,tive até a impressão de ter sentido o calor da respiração dela,bem perto de mim.Amanda me olha,preocupada:
"-Está alucinando,Davi?"
"-Acho que sim,mas já passou.Isso é assustador!"
"-Sei como é,mas precisa ser forte.Estamos quase na saída."
Quando saimos vejo a rua em que estamos,se parace com o centro da cidade,mas não consigo reconhecer exatamente onde.Amanda cumpre o que prometeu e me acompanha até minha casa.Eu bato na porta mas ninguém vem abri-lá,então,empurro a porta e entro.A casa está toda reverida,móveis quebrados e coisas no chão.
Entro em desespero ao subir até o quarto de minha tia e a vejo em sua cama.Que tipo de gente faz isso com senhoras?Minha doce tia estava muito machucada,mas permaneceu acordada e disse que estava me esperando,pois sabia que eu viria.Começo a chorar e pego em sua mão,enquanto ela me diz:
"-Davi,estamos aqui com você." Não entendo o que ela quer dizer mas a conforto:
"-Eu sei tia,descanse.Vou levá-la para um hospital."
Amanda me ajuda a levar minha tia até um hospital próximo,lá vejo uma mulher muito estranha.Não consigo acreditar em meus olhos,mas ela se parece com minha mãe.E está usando a mesma roupa que usava na foto que eu tenho dela,ao lado de meu pai.A mulher entra por uma porta e me chama.Vejo que é a saída.Corro até lá
e abro a porta,uma luz forte quase me cega.Eu caio no chão e começo a ter espasmos,desmaiei.Quando acordo estou na porta da casa de Talita.Amanda me explica que tive convulsão,por causa do dano que sofri no cérebro.Ela me trouxe até ali.Entro na casa e vejo mesmo cenário que vi na anteriormente,tudo revirado.Evito tentar imaginar
o que pode ter acontecido.Na sala,vejo o pai de Talita com a sua esposa desacordada no chão.Ele olha para mim com um misto de desespero e fúria:
"-Por quê se envolveu nisso moleque?Olha o que você fez!"
"-E-eu sinto muito senhor,ó Meu Deus...!"
"-Não fique aí feito um idiota!Entregue a eles o maldito envelope!Minha filhinha...Talita..eles a levaram!"
Arregalei meus olhos ao ouvir o nome dela.Peguei a chave do carro que eu já sabia onde o pai de Talita guardava,entreguei a Amanda e nos dirigimos até o "Diário Nacional".
Chegando lá não perco tempo e me encaminho para a entrada dos funcionários,acompanhado por Amanda.Ao nos ver Jair vem em nossa direção,dá um forte abraço em Amanda e nos chama para um lugar mais reservado.A jovem pergunta a Jair:
"-Está com o envelope?"o homem responde:
"-Pensei que estivesse com seu irmão ou melhor com Davi."
Fico sem reação pois não sei onde deixei.Minha face me denuncia:
"-Onde está,Davi?" me pergunta Amanda.
"-Lamento..." respondo,sem coragem de olhar nos olhos deles.
"-Davi,é importante que encontremos o envelope.Podemos tirar uma cópia dele e negociar a cópia pelo resgate de Talita."
"-Eu sei! Mas eu não consigo me lembrar...Por que fui me envolver nisso tudo? Eu não queria isso..."
"-É tarde para lamentações,rapaz.Agora por favor,concentre-se."
Nossa conversa é pausada pelo som de sirenes e explosões.Tiros e gritos são ouvidos.Saimos da sala que estávamos e vemos militares capturando gente e disparando contra as máquinas de impressão que haviam ali.Um homem uniformizado como alguém de alta patente vem em nossa direção.Ele chama Amanda e Jair.Os três conversam,estão bem agitados,
até que Amanda olha para mim e entrega sua arma para o fardado.Não compreendo sua ação,mas em um ato de extrema covardia o sujeito dispara contra Jair.Amanda começa a insultar o homem demonstrando surpresa em sua atitude e ele repete seu ato,matando ela também.As duas pessoas que eu sabia que poderia confiar foram assassinadas a sangue frio.A mulher
que me criou está no hospital e a que eu mais amo está raptada.Medo e desespero correm pelo meu corpo como que guiados pelo meu sangue.O sujeito anda em minha direção e eu agarro uma barra de ferro que estava no chão.Ele cai na gargalhada e se apresenta:
"-Eu sou o coronel Tavares.Você deve ser Davi.Se tornou muito conhecido rapaz.Serei breve,traga-me o envelope dentro de uma hora para esse endereço,sua namoradinha estará lá esperando.Seja pontual,por favor."
Recebi um cartão dele que continha um endereço.Os oficiais saem do local levando alguns prisioneiros.Choro sobre os corpos de Jair e Amanda.Vejo que a arma dela fora abandonada ao chão pelo coronel.Guardo ela comigo e vou para fora da gráfica.
Sento-me desesperado junto aos arbustos pensando em meios de usar aquela arma para acabar com meu sofrimento,me sinto covarde.Nessa hora sinto uma mão apertar a minha,fecho meus olhos e tenho uma sensação de queda.Abro novamente os olhos e me dou conta de que alucinei novamente.Minha cabeça dói quando tento me lembrar do paradeiro do envelope.
Ouço uma linda canção,assobios na verdade.Observo pássaros assobiarem esta canção,estranho o assobio é igual ao de minha tia.Os passarinhos estão entre os arbustos da calçada,me aproximo de lá e começo a sorrir.O envelope esteve ali o tempo todo,agora me lembro que o atirei ali quando levei a pancada do guarda.Estava determinado em abri-lo e quando o fiz,para
minha surpresa estava tudo escrito em uma língua que eu desconheço.Provavelmente era para não ser lido se caísse em mãos erradas.Parecia ser latim.
Aliviado agora,apanhei as chaves do carro no bolso de Amanda e fui para o endereço no papel.Tive nova tontura,fechei os olhos e quando os abri ja estava bem próximo do lugar.O efeito de entorpecentes somado ao trauma no meu cérebro fazia tudo parecer tão irreal.
O lugar onde chego é um estacionamento vazio,apenas um carro está lá.Minha visão começa a me trair,tudo fica confuso.O céu se torna um borrão vermelho como sangue.Coronel Tavares sai do carro com a pessoa que me faz recuperar meus sentidos.Talita.Ela está tão linda quanto da ultima vez em que a vi.Eu me aproximo e vejo bem de perto o rosto do coronel,
me arrepio.O coronel Tavares se parece com meu pai que eu não me lembro bem,mas sei que ele era do Exército.Entrego-lhe o envelope,ele liberta Talita entra no carro e diz:
"-Muito bem meu filho,só precisa se levantar agora."
Não compreendi suas palavras mas não me importei,queria abraçar Talita.Tentei lhe tocar mas ela permanecia inerte e eu não conseguia encostar em seu corpo.Meus braços pareciam transpassa-la.Estou drogado ou enlouqueci de vez?Isso tudo parece um pesadelo.Então ela me olha e diz:
"-Exatamente Davi.Você não veio aqui para me salvar.Eu lhe touxe até aqui,para que você seja salvo."
"-O que está dizendo meu amor?Não entendo."
"-Acorde Davi!"
De repente tudo passou a fazer sentido.A voz que eu ouvi de Talita e sua respiração,o assobio de minha tia,ambas dizendo que estavam comigo.A imagem de meus pais,todo esse surrealismo.Entendi tudo.Comecei a fazer força com todos os músculos do meu corpo,mas eles pareciam travados.Então apanhei a arma que eu carregava,minha amada me olhou e disse:
"-Vai ser como nas tragédias teatrais,que costumamos assistir." ela tomou a arma de mim e atirou contra si.Fiquei assustado,mas recuperei a arma e fiz o mesmo dizendo:
"-Meu Deus!É bom que isso seja um sonho!"
Abri meus olhos,estava suado e com meu corpo dormente,respirei fundo como se estivesse ficado muito tempo sem ar.Na minha frente estava numa poltrona minha tia e a meu lado estava Talita.Ela vê que eu estou acordado e sorri com satisfação.O sorriso dela é uma das imagens mais belas e tranquilizantes que eu jamais vi na vida.Elas chamam por médicos e enfermeiros.
Estive em coma por 4 dias,desde que levei a pancada de dois assaltantes montados a cavalo.Roubaram minha carteira.Cristiano Andrade,que estava comigo foi exilado,segundo o que o pessoal do jornal informou a minha tia.Os assaltantes foram presos e confessaram que usavam disfarces militares para efetuar roubos naquela região a semanas.Minha cateira foi
recuperada.Eu apenas vivi todos os meus maiores temores e frustrações em minha mente,durante os ultimos 4 dias.
Tudo não passou de um sonho ruim.Recebi alta no hospital no dia seguinte.Talita esteve ali o tempo todo comigo.Eu agradeço a ela e digo que seu amor me salvou de um pesadelo.Ela me fala que eu sempre digo coisas "fofas".Eu sorrio e me sinto feliz por ter encontrado meu verdadeiro amor.
Volto para minha rotina.Em um dia comum de trabalho resolvo ir até os arbustos próximo da calçada.Lá vejo o maldito envelope.Entro na gráfica,pego uma garrafa de alcool e uma caixa de fósforo.Atiro fogo em toda aquela vegetação,sem tocar naquele indesejado pedaço de papel.Andei procurando por Jair na gráfica mas ele pediu demissão,desde o ocorrido.Penso
no que deveria conter aquele envelope.Mas a vontade de me livrar dele e meu subconsciente criativo me convencem a deixá-lo queimar e esquecer toda essa historia,de uma vez por todas.
domingo, 10 de outubro de 2010
Corpos Amantes- (poema?)
Nossos corpos se tocam levemente,
olho para o espelho do teto sobre nossas cabeças,
Vejo que nosso toque não é tão leve quanto pensei.
Movimentos fortes,porém carinhosos.Eu estou por cima dela,
mas não a machuco.
Sinto as unhas de suas mãos arranharem minhas costas.
Também sinto seu calor e sua humidade.
Na natureza o sexo é sinônimo de reprodução.
Entre os humanos pode ter vários propósitos,mas para as almas dos amantes,
é a expressão carnal de todos os bons sentimentos existentes entre os dois.
É incomparável o amor reproduzido por corpos que carregam corações apaixonados.
A passagem do tempo abusa de nossa destração,não o enxergamos passar por nós.
O êxtase atingido no ponto máximo é enlouquecedor e viciante.
Automaticamente,como se tivéssemos ensaiado,ela me olha esperando que eu diga algo
e é o que eu faço.
Sem tirar meus olhos de dentro dos dela,eu digo:
"Eu te amo tanto!"
Ela sorri e retribui com um doce beijo.
Tornamos físico,todo o sentimento que habita em os nossos corpos.
domingo, 26 de setembro de 2010
Trapaças e Acasos
Carlos e Velasquez-
Velasquez me ligou a quase uma hora.Ele está meia-hora atrasado,sabe que eu detesto atraso.Marcamos nesse bar porque adoro o suco de frutas que eles servem,pode parecer
estranho um sujeito entrar em um bar para beber suco,mas eu faço isso.Gosto desse lugar,mas o cantor que esta se apresentando essa noite já me encheu.Agora ele começou a tocar uma música
sobre uma prostituta que levou um tiro,esse é o futuro da nossa música popular?Finalmente o maldito colombiano chegou,ele foi criado aqui em nosso país,mas ainda tem um leve sotaque,o que
lhe dá um ar de traficante internacional.Estou curioso pra saber o que ele tem pra me dizer:
"-Meu amigo Carlos!Como estás Carlitos?"
"-Cansado de esperar por você,Velasquez.Espero que tenha serviço para fazermos."
"-Melhor que isso.O quê esta bebendo?Isso é suco de uva?Por acaso você está..."
"-Já tivemos essa conversa Velasquez.O que pode ser melhor que serviço para nós?"
"-Estou falando de grana fácil,sem desgaste físico ou mental,bem aqui nesse isopor."
"-O que é isso?Alguma bebida?Sabe que não bebo.Quer por acaso montar uma maldita adega?"
"-Não é bebida.Por acaso você conhece aquela japonesa ali atrás?"
"-Que japonesa?"
"-A que está de pé indo ao banheiro,ela estava olhando pra você,galantiador como sempre,não é Carlitos?!"
"-Não seja preconceituoso,só por que ela é asiática não quer dizer que seja japonesa,pode ser coreana ou chinesa."
"-Chineses tem um formato de cabeça diferente do dela e coreanos tem os olhos um pouco mais arredondados.Ela é japonesa."
"-Você não me fez vir até aqui para me mostrar que sabe diferenciar asiáticos,certo?Vai me mostrar o que tem nesse isopor?"
"-Vou lhe mostrar."
O canalha abriu a tampa da caixa de isopor por baixo da mesa,quase vomitei.
"-Que merda é essa?"
"-Um fígado!"
"-E vai fazer isso acebolado?!Tá traficando órgãos agora seu patife!?"
"-Nunca é tarde para iniciar um novo empreendimento,meu amigo.Por sorte sua eu estou disposto a te dar 10% do lucro da venda se você encontrar um comprador."
"-Essa é boa...Onde você arranjou isso?Quem era o infeliz?
"-Essa é a parte lucrativa do negócio.Eu não precisei arrumar isso,simplesmente achei no banco de um táxi,que sorte não é?"
"-Tá me dizendo que alguém estava carregando a porra de um fígado num táxi e esqueceu no banco?Espera que eu acredite nisso?"
"-Exatamente.Sorte grande,né?Não sei como foi parar lá,mas estava lá.Podemos ganhar uma grana alta em cima disso.Você é meu amigo,vamos entrar juntos nessa,cara.Eu só
não tenho idéia de quem esteja precisando disso.Podemos repassar pra traficantes experientes de órgãos,o que me diz?"
"-Estou fora,não quero entrar nessa,tá bom?"
"-Qual o problema Carlos?Você e eu damos pequenos golpes juntos a anos!Você já sequestrou pessoas,até já deu tiro em cima de mutia gente!"
"-Isso é diferente,isso é muita sacanagem.Explorar alguém que tem problemas de saúde?É por isso que eu não bebo!A bebida acaba com o fígado de um sujeito,sabia?Meu pai era
alcólatra,ele não iria querer me ver nessa."
"-Seu pai te ensinou a arrombar um cofre quando você tinha 7 anos.Aos 12 ele te deu uma maleta de ferramentas e te levou pra casa dos vizinhos.Enquanto os pais estavam na sala,você
foi ao quarto da madame,abriu o cofre e saiu com as jóias da senhora dentro da caixa de ferramentas,dizendo que eram ferramentas de brinquedo!Acho que ele não se importaria se você colaborar comigo..."
"-Pare de falar de mim como se fosse da minha família e mais respeito com a memória de meu pai."
"-Você que começou a falar do velho."
"-Tá vendo,você já ta insultando meu pai.Quer saber?Faça bom uso desse treco! Hastá..!"
"-Hastá,maricón!"
Júlia,Miyuke e Marta-
"-Vamos repassar o plano Myuke.A cirurgia começa as 10:15 da manhã.Eu vou te dar o sinal quando o órgão for retirado.Quando eles forem colocá-lo na ambulância para ser doado para outro paciente num outro hospital,você,que vai
estar disfarçada de médica,vai retirar o órgão no estacionamento e vai entregá-lo para Marta que vai estar no carro estacionado atrás da ambulância,alguma dúvida?"
"-Não,tudo bem simples mesmo."
"-Miyuke,até aí eu lembro de tudo o que combinamos,agora diga,onde está o fígado e porque Marta está morta?!O que você fez de errado?"
"-Eu,nada!Marta saiu com carro e o fígado,mas houve alguma coisa na saída do estacionamento,acho que suspeitaram dela.Eu a vi sair do carro e entrar num táxi com o isopor.Depois ela saiu do carro sem o isopor e com uma pistola na mão,
trocou tiros com uma viatura da polícia que fica sempre ali na porta do hospital,o resto você já sabe."
"-Mas que droga!Meses me passando por funcionária,dias planejando e essa idiota me estraga tudo!Nós três temos uma dívida a pagar!Agora você vai arrumar um fígado novo para o chefe.Ele nos acolheu desde quando éramos menininhas inocentes
e nunca nos desrespeitou!Agora ele está doente e nós devemos isso a ele!"
"-Tudo bem,deixa comigo então!"
Velasquez- (Horas Antes)
Está difícil manter,as despesas são grandes.Saio essa manhã determinado em fazer dinheiro.Pego minha toca ninja e meu bem mais valioso,minha pistola automática.
Não tenho tempo de planejar.Entro numa cafeteria qualquer,só me certifico de ser longe da pensão onde estou hospedado,uma bela vizinhança diga-se de passagem.
Peço um café.Poucos clientes,apenas três velhotes.Não deve ter muito dinheiro no caixa,mas eu só preciso de uns trocados mesmo.
Vou até o banheiro,coloco minha toca,não sei porque fiz isso,todos já tinham visto meu rosto mesmo.Meti o pé na porta,saquei a arma e anunciei o assalto.A adrenelina...É isso que me move,até gosto dessa vida.Mas como eu poderia adivinhar que os três coroas sentados a
mesa eram policiais aposentados?Os desgraçados carregam cada um seu revolver,eles largam o dedo em cima de mim,tento revidar inútilmente,vi pela vidraça que meu disparo atingiu alguém que passava pela rua.Me tranco no banheiro e me grudo como uma lagartixa na parede.Eu virei refém dos velhotes.
Me mandaram sair pacificamente,disseram que esse lugar é frequentado por policiais a gerações.Eu de via ter escolhido melhor.
Olhei para frente e vi uma janela enorme que dava para rua.Quem é o idiota que põe uma janela assim no banheiro de um estabelecimento desses?Qualquer um pode entrar aqui e sair pela janela sem pagar a conta.Acho que o dono não deve ter se preocupado com isso,já que o lugar é
uma pocilga de malditos policiais,mas eu não sou um deles.Pulei a janela e entrei no primeiro táxi que vi,as coisas começaram a me favorecer a partir daí,quando encontrei a aquela caixa de isopor no banco.
Carlos-(Tempo Presente)
O maldito Velasquez me fez perder tempo.Continuo sem um serviço para hoje.
A tal japonesa do bar está me seguindo,ela acha que eu sou algum amador.Provavelmente quer me dar um tipo de golpe,esse tipo de mulher só pode querer isso comigo.Então eu me viro e pergunto:
"-Está me seguindo?"
"-N-não senhor,só queria lhe perguntar que horas são..." Ela estava trêmula e anciosa,como se estivesse prestes a fazer algo.
"-Eu não sou idiota,é melhor você desistir e ir tentar assaltar algum outro babaca por aí.É melhor pra você."
"-Você é um cara esperto.Não bebe,não é?Deve ter boa saúde,tem um bom fígado provavelmente..."
"-Eu vi você me observando no bar.Engraçado você falar em fígado..."Nesse momento a vadia cuspiu algo em meu pescoço,um tipo de agulha,eu caí e tudo ficou escuro.
Júlia-
Miyuke me ligou dizendo que conseguiu um fígado,melhor que isso,um corpo inteiro.O problema é que o dono dos órgãos ainda está vivo.Nós nunca matamos ninguém.
Chego ao lugar onde ela está com o cara,um armazén abandonado.Nesses casos é melhor retirar o órgão enquanto o individuo está vivo.Posso fazer a cirurgia,mas e depois?Não podemos deixar o sujeito vivo,temos que matar o infeliz.Eu não farei isso,nunca fiz e nunca farei,
talvez eu até faça algum dia,mas numa situação extrema.Miyuke também não fará,ela é uma garota muito dócil,apesar de não parecer.
Nessa hora lembro-me de um contato.Um matador de aluguel,na verdade é um sujeito que faz qualquer serviço por dinheiro.De trocar uma lâmpada a uma execução,é um homem bastante versátil,basta molharmos bem a mão dele.
Miyuke sugere que se deixarmos o cara aqui sem o fígado e aberto ele irá morrer,mas isso me pesaria mais ainda a consciência.Apesar de anestesiado isso seria uma morte muito ruim para um cara que está nos cedendo um órgão,tudo bem,ele não está cedendo,estamos roubado.
Mas esse sujeito vai salvar a vida de uma pessoa muito importante para nós.O mínimo que posso fazer é conceder a ele uma morte rápida,mas não pelas minhas mãos.
Decidida eu pego o telefone e ligo para o matador.Ele me diz que está por perto desse endereço e que chegará rápido,então eu apresso o serviço,mas nessa hora o cara acorda,não temos sedativo para apagá-lo,somente anestesia,ele vai ter que ver enquanto abrimos e retiramos seu
fígado.
Minha amiga aplica-lhe a anestesia,ao menos ele está bem amarrado e amordaçado.
Eu me preparo e esterilizo o local,pego o bisture e olho nos olhos do cara,ele é jovem,lembro-me dos motivos que me levam a isso e prossigo.O instrumento cirúrgico passa pelo corpo dele como uma faca de cozinha numa sensível manteiga.Tomo um susto quando ouço forte um bater no
portão do armazén.É o matador,não sei muito sobre esse cara,só que ele é um gringo que topa qualquer serviço,o chefe já utilizou os trabalhos dele algumas vezes.Ele vem caminhando ao lado de Miyuke que foi abrir-lhe o portão,estranhamente ele traz em baixo do braço uma caixa de isopor,
a minha companheira asiática é um tanto lesada e não percebe,mas de cara eu notei que conhecia aquele isopor.O nosso doador,por assim dizer,começa a ficar inquieto na mesa tentando se debater,enquanto o gringo olha pra ele com os arregalados e diz:
"-O que vocês estão fazendo com o Carlos?!"
"-Vamos tirar o fígado dele e depois você vai atirar nele pra gente.Você o conhece?Peraí,eu te vi no bar com ele agora pouco!" diz a Miyuke,demonstrando sua incrível alienação.
"-Soltem meu amigo suas cadelas!Eu não vou matar Carlitos!Se é um fígado que querem vamos negociar,pois tenho um em mãos aqui comigo.Hehehe..mas ora que coincidência,não acham?"
"-Acho que você não está muito em condições de negociar,temos seu amigo aqui perdendo sangue e você tem algo que pertence a nós."
"-Está enganada gatinha,pode não acreditar mas eu achei esse fígado e eu tenho uma pistola na mão e vocês na mira,por tanto vamos falar sobre grana e resolver isso de forma agradável.Quanto vocês têm pra gastar?"o maldito sacou a arma e nos pos na mira.
"-Esse fígado pertence sim a nós,você o achou num taxi,certo?"
"-Ora,estão falando a verdade,esse negócio é mesmo de vocês,como foram esquecer isso num banco de taxi?"
"-É uma longa história,podemos falar sobre isso enquanto seu amigo sangra até a morte,o que vai ser?"
"-Droga,chegamos num maldito impasse,detesto essas situações."conclui o gringo,mostrando que se importava com vida de seu companheiro.
O cara não é nenhum gênio,mas sei que ele é perigoso.Proponho então que vou costurar o corte que fiz em Carlos e ele me entrega o orgão.Ele topa.Resolvemos tudo da melhor forma.Saímos de lá apressadas,um fígado só dura 24 horas fora do organismo,precisávamos correr.
Quando chegamos á casa do chefe,algo nos deixa preocupadas,todos estão tristes e cabisbaixos.Então soubemos que nossos esforços foram inúteis,o chefe havia sido baleado essa tarde,fora atingido por uma bala perdida durante uma troca de tiros ocorrida numa cafeteria,
enquanto se passava uma tentativa de assalto.Nosso chefe tinha saído amparado pelos seguranças dele para tomar um Sol,pois sabia que hoje conseguiríamos um transplante para ele.Sentamos e choramos inconsolávelmente.Penso em como somos insignificantes diante das coisas que
simplesmente acontecem sem que possamos fazer algo pra mudar.Ele viu o Sol pela última vez aquela tarde.
Subi ao quarto dele e vi um e-mail recém chegado em seu computador,era do hospital,ele era o primeiro na lista de espera para doação,exatamente do hospital para o qual seria enviado o fígado que roubamos.
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