domingo, 27 de março de 2011

Cajuzinho.

Mas que linda menina,
mas que doce lindinha.
Tão casmurra que és
põe-me defronte a seus pés.
Garotinha docinha,como aqueles
das festinhas.
Moreninha és tu baixinha,
que pequena princesinha!
Fizeste-me piegas...
pois sois a origem de minha pieguisse,
Como se me não bastasse a maluquice!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Lírio do Vale pt.1

I-A Princesa da Corte.

               Não havia em toda a corte,tampouco em qualquer reino vizinho.Falo porque procurei em vão.Pois não encontrei,nem haveria de
encontrar.Não se encontram diamantes em todas as foças ou lamaçais.A comparação melhor cabe ao leitor escolher.Não existia.Pois
até a generosidade divina fez-se caprichosa a por no mundo figuras únicas e esta em questão,se fez a mais caprichosa delas.
                A formosura,a beleza,a jovialidade,o desejo de aventurar-se,a invejavel inteligência da qual foi dotada.Cada particularidade dela...
Perdoem-me,creio estar sendo tendencioso em minha narração dos fatos.O que descreverei aqui antes de mais nada,deixo claro que são
fatos ocorridos em 1757 na Corte Espanhola.E eu sou o dramaturgo.Mas chegarei nesse ponto quando eu julgar que for necessário ao contexto
da história,não se apressem.Gastei dois parágrafos e não consegui ainda descrevê-la.Vamos ao terceiro.Antes que esgotem-se minha tinta e
que minha pena perca o viço.
                 Filha de Dom Frederico III,a deslumbrante princesa da corte é a figura que mais causa ambição de todos os bens possuídos na realeza
espanhola.Ela vivia a suspirar pelos lírios do vale,cuidando de suas rosas vermelhas,no imenso jardim do palácio.Parecia sozinha,pois era tímida.
Como era tímida a princesa!Sua timidez freava o ímpeto de militares de grandes patentes e príncipes vizinhos,que sempre estavam a procurá-la.
Rapazes fúlgorosos.Que ja conheciam camas de outras mulheres,ja haviam tocado inúmeros corpos,se viam completamente sem ação diante da
timidez que os contagiava ao se deparar com a figura da princesa.Ela parecia carente.Sempre imersa em seus estudos,quando não exercia sua outra
paixão,o jogo.Sim a princesa gostava muito de jogar e jogava com as criadas do palácio.Por medo de vence-la ou por pura incopetência,as criadas sempre
saiam derrotadas da jogatina.
                  Já disse que era linda,inteligente e tímida.Isso eu ja deduzia antes de a conhecer.Apenas a tinha visto uma vez,e dedicarei o próximo capítulo a
descrever isso.Ah,antes que me esqueça e que acabe por sair do trilho e fazer perder o encanto desse romance,o nome dela é Taciana.


II-Primeira Vista.

                   Pricesa Taciana.Filha de Frederico III.A jóia mais preciosa do palácio.Nos vimos a primeira vez quando...Já contarei.
                   Previamente,aproveito aqui a chance de me apresentar e a minha compania de teatro.Eu a fundei ao lado de meu amigo,Juan.Peça mais importante que eu
nessa narrativa,diga-se de antemão.E meu nome é Henrique.Muito prazer.
                    Juan e eu estávamos entediados e despreocupados(desempregados) éramos uma dupla de galantes que pelos bailes de Madri até as novenas de Barcelona
tinhamos conquistado muitos corações,nem sempre só os das belas moças,das restantes também.Pois como diz o velho ditado,"quem come de tudo nunca está de boca vazia."
O homônimo de Juan,o fictício Dom Juan de Marco,também não teria se deitado com mais de 1000 damas se fossem todas elas belas.
                     Pois bem,eu gostava de escrever,na verdade não gostava,mas todos diziam que o fazia com maestria.A preguiça é meu pecado capital favorito,rivalizando é claro
com a luxúria.Bastou me livrar da preguiça e me dedicar a escrita para eu e Juan enchergarmos que o jeito mais conveniente de termos uma profissão e continuarmos desfrutando
do calor da cama feminina,era nos tornamos artistas.Não há viva alma feminina que não se encante com poemas,poesias e sonetos.Expliquei isso a Juan e ele se dedicou a atuar,
demonstrou até ser talentoso nas artes cênicas.Rodamos a Espanha.Faturamos barganhas e dinheiro.Gastávamos tudo,em prostitutas caras e vinhos importados.Minha criatividade
não se esgotava,mas os monólogos de Juan acabaram se tornando cansativos.Então retemos nosso capital e contratamos outros atores.Pronto,estava criada a "Compania de Teatro
Sol da Manhã."Pura falta de criatividade,eu sei.Para dar nomes sou uma negação.
                     Enfim,numa típica festa espanhola eis que o Rei Frederico III acha de convocar a Sol da Manhã para vir encenar uma agridoce tragédia,em seu palácio.Para ver se fazia pular
no peito,o coração de sua filha,que ao seu ver andava muito carente,pois já completava 19 anos e nenhum dos prícipes propostos lhe chamava a atenção.Essa foi a perdição e o verdadeiro
começo da narrativa.
                      Era a estréia de minha nova peça,recém escrita.Se chamava "Rômulo e Juliana",era a história de um casal de famílias rivais que se apaixonaram causando assim no fim do conto,
uma tragédia culminada na morte de ambos.Mais tarde fiquei com a impressão de que um dramaturgo inglês de primeiro nome William havia escrito algo parecido,sem dúvida me plagiando.Calhorda.
                      Os atores todos estavam no elenco,exceto Juan,o astro.O irresponsavel estava atrasado.Então,eu interpretei Rômulo no lugar dele e prometi pra mim mesmo que da próxima vez daria a ele
um papel de árvore ou de vaca no pasto.Durante a apresentação minha concetração era perdida.A visão da princesa Taciana acalentava meus olhos.Como é estranhamente vívida na minha mente até o
presente momento.Aquela festa tradicional espanhola,ela sentada na cadeira,um longo vestido preto.Os olhos dela encontravam os meus e eu acreditava que havia uma troca de olhares entre nós dois.
Eu acreditava.Depois de tantas mulheres,a princesa Taciana havia feito meu coração tremular como o brasão da corte real.
                       No fim da peça ela foi a primeira a levantar-se e aplaudir em meio a todos aqueles nobres hipócritas.Muitos choravam e aplaudiam,minha peça era um sucesso.Fiquei até encabulado,tudo que
escrevo acho ruim,daí vem alguém,lê e diz que está ótimo.
                       Não consegui me apresentar a princesa Taciana,mas seu pai veio direto a mim me comprimentar e parabenizar.Saí de lá me sentindo vazio,achei que nunca mais a veria de novo.Tratei de tentar
esquece-la,pela primeira vez.Seria novamente obrigado a tal no futuro.Essa foi a primeira vez que a vi,e quero frizar,foi mágico.


III-Juan.

                   Meu amigo Juan,direi como se tornou meu rival.Só que primeiro,contarei as origens de nossa amizade.Fomos criados em orfanato de freiras,faziámos muitas rebeldias.Certa vez quando garotos pegamos
duas freiras conversando sobre Juan.Elas diziam:

                    "-Esse garoto é um perigo para corte.Você sabe de quem ele é filho?" e a outra freirinha dizia:

                    "-Ouvi dizer que é filho bastardo de..." nessa hora eu interrompi dizendo:

                    "-De quem Juan é filho?"Provavelmente de algum ladrão de baixo escalão certo?Hahahaha."

                  As freiras nos castigaram severamente,até demais,só porque escutamos sua conversa escondidos.Fiquei intrigado e queria sempre saber de quem Juan era filho,mas ele pouco se importava e a lembrança de nosso
castigo nos fazia esquecer essa idéia.
                   Naquela noite,da apresentação na corte,depois que nos retiramos a princesa Taciana ficou pensativa com a peça e eu desejava que assim ela estivesse unicamente por minha causa.Porém ela estava no jardim com uma rosa
vermelha na mão e ainda com seu vestido preto.Ela respirava fundo e sentia o aroma da flor.Nisso chega o equivocado Juan.Vai ao portão e ignorantemente diz:

                    "-Ei,menina! Sabe se ainda está acontecendo uma festa nesse palácio?"

                    "-Quem é você?"

                    "-Ei,seja educada e responda minha pergunta antes de fazer outra."

                    "-Oh!Você sabe com quem está falando?"

                    "-E você sabe quem sou eu?Sou o grande artista principal da compania de teatro que se apresenta hoje aqui."

                    "-Humpf.Pois saiba que a compania ja se apresentou."

                    "-Oh não!Henrique vai me matar!Me atrasei novamente para um espetáculo!"

                    "-Qual o seu nome,atrasado ator?"

                    "-Me chamo Juan.É um enorme prazer conhecer dama de formosura tão vertiginosa.Senhorita..."

                    "-Taciana.Sou a princesa Taciana."

                    "-Minha nossa!Está falando sério?Pois sendo sério ou não,é dificil imaginar título melhor para descreve-la do que princesa!"

                    "-É hábil com as palavras,Juan!"

                    "-Tendo sua graça como inspiração é impossivel ser diferente."

               Nessa hora os jovens são interrompidos pelos guardas reais que pedem para a princesa entrar e não mais trocar palavras com um vagabundo das ruas.Porém ela ainda ouviu de Juan:

                    "-Nos veremos de novo."


IV-A Trupe.

            Nossa trupe de atores viaja a Espanha levando nossas histórias e espalhando um pouco de nosso amor em cada canto dessas terras.Estamos acampados aqui em Sevilha agora onde dormimos
em nossa tenda.Muitas vezes somos hostilizados,confundidos com ciganos.Amanhã a tarde partiremos.
            Repouso minha cabeça na rede perto da fogueira e olho para as estrelas,nelas vejo os olhos da princesa Taciana.Não me sai da cabeça,nem mesmo agora que estou convícto de que ela nunca seria
minha,nem assim a lembrança de cada particula dela me deixa livre o pensamento.Eis que me aparece Juan:

                 "-Perdoe-me meu amigo.Mas permaneci tempo demais com aquela moça antes da apresentação.Sabe como são as moças de Sevilha.Não está muito bravo,está?"

                 "-Não amigo,não se preocupe.Deu tudo certo,foi um sucesso." respondi com aquele típico ar de tolo em estado de graça.

                 "-Que bom que não tenha se irritado,mas saiba que cheguei a ir ao palácio..."

                 "-Juan,acho que estou apaixonado."

                 "-Verdade?Eu ia te dizer a mesma coisa agora."

                 "-Hahaha.Brindemos então!Pois o amor está no ar!"

              Bebemos até a Lua se tornar baixa no estrelado céu de verão.Eu já estava apaixonado mas não queria adimitir,pois nunca acreditei em amor a primeira vista.Juan idém,se acahava superior a esse
sentimento pois dizia ser capaz de amar todas as mulheres da Espanha.Mas nunca uma única.Ele estava errado.
               Quando a manhã raiou um menssageiro a cavalo nos fez levantar.Nossas cabeças doiam e a náusea era terrível,graças ao vinho da noite passada.Dom Frederico III convocava o responsável pela trupe
para mais uma conversa,parace que ele havia gostado muito do desempenho da compania.De imediato pensei:"Verei Taciana novamente!"E sem dúvida meu amigo ao meu lado pensava o mesmo.Rapidamente
nos recompomos do estado de ressaca e partimos juntos,pois fundamos a compania juntos.


V-A Tarde de Taciana.

          Um capítulo merecidamente dedicado a essa tarde.Juan certamente poderia falar sobre ela melhor do que eu.Porém o escritor aqui sou eu e a narração dos fatos é do meu ponto de vista,o caro leitor me perdoe se eu
deixar fatos em branco.É porque de fato,pouco sei dos fatos inteiros.Aqui direi como Juan tomou vantagem sobre mim na conquista do coração dela.Se o caro leitor achou que eu sou o protagonista,se engana.
Pois essa é a história de Juan e Taciana.Apenas narro.
           Chegando ao enorme palácio.O rei Frederico III veio a nós dois e perguntou quem era o dramaturgo.Tomei a frente enquanto Juan ficou na sala sozinho.Entrei para o gabinete particular da realeza e meu amigo
solto pela mansão,livre para ir procurar Taciana.Na sala minhas esperanças foram avivadas,pois o rei dizia que sua filha suspirara a noite toda pelos corredores e quase não dormiu,ele sentiu que ela estava no mínimo
balançada.É sabido que ela viu a mim e a Juan na noite anterior.Por qual ela dedicou seus pensamentos aquela madrugada?Não sei responder até hoje.Enquanto tratava de burocracia e pagamentos com o rei,Juan passeava
no palácio.Até que finalmente se deparou com a princesa.Num dos corredores ela jogava dados com as criadas.Ele arrogantemente pediu pra jogar e disse:

             "-Falei que nos veríamos de novo."

           Foi a segunda vez que se viram.A princesa Taciana mandou as escravas se retirarem e jogou com Juan por um certo tempo.Depois sairam e foram para imenso jardim dos fundos.Eu depois da conversa demorada com o
severo rei,procurei Juan,mas imaginei que ele entediado de esperar havia se retirado sem fazer questão de me esperar.Enganei-me,como de costume.Os dois passaram juntos aquela tarde.Mas o sentimento de punhal atravessando
as costas eu só tive mais tarde,no retorno de Juan.Equanto não chego nesse tópico,dissertemos mais sobre aquela tarde.
           Se conheceram,trocaram pequenos segredos,amenidades,tudo como tem que ser.Ela era apaixonante!O homem que se apaixona por ela não é culpado,muito menos ela.Mas ela tem o encanto da pele morena,o jeito de menina
com a formosura de boneca.Taciana.Doce como tâmaras,as frutas das Tamareiras do deserto.A paixão dela por Juan nasceu ali.Ele foi maior que a timidez dela.
          


 VI-A Ruína.

           Pode parecer egoísmo da minha parte,entretanto,eu não me importo.Registrarei aqui o início da minha ruína,não da minha desistência e entenda não é fácil abrir mão de um coração é até desnecessário dizer isso,todos sabem.Adiante.
           Estava na tenda me preparando para a noite de hoje e para as noites de segunda e quarta-feira.Estabeleci um contrato com Dom Frederico,teremos apresentações particulares nesses dias,de todas as semanas,por um período não
determinado.
            Meus sentimentos afloravam,meu sangue pulsava.Veria a princesa novamente e teria a chance de conquistá-la.Não que me julgasse muito capaz,pois convenhamos,não sou nenhum príncipe.Mas estava cego,não me colocava na
minha posição de mero dramaturgo da corte.As criadas deveriam ser meu alvo,não as princesas.
             Lá pelo fim da tarde já com os atores ensaiando o próximo número,eu me pegava a escrever um poema para ela.Apelação da minha parte?Não!Era natural,era verdadeiro,todas as palavras nele contidas.A partir dali e até muitas vezes outrora,
as poesias e sonetos que escrevi,no fundo têm Taciana como inspiração latente.O poema era mais ou menos assim:

               "Rouba meu olhar como os pássaros que cantam pelo céu.
                 Toma meus pensamentos sem pedir licença.
                  Me arranca o fôlego sem se importar,
                  és tu formosa como o Lírio do vale..."

              Perdão novamente,não irie cantar o resto do poema.Mas se chamava "O Líro do Vale."Não recitarei o restante para não me doer demasiadamente o cotovelo,como deve pensar todo o indivíduo que abrir este conto para ler.Deve estar pensando que
sou um dramaturgo narrando uma dor de cotovelo,mas repito.É mais do que isso.A lição dessa história eu já vou estragar antes do fim.Não guardarei para o final e já aqui antecipo-me.Essa é uma história sobre o amor.A pureza e a inocencia do amor sem
medidas,sem fronteiras de distância ou de qualquer que for o impecilho.Isso ficará melhor entendido no final.Dizia eu,que escrevia um poema quando me chega Juan saltetante como uma lebre,era uma visão rídicula e cômica:

                "- Henrique!Meu amigo,tu és mais que um irmão!Estou tão feliz!"

                "-Também lhe considero como um irmão,mas não volte a me beijar a face novamente,por favor!"

                "-Estou mergulhado em amor,Henrique!Passei a tarde toda com ela!Como é encantadora sua simples presença!"

                "-Há!Fico feliz por você,meu amigo!"

                "-Nos beijamos a tarde toda,trocamos tantos carinhos!Ela é uma fada!Como aconteceu rápido!Nos vimos apenas duas vezes!E parece que nos amamos a anos!E quanto a ti?Vejo que escreve um poema,sois um enterno galante!"

                "-Sim,também estou perdido por uma dama!Mas ainda não tive sua sorte.Apenas a vi uma vez,hoje á noite a verei novamente.Onde declamarei para ela estes versos."

           Os infortúnios do destino são cruéis.Oh,como são!Eu e Juan amávamos a mesma mulher!Porém esso era o menor dos infortúnios.Acredite.Fica pior.
           A noite chegou e a compania Sol do Amanhã chegara por sua vez ao palácio.Como de costume,recitei meu discurso e apresentei meu elenco.A peça começou,encenavam algo que eu não me lembro.Naquela noite
eu nem me importava com a apresentação,estava ali para outro motivo.Quando finalmente tive uma oportunidade,me aproximei da princesa e falei com ela.Mas ela só respondia com a cabeça e mal concordava ou discordava de minhas
indagações.Timidez,ela era de fato muito tímida.De súbito ela tomou a palavra e me perguntou se eu havia escrito tais histórias tão belas,e confirmei que sim.Vi ali a chance de confessar-me a ela,por mais ridiculo que me parecesse isso,
pois nunca fui disso,sempre me aproximei de mulheres fáceis e vulgares,mas nunca de uma princesa.Tomei-a pela mão,aproveitando a ausência do rei ali.Ela me olhou confusa e eu mal sabia o que dizer.Acho que foi minha abordagem,
foi isso que minimizou minhas possibilidades.Me senti um franguinho recém saído das fraldas.Eu disse,olhando no oceano de seus olhos:

              "-Princesa Taciana,você ouve isso a todo momento com certeza,mas você teve a proesa de roubar o coração de um jovem poeta.Receitarei para ti um poema que lhe resumirá meus sentimentos por você."

             Então declamei.Sem eu saber,Juan me observava enquanto ele interpretava.Ao terminar meus versos,ela me olhava encantanda.Sem pensar ela respondeu assiduamente:

               "-Que lindo!"

             Como era pura a princesa Taciana!Ela merecia ouvir palavras assim inúmeras vezes!O rei regressou e eu tive que me afastar,estava muito empolgado por ela ter gostado de minhas palavras.Me enganava com frenquencia naqueles dias.
             Ao fim da peça,saimos todos do palácio.Eu não vi Juan junto da trupe.Deixei todos partirem e fiquei feito um borra botas ao lado de fora,recostado no portão.Escrevi em cerca de segundos uma carta para ela que no fim dizia:"Seja minha rainha."
Pedi que uma criada entregasse em mãos a Taciana e finalmente parti dali.Sonhei com ela aquela noite.
             O galo cantava no bosque e eu acordava,cheio de vida e emoção.Porém,logo,essa chama perdeu a brasa.Uma criada vinha de manhã,toda encapuzada me trazer uma correspondência.Estava assinada por Taciana.Até a grafia dela era adimiravel.
Me empolguei como um pinto recém saido da casca.Abri com mãos trêmulas a carta e nela,veio a tal ruína.A carta dizia:

               "-Fico infeliz em ser dessa forma,jovem poeta.Mas creio que não possa ser diferente.Pois não poderei ser sua rainha,meu coração ja encontrou abrigo em outros braços!E com sinceridade lhe digo,jovem dramaturgo Henrique.Meu amor pertence
a Juan!"

              A tal da punhalada nas costas foi forte,muito forte.A mulher da qual Juan falava,que havia beijado e acariciado,era Taciana!A minha princesa Taciana!Não pude crer na maldita sorte com a qual fui servido.Porém,o que eu poderia fazer?Tentar
persuadi-la?Não sou desses,a honra de saber sua derrota define grandes homens.Foi muito triste,hoje ainda ando triste em meio as garrafas e os perfumes de cabarés.Talvez,esse seja meu lugar.Não,não hei de pensar assim,acharei minha rainha em meio
a toda a vulgaridade das pagãs!Dor de cotovelo,adimito aqui,que esse capítulo atingiu tal patamar de quem ostenta o que não é seu.Mas afirmo agora,que não mais se repetirá.
Me ocuparei de contar apenas a história real,uma das mais belas histórias que ja tive notícia,o amor de Juan e Taciana!
                        



FIM DA PARTE 1.

Lírio do Vale-pt.2

VII-Inocência do Amor.

                Esqueçamos a ruína.E nos embreaguemos com amor.Bem-vindos ao puro capítulo do amor!Todavia,é preciso exclarecer alguns pontos.Antes de virarmos nossas cabecinhas e soltarmos suspiros de:"awnn!"
                Juan veio a mim com lágrimas nos olhos e tivemos um dos momentos mais fortes que dois amigos poderiam ter.A disputa de uma mulher.Ele me disse que estava com ela,quando esta,recebera minha carta.Ele veio cheio de dúvidas pois nunca antes
nos vimos em posição semelhante.Eu o confortei,disse que ele havia levado mais sorte que eu nessa disputa.Já tinhamos disputado outras mulheres,só que a diferença era que elas não significavam nada para nós.A única coisa que levava o vencedor era o direito
de se vangloriar.Mas nos conhecíamos como irmãos,pois crescemos juntos.Ele sabia que eu amava Taciana e eu sabia que ele a amava também.Porém eu lia as palavras dela própria dizendo que amava Juan.Ela já tinha feito sua escolha,não estava em discussão.
O único errado na história seria eu.E errado por errado,deixe-me cá com meus outros erros.Não sei se Juan se convenceu que eu não investiria mais em Taciana,nem mesmo eu estava certo disso,porém ele relevou.
                Falemos de amor.Eu creio que só fala com propriedade disso quem já amou e foi amado na mesma medida.Eu já fui.Antes de conhecer Taciana.Mas isso não entrará na história.O amor!Sem mais delongas,é belo.Como é belo,como é infanto.Como nos faz agir
de forma embasbacante!O sentimento de Juan e a princesa não trazia consigo sensações diferentes das que citei.Era nobre,muito nobre!Apesar da diferença social,problema com o qual eles driblaram magistralmente.
                Todos os dias,das manhas até as tardes,os dois se viam as escondidas pelas extensas terras do palácio.Frederico nem suspeitava que sua filha se encotrava com um atorzinho de trupe,pertencente a uma baixa categoria.
                Apenas uma das criadas,a mais próxima da princesa,era a única confidente.Ela sabia de tudo e dava as oportunidades para Juan entrar nas terras reais.Numa das tardes estava eu no palácio,com o objetivo de receber do rei nosso merecido pagamento;resolvi
fazer-me de abelha e bisbilhotar o casal,que mesquinho eu fui!Envergonho-me de dizer isso agora,mas foi muito belo ouvir aquilo,ouçam também:

                 "-Juan,se você estiver aqui só por causa do meu título de princesa?Não sente cobiça pelo dinheiro que possuí meu pai?"

                 "-Taciana,cofesso sim a ti,que cobiço muito,muito mesmo,algo que é de seu pai.Mas não falo de dinheiro,falo de ti!Da riqueze de poder me dizer teu homem."

                 "-Oh,Juan!Para sempre...Lhe prometo que para sempre serei sua e você será meu!"

                 "-Renunciaria até a realeza?"

                 "-De nada me vale a realeza,se você não estiver ao meu lado!"

                Me chamem chato se lhes convir,mas eu repito e não me canso.Como é belo o amor dessas pessoas!Como é puro!
                O tempo passava e o rei via sua filha cada vez mais radiante e contagiante.Isso mantinha minha trupe por perto e também Juan perto da princesa.Transcorriam já 2 meses.E eu agora só conseguia sentir afeto e adimiração por Taciana.E Juan,não sei bem
o motivo,talvez preocupação,mas estava frio comigo,eu entendia,agora ele era um homem compromissado.Sei como é desgastante um homem optar entre seus antigos hábitos e sua amada.Não cobrava dele presença nos bailes,penso que sou um homem compreensivo.
                Nas manhãs ela acordava e corria para janela.Na verdade ela mal dormia,rolava pela cama,acordava periodicamente e voltava a dormir.Mal conseguia aguardar a hora de ver seu mancebo despontar pelos cantos dos jardim,furtivamente.Lá em baixo,ele olhava para janela
e a via,ela reluzia como aurora.Se viam,secretamente.O perigo e o prazer de manterem encontros as escondidas incendiava ainda mais a paixão dos dois.
                 Ouvi dizer,certa vez,que o segundo amor verdadeiro é o que dura para sempre.Porque não carrega mais as surpresas da primeira paixão,te dá os pés nos chão de já conhecer tal sentimento e faz com que você não cometa erros de deslumbramento.Eu já havia tido o meu
primeiro amor,achei que Taciana poderia ser o segundo.Não foi e não devia ter citado isso.Mas achei que cabia a ocasião,pois quero dissertar sobre o fato do sentimento deles ser jovial e bonito,mesmo sendo o primeiro de ambos.Nada poderia estremecer ou lhes fazer duvidar do
que sentiam.Ou pelo menos,quase nada.


VIII-O Príncipe Desencantado.

                 Numa manhã chuvosa de sábado eu andava pelas ruas de Córdoba,para efetuar a compra de materias que seriam usados na próxima apresentação da trupe.Pus-me a caminhar pelas estradas de minha infância.Em Córdoba,ficava o orfanato onde cresci,com Juan.Estava
eu de frente para aqueles longos muros,que tanto imaginei fulgas com Juan,porém quando nossa barba mal começara a crescer pelo queixo,fomos tirados de lá por nos considerarem já muito velhos.Viver nas ruas foi dificil.Sempre sonhei com família,com minha origem,diferente de Juan,
ele não se importava.Sempre tive curiosidade em saber quem foi meu pai,minha mãe,se tive irmãos.Em meio a essa sensação de nostalgia,reconheci um rosto envelhecido pelo tempo.No portão do orfanato,estava irmã Judite.A freira que nos educou e ensinou a ler e escrever.Ela dizia:

                   "-Não fique aí parado na chuva,homem de Deus!Entre e espere essa chuva findar!"

                 Somente uma freira,é gentil a ponto de convidar um estranho da rua para adentrar em um lugar desprotegido,cheio de freirinhas e crianças.Pensei em recusar o convite,porém a vontade de rever o local de minha criação,era grande.
                 Lá dentro sentei-me numa cadeira do pátio e recebi uma manta para não me manter molhado.Meus olhos pesavam de lágrimas vendo aquelas crianças brincando,do mesmo modo que também eu fizera na infância.Como era bom e fácil ser criança!As irmãs me observam,mas nenhuma me
reconhece,eu lembro de todas.Betina,Cândida,Anastácia.Só senti falta da madre superiora Matilda.Chamei irmã Judite e a questionei quanto a ausencia de Matilda.Ela havia falecido!Não aguentei e peguei-me chorando,assim como Judite.E ela me perguntou quem eu era.Eu lhe respondi:"Sou Henrique!"
De imediato ela se recordou.Disse aquelas palavras típicas,como:"Você espichou!Se tornou um homem!"Contei para ela que me tornei dramaturgo e Juan ator.Ela disse que não havia profissão melhor para Juan,do que ator.O sujeito ja vivia imitando a tudo e a todos desde de moleque!A irmã ria-se com
demasia,lembrando de nossas travessuras.Então,contei que éramos contratados da corte e nos apresentavamos semanalmente no palácio.Nessa hora Judite se tornou pálida.Suas mãos tremiam e ela estava muito inquieta.Vi que o mal não era só físico e algo a encomodava.Lhe indaguei e ela disse que
era apenas um mal estar.Não me conformei e disse:

                   "-Irmã,você não pode mentir!E esconder a verdade não é certo.Conte-me,o que há?" e ela,começou a confessar como se eu fosse um sacerdote.Parecia lhe tirar um fardo de anos das costas.

                   "-Lembra-se de quando você e Juanito eram pequenos e me pegou conversando com Matilda?Nós os punimos severamente."

                   "-Até hoje não entendo porque castigo tão severo!Qual era o motivo,irmã?Divida comigo essa verdade!"

                   "-Henrique,isso não pode chegar nunca nos ouvidos de pessoas erradas!Seria uma tragédia!"

                    "-Diga irmã!Não se prolongue mais.Vi que você se encomodou quando eu falei sobre estarmos próximos da realeza?Qual o motivo?Por que eu e Juan não podemos estar próximos a corte?"

                    "-Henrique,quanto a você não há problema!Você era filho de um lenhador e uma servente.O seu pai morreu doente por uma terrivel febre,sua mãe grávida abateu-se e não resistiu ao parto.Deu a luz aqui
onde você cresceu..."

                   "-Então essa é minha origem...Mas e quanto a Juan?"

                   "-Bom meu jovem,o Juan...Tem sangue real."

                   "-O quê???" essas palavras me fizeram arregalar os olhos.

                   "-Dom Frederico III não tem apenas uma filha única.Ele tem um filho caçula.E esse filho é o seu amigo Juan!"

                Meus cabelos se arrepiaram.Eu me sentia como se estivesse embreagado.O que irmã Judite estava dizendo?Juan é um filho bastardo de Frederico III?Ela prosseguiu a explanação:

                   "-Frederico teve um filho fora do casamento antes de se tornar viúvo.Ele se deitava,contra a vontade,com uma de suas criadas.Ela engravidou e com medo do que poderia fazer o rei,ela se afastou.Mas o rei soube de sua barriga.Então mandou um soldado matar a criada,porém ela já havia dado a luz ao
menino.Então o soldado com medo do que poderia acontecer com ele se não cumprisse sua ordem,mandou a mulher se esconder,mas a desgraça ja havia se tornado maior.A mulher infeliz se matou e abandonou a criança ao léu.O soldado comovido,trouxe a criança para cá.E nos contou a historia e pediu segredo
por tudo que é mais sagrado.Porém,vivi com esse fardo até hoje.Agora ele se tornou pesado demais para mim e arriscado.Divido ele contigo,Henrique."
                                          
                A história me impressionou e muito.Juan é um príncipe!Quem diria,meu Deus,Juan é filho de Dom Frederico.Só que agora,outra coisa me encomodava,muito.Então dividi com a irmã:

                   "-Isso é muito ruim,ruim demais.Oh Santa Mãe de Deus!Que acasos cruéis do destino!"

                   "-O que há,Henrique?"

                   "-Infotúnios infidados é o que há irmã.Pois a princesa Taciana e Juan são irmãos!"

                   "-Sim,de fato são.E vocês frequentam o palácio,pelo que me dissestes.Isso é perigoso,irmãos as vezes sentem ligações que fogem a nossa compreensão!"

                   "-Pior irmã!Muito pior!Juan e Taciana,são namarodos!Eles namoram secretamente,foram atingidos pelos anjos do amor!Que tragédia,Meu Deus!"

                 Agora era a irmã Judite quem estava perpléxa.Irmãos e namorados.Imagine isso na cabeça de uma freira!Ela fez em si o sinal da cruz três vezes e me alertou:

                   "-Henrique,você não pode compactuar com uma coisa dessas!Você precisa alertá-los da verdade!Eles não podem ser amantes.Isso condenaria a alma de ambos ao inferno.É um pecado mortal!Avise-os,Henrique!"

                   "-Não irmã!Não posso,eles são tão felizes!Além disso Juan não me acreditaria e diria que inventei tudo isso,pois também eu amei Taciana um dia,porém Deus decretou que os dois se unissem!"

                   "-Deus jamais decretaria isso,Juan!É pecado!Tu tens de fazer algo!"

                   "-Não.Você está errada.Não foi o próprio Cristo Quem pregou que o amor deve prevalecer?Que devemos nos amar uns aos outros?"

                   "-Não é desse tipo de amor que Ele fala,Henrique!O amor deles é vil e carnal."

                   "-Como podes dizer isso se nem os conhece?O amor deles é puro e inocente.Eles não se conheciam,não sabem que são irmãos,deixe-mos assim e os livremos do pecado!"

                   "-Aí os pecadores seremos nós,por omição!A verdade precisa vir a tona."

                   "-Então contes tú!Pois não serei eu o responsavel por estragar algo tão puro!Se é pecado amar,serei pecador!" respondi compeltamene furioso.A irmã balançava a cabeça negativamente.Não me despedi dela,apenas levantei-me e parti.

                 Quando saí de lá a chuva não havia cessado.Voltei a Sevilha e cheguei no acampamento á noite.Os atores ensaiavam, e me pediam conselho de como deviam se portar em cena,os ignorei estava muito atordoado.Nunca havia visto situação parecida.Me arrependi amargamente de ter entrado
novamente naquele orfanato.Revirar o passado foi ruim,devia te-lo deixado intácto.
                  Os dias se passaram e quando chegou a primeira segunda-feira,depois do ocorrido,eu não fui ao palácio.Não tive coragem.Os atores fizeram um número de comédia imporvisado que,soube depois ter sido um sucesso.Minha falta não foi sentida no corte.Nem por Dom Frederico,nem por Taciana
e tampouco por Juan.
                   Eu não conseguia dormir á noite.Não encontrava repouso em meu leito.A revelação que me foi feita,não deixáva-me descansar.Era atormentador,meus pensamentos,eram atormentadores.Eram confusos,eu não sabia o que era certo,o que era errado.Minhas convicções haviam sido estremecidas.
                   Na terça-feira recebi uma correspondência,endereçada do orfanato "Filhos da Luz."O orfanato onde cresci,onde vivi e onde minha sanidade foi abalada no último sábado.A carta estava assinada por,Irmã Judite.Abri mas não tive ânimo de ler.Deixei-a sobre a mesa.Tomei meus maniscritos,minha pena
e tinta.Coloquei-me a escrever.Uma forma de esquecer,ou tentar desviar-se de fraquezas próprias.Escrever é isso.Colocar num pedaço de papel palavas tolas.Fiz isso o resto do dia.Consegui dormir esta noite,porém não creio que tenha sido o melhor a fazer.Tive um pesadelo horrível.No sonho,eu contava a
Taciana que Juan é seu irmão.Ela dizia ter nojo de si própria e se considerava uma pecadora que deveria ser punida pela Santa Inquisição.Já Juan,dizia que eu inventei tudo só para separar os dois.A sensação que eu tinha era frustrante.Nos sonhos as sensações que temos é o que caracteriza o sonho como um
pesadelo.E nesse caso,minhas sensações eram as piores.Eu acordei,quando no sonho,Juan atravessa meu peito com um punhal.
                   Acordei suado e atônito.Saí da tenda e vi Juan que se preparava para mais uma incursão secreta no palácio,seus olhos brilhavam só de imaginar o encontro com sua amante.Eu jamais descansaria se tivesse que carregar o peso da culpa,por ser responsavel por separar os dois.Mas infelizmente sou humano,
e não atingi a excelência.Cogitei a possibilidade de os dois se sentirem culpados e perderem o interesse um no outro,se soubessem a verdade.O caminho para o coração da princesa Taciana estaria livre.Fechei meus olhos e me senti como a serpente que tentou Eva no paraíso.Corri feito cavalo atiçado pelo bosque.
Juan me viu e foi atrás de mim.Me encontrou,aos prantos a beira do riacho.Assustou-se e perguntou:

                      "-Henrique!Por que choras,meu irmão?"

                      "-Desculpe meu amigo e irmão!Sou um homem muito ruim!Meus pensamentos são sujos!Perdoe-me!" eu disse soluçando.

                      "-Se refere a pensamentos com relação a Taciana e eu?Não se preocupe com isso,Henrique.Te considero irmão.E te conheço de pequeno,sei que sois um homem excelentemente bom."

                    Cada vez que ele usava a palavra irmão,meu peito era atravessado por uma lança invisível.Pedi que ele se apressasse e nunca,nunca ousasse magoar o coração de Taciana.Fiz ele prometer e ele me deu sua palavra e reforçou dizendo que se casaria com ela um dia.Esperei ele partir e voltei para a tenda,peguei uma cheia
garrafa de vinho e voltei ao riacho para embreagar-me.Casados.Irmãos casados.Meus pensamentos tendiam para o pior.
                     Dormi o resto da tarde,no meio do mato.Quando a lua e as estrelas tomaram a claridade do dia naquela quarta,a trupe se dirigiu ao palácio,para mais um número.Quando lá cheguei,eles ja se apresentavam.Taciana ria e se divertia com a comédia.Ela estava tão feliz!Me alegrei por vê-la desse jeito.A noite foi bela,contemplando
a princesa que só tinha olhos para Juan,o protagonista do número.O espetáculo findou,nossa criatividade era grande,quando eu não escrevia nada,os atores improvisavam e se saiam bem,a corte gostava de todos nós.
                      Na saída,pelo jardim,ouço um susurro me chamar.Era Taciana.Estranho,eu mal tinha trocado palavras com ela desde que se uniu a Juan.Ela me leva até os fundos do jardim.Lá vejo Juan me esperando.Minha pernas começaram a fraqueijar,pois vi que ele tinha na mão um envelope.Eu sabia qual envelope era.Era a carta de irmã
Judite.Não sabia o que havia na carta,pois eu não tinha lido.Para meu alívio.Juan sorriu.Um sorriso largo.Ele disse:

                       "-Ora você,visitou irmã Judite e não me avisou!Encontrei esse envolope na mesa hoje a tarde.Vi o rementente,"Orfanato Filhos da Luz".Quando li,soube que você estava com Judite e que ela vem nos ve amanhã!Isso é demais,preciso apresentar Taciana para ela." meu alívio durou apenas alguns segundos,logo voltei a inquietação.

                       "-Quem é irmã Judite?" Taciana perguntou-me.Entre palavras gagas,eu disse:

                       "-O mais próximo que tivemos de uma mãe." Juan olhou para minha face e estranhou:

                       "-Não está feliz,Henrique?"

                      Não respondi.Apenas disse que estava cansando e precisava ir deitar-me.Só que deitar não adiantava,pois não conseguiria dormir.


IX-O Lírio Despetalado.

                    Passei a noite em claro.Só que no fim dela,quando a manhã raiava,cochilei.Fui despertado pelo entusiasmado Juan.Ele estava com Taciana.A princesa havia combinado a fulga com sua serviçal que lhe deu cobertura.No horizonte despontava uma caravana.Podíamos ver a senhorinha de preto no meio dos viajantes.Era a Judite.
                    Quando ela chegou,eu engoli seco.Só podia olhar para baixo.Não conseguia encarar,Juan,Taciana e nem Judite.A freirinha recebeu um forte abraço de Juan,ela sentiu a emoção de uma mãe que não vê o filho a anos.Taciana foi apresentada a Judite e Juan brincou dizendo:"Sou quase um príncepe,namoro uma princesa!"
Essa palavras não soaram bem aos ouvidos de Judite.Daí entramos,não havia nada que eu pudesse fazer para calar a irmã.Na tenda,ela explicou o motivo de sua visita:

                         "-A visita de Henrique ao orfanato,me fez relembrar uma história que muito guardei.Uma história triste.Que seria segredo até hoje,se a mão de Deus não tivesse ligado o destino de vocês.Henrique tinha razão,vocês são um casal apaixonado..."

                      Juan e Taciana olhavam atentos,de mãos dadas.Prestando bem a atenção,os dois são parecidos,o sorriso,os olhos.Se olhar com atenção é nítido que são irmãos.
                      A história que Judite contou a eles,o bom leitor já sabe,pois já vos contei.Não a reescreverei,porque meu pulso dói.
                      Quanto a reação.A reação deles foi indescritivel.Mas tentarei relatar ao máximo.
                      Se olhavam,se pasmavam,choravam,não diziam nada,nem se tocavam.Apenas choravam olhando um ao outro.Não coseguia saber como eles se sentiam,pois era impossivel me imaginar em situação parecida,eu nunca soube de nenhuma situação igual,talvez nas tregédias gregas,porém não me recordava de nenhuma.Enfim,ela estendeu
sua mão e tocou o rosto dele.Os dois se levantaram,ele olhou para ela e disse:
          
                          "-Case-se comigo Taciana,pois amo você mais do que tudo."

                          "-Oh,Juan!Nada poderá ser maior que meu amor por ti!Caso-me sim!E serei tua para sempre!"

                       Então se beijaram.Me retirei da sala,pois ainda no fundo aquela cena me entristecia.Também eu amava Taciana.Só que me confortei,e ri sozinho.Porque ali vi.Pude presenciar a mais pura prova de amor verdadeiro.Nunca havia visto o amor ser desmonstrado assim.Sem barreiras,sem preconceitos,sem limites.Eles não se importavam com nada,
só queriam ser felizes.Minha fé no ser humano cresceu ainda mais.Quando ouço alguém dizer:"Quanto mais conheço o ser humano,mais gosto de meus cães!"Pessoas dizem isso quando se chocam com a crueldade humana.Mas diga,o ser humano só é capaz de destruir?Existe alguma outra criatura divina capaz de amar dessa forma?Existe sentimento
mais forte do que amor?Acho que não.E ali naquela tenda,naquela quinta-feira,soube que a capacidade do ser humano de amar,não tem limites.
                        A freira saiu da tenda e disse pra mim que sua parte estava feita.Adimiti que ela agiu certo lhes contando a verdade.Pois a verdade tem de ser revelada,cedo ou tarde.Ela partiu e desejou felicidade para ambos,se prontificou em celebrar um casamento simbólico para eles.Pois a igreja jamais adimitiria dois irmãos casando-se no altar.Até o coração
crente daquela velha senhora se comoveu com os dois,mas existem corações mais gelados que não aceitariam,e é desses que falarei agora.
                        Nossa princesa voltou ao palácio.Decidida e muito desapontada com seu pai,ela foi ao seu aposento e preparou suas malas.Estava pronta para partir com Juan.A princesa largaria a realeza para fugir com seu amado.Antes,ela iria ter de dizer algumas palavras a seu pai.Aquele inescrupuloso rei.
                        No meio do palácio,de malas prontas a princesa chamou seu pai e disse:

                          "-Vossa majestade hoje perderá mais uma de sua linhagem.Não se preocupe em mandar matar-me como tentou fazer com meu irmão.Pois hoje parto e jamais voltarei a esse palácio.Adeus papai!"

                          "-Taciana!Que loucura é essa?A ausencia de um homem a fez enlouquecer?" e o canalha real continuava a soltar seu veneno.

                           "-Pois saiba que tenho um homem sim.E é Juan,da compania de teatro,nos encotramos todos os dias sem que você pudesse ver.E para sua infelicidade total,ele é o filho que você tentou matar,o filho da criada.Criada que você traia minha mãe.Por isso ela morreu abatida,nenhuma mulher sobreviveria ao seu lado!"

                           "-Aquele bastardinho está vivo ainda hoje?Pois isso não durará mais,essa velha história acabará aqui e você Taciana,só sairá dessas terras comigo morto!Guardas!Tranquem minha filha no seu quarto,e vão para o acampamento daquela trupe de quinta categoria,ateiem fogo em tudo e que nenhum deles sobreviva para contar a história!"

                         E realmente eu não estaria aqui com a pena e a tinta em mãos se a criada fiel de Taciana não tivesse vindo nos avisar.Ela nos contou tudo.Mandei meus colegas partirem,disse para se apressarem e que deixassem o menos usual.A trupe se retirou,Juan pegou com um dos nossos,duas espadas.Me deu uma e disse:

                            "-Amigo,lhe rogo que por favor,ajude-me a tirar Taciana do cárcere e juro que partiremos para longe,esperando que você possa se livrar de seu incômodo interior!"

                            "-Não digas uma bobagem tamanha,meu irmão.Vocês dois são as pessoas que mais tenho afeto nessa vida,são o mais próximos que tenho de uma família.Não quero os dois longe de mim!Agora cale-se e vamos logo salvar essa princesa!"

                          Meu amigo sorriu,e juntos partimos a cavalo para o palácio.
                          Pretensiosos,chegamos ao local.Nós dois,contra a guarda real.Porém,nem um exército de mil homens pode superar a vontade de um homem apaixonado,nesse caso éramos dois.Eu não podia deixar Juan morrer,nem ao menos se ferir.Ele conhecia os atalhos da mansão melhor do que eu,sugeri então que ele entrasse pela janela enquanto eu me
apresentava a porta.Ele recusou e disse que entraríamos juntos pela porta da frente.Insisti e disse que ele só precisaria entrar pela janela,sair com Taciana e eu os acompanharia depois,porque se entrassemos juntos,Dom Frederico poderia reforçar a segurança na entrada dos aposentos dela.Foi o que fizemos,Juan que já era acostumado a perambular pela
propriedade real,soube evitar os guardas e entrou furtivamente para o andar do quarto de Taciana.Eu não tive a mesma fortuna.Caminhei para a porta da frente e me deparei com dosi guardas,que disseram:

                            "-Ninguém entra ou sai desse palácio,sem a ordem da majestade."

                             "-Pois informe a Dom Frederico que estou aqui e ele me receberá,pois sou o grande dramaturgo real!' dizer isso foi uma das idéias mais estúpidas que tive desde então.

                              "-Ah,você pertence a trupe da qual o rei mandou assassinar a todos?Acaba de dizer suas últimas palavras!"

                         Adimito e é detutível,não sou bom com a espada.Abomino a violência,mas a ocasião me obrigou.No primeiro golpe do hábil soldado,minha espada tomou asas e voou.Me vi desarmado na primeira investida!Minha alternativa foi simples,corri feito um louco.Só que estratégicamente,dei uma volta completa na mansão com eles em meu encalço,quando
completei a volta eu estava de frente para a entrada.Apenas entrei e tranquei os guardas do lado de fora.Grande idéia!No saguão principal me deparei com Taciana assustada carregando sua mala equanto Dom Frederico e Juan duelavam na espada.Confesso que ele era melhor que eu na esgrima e sua luta com o perverso rei fazia os olhos de Taciana brilharem.Juan estava cumprindo
seu papel de herói,protagonista e mocinho.Já havia visto ele digladiar-se em cena,mas de verdade assim nunca antes.Era uma luta de vida ou morte.Disputavam-se ali,valores,linhagem,honra e amor.O maldito rei dizia:

                               "-És de fato um bastardo!Enamora-se de sua própria irmã?Acaso não sabes que ela tem seu sangue?Vais ser tio e pai e de seu filhos?Nunca deverias ter nascido!"                      

                                "-O amor verdadeiro nos uniu!E isso é algo que um coração gelado como o seu jamais poderá entender!"

                            Juan começou a falhar e foi atingido no braço,foi ao chão.A princesa gritou o nome dele,fazendo-o se destrair ainda mais.Dom Frederico preparava-se para desferir um golpe mortal,só que nessa hora visti a capa do heroismo e tomei um castiçal de ouro que ali estava.Com um golpe único atingi a testa do rei,que foi a baixo.Juan disse:"Há!Mataste o rei!"
Mas eu repliquei:"Não,apenas está desmaiado.Retiremo-nos daqui logo."
                           A princesa Taciana olhou-me nos olhos e me abraçou forte.Ela disse:"És um herói poeta!"Me orgulhei,mas respondi a ela:"Talvez seja poeta,mas herói nunca hei de ser." Nos apressamos e saimos dali.


X-A Eterna Primavera do Lírio.

                      Taciana que conhecia saídas secretas do palácio,construidas com o intuito de fulgas rápidas caso houvesse invasão de reinos vizinhos,nos tirou dali rápido.Montamos nossos cavalos e disparamos para encontrar a compania.Cavalgamos pela tarde toda.Ainda á noite encontramos o acampamento.Pedi que levantassem todos e que saiassemos das terras de Sevilha,
o rei poderia ainda estar em nosso encalço e querendo trazer de volta sua filha.Entretanto,a frieza do rei era maior ainda do que podíamos imaginar.Passaram 3 dias e soubemos que ele havia dito que sua filha estava morta!Ele nem se deu ao trabalho de vir atrás de nós,simplesmente nos ignorou,provavelmente temesse que a verdade viesse a tona.Com toda a certeza ele
seria destronado.Não conheci homem pior em toda vida.Ele persistiu em sua farça e a sua filha jamais voltou a lembrar que um dia teve pai.
                       No quarto dia veio uma notícia.Juan e Taciana vieram a mim já decididos,apenas vinham me informar.Juan deixaria a compania e com algumas moedas que Taciana trazia escondida em sua mala,construiriam juntos,uma vida em outras terras.O casal estava livre para ser feliz,não existia empecilho.Comprimentei Juan com lárgimas nos olhos.Lágrimas de felicidade!Nunca havia
visto meu amigo tão feliz!E a princesa Taciana,não mais princesa de trono,mais ainda princesa.A princesa de Juan!Quantas vezes já disse isso?Não me lembro,mas digo novamente.Como é adimirável o amor deles!Que sentimento fortíssimo!Serão felizes por quanto durar a felicidade no mundo!Eram as almas mais belas!Me disseram que partiriam pela manhã.Naquela noite divertíamos
sem medidas,como se o dia seguinte fosse o último do firmamamento.Bebemos,cantamos e dançamos.Toda a trupe se animou aquela noite!Não havia ninguém triste!Até que o de súbito,foram todos dormir.
                        Bem cedo,muito cedo.Antes do Sol brilhar.Equanto dormia,ainda hoje não sei se sonhava ou se foi real.Senti lábios tocarem os meus,era um doce beijo.Continuei de olhos fechados e sorri.Quando os abri,não vi ninguém próximo de mim.Saí da tenda e vi Taciana,como estava linda,ela usava aquele predestinado vestido preto.Estava montada no cavalo,Juan vinha em seguida
com a bagagem de ambos.Abracei meu amigo e irmão.Taciana só olhava para baixo e nunca para mim.A trupe veio e despediram-se todos de Juan e de sua amada.Até que por fim,quando ja iam trotando os cavalos,ela me olhou.Vi lágrimas em seus olhos,que os faziam brilhar.Sorri e ela sorriu.Desejei com a sinceridade própria dos poetas que fossem felizes e se amassem intessamente,
sem a nada temer.
                        Passaram-se dias desde de a partida,mas antes de eu desncançar minha pena.Preciso contar sobre essa manhã.
                        Sonhei com aquele estranho beijo,que me acordara na manhã da partida do casal.Fiquei meio encomodado e descompromissadamente meti a mão por baixo do meu travesseiro,encontrei uma carta!Sim caro leitor,uma carta!Estranhei como também vós deveis estranhar.Abri.As palavras que nela estavam eram essas,sem tirar nem acrescentar detalhes:


                                "O amor é mesmo sem sentido!Por isso adimiro poetas que tentam compreende-lo.Você poeta,me fez pensar sobre ele.
                                  Quantos homens uma mulher é capaz de amar durante a vida?Em quantos pedaços pode se dividir um coração?Acho que
                                  nunca teremos tais respostas,pois se a tivéssemos,provavelmente descobriríamos o segredo da vida!
                                  Ao te ver gostei ti,mas conheci Juan.Apaixonei-me,por ele.
                                  Talvez essas palavras o confortem ou apenas ou deixem pior.Espero a primeira opção.Nunca mais nos veremos,pois sua caravana viaja sempre,mas
                                  quem sabe a mão de Deus nos cruze novamente.Porém aqui digo-te em verdade.Comigo,sempre estarás no pensamento.Acho que tenho sentimentos por ti.Quais?Não sei."
                                
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            
                          Sou um péssimo dramaturgo,não soube terminar essa história.Foi certo mostrar esta carta ao fim de tudo?Não sei.Julguem-me!É o que mais faz o ser humano,apenas julgue-me.
                          Andando uma vez,pelas terras de Málaga soube de um casamento,os noivos eram Juanito e Tácia.Coincidência?Eu acredito em coincidência.Enfim,sem mais me prolongar,entreti-me
muito contando a vocês a linda história da Princesa Taciana e do Príncipe Juan!Adoro clichês,por isso ficam aqui as últimas palavras.

                            Eles foram felizes para sempre!

quarta-feira, 9 de março de 2011

The Kiss of a Fairy.

The melting of the mouth,
the feeling in the body,
the beat of heart.
All those things
mingle with the simple
touch of the lips.
The taste,the heat,the breath.
Two tongues dancing,trying to find
each other.
When they finaly find each other,
follows the flow beautifully.
And all we can do,is close the eyes
and feel the sweet kiss of a fairy. 

terça-feira, 1 de março de 2011

Visões do Novo Século pt.3- "Teus Risonhos Lindos Campos..."

        O mundo muda,o país muda,o Rio de Janeiro muda,mas o âmago não se perde.Desde quando eu era moleque venho pro Arpoador
no fim da tarde,ver o Sol se esconder atrás do mar,sempre que estou muito puto.Como agora.Sou policial civil,estamos sempre putos,mas agora eu to muito.
           Temos um maldito serial killer a solta.É,ao longo do tempo vieram outros filhos da puta como o maníaco do parque por aqui e ali,mas hoje
em pleno ano de 2025,me aparece um outro safado desses e ainda por cima na minha cidade,no meu setor.
            O desgraçado vem matando psicólogos e estudantes de psicologia.E ele já vem fazendo isso a dois anos.Foram 5 vítimas.Duas em Janeiro 2023,
duas em Fevereiro 2024 e a primeira agora em Março de 2025.Não vamos deixar ele matar a segunda do ano,segundo o padrão dele ele vai matar mais uma
ainda esse mês,já estamos no dia 5.A coisa boa,é que temos o perfil psicológico dele traçado.Temos um suspeito em potêncial,inclusive iremos à casa dele
logo mais.O cretino se chama Leonardo Monteiro,27 anos,mora na Urca.A mãe dele ela era psicologa infantil.Ela deve ter enchido tanto o saco do moleque com aquelas
babozeiras típicas dessa área que ele ficou doido.Leonardo ja foi preso por agressão algumas vezes,é usuário de spank tem um histórico que deixaria qualquer promotor
excitado.Irei ao endereço dele com um mandato e pronto pra encher a cara dele de porrada.Não há dúvidas que ele é nosso homem,só precisamos da prova cabal.
               Agora vou explicar por que estou muito puto.Minha filha,Natália.Ela tem 19 anos,sumiu de casa.Está a três dias fora.A primeira coisa que pensei no primeiro dia,
só por que ja tava tarde e ela não aparecia,foi ir na casa do namorado dela com minha arma na mão,mas minha mulher não deixou.Apenas liguei pra ele,o coitado gagueijava no
telefone.Mas ele também não sabia dela.Segundo ele a ultima vez em que estiveram juntos foi quando ele a deixou na porta da faculdade.Desde então ela não dá notícias.
Já deu pra ter noção de como estou.Imagina minha mulher.Meus superiores pediram pra eu me afastar do caso do serial killer,mas estou no caso desde a segunda morte.Não
não vou deixar essa pra ninguém,é a minha filha porra!Estou focado e vou pegar esse filho da puta.Seja ele Leonardo Monteiro ou seja outro,eu vou pegar,antes que ele faça algo com
minha filha.Meu Deus,se ele estiver com as mãos nela realmente não sei do que sou capaz.Mas sou profissional a anos.Sei bem como agir por baixo dos panos.Será que ele sabe que pegou
minha filha?Será que ele sabe que eu estou na cola dele?Eu sei a cara do sujeito e nunca tinha visto ele antes.Mas minha filha se encaixa no padrão dele.O destino é irônico,comigo
ele gosta de fazer essas coisas.Enfim,ponho meus ânimos no lugar e me retiro das pedras do Arpoador.Acendo um cigarro verde e dirijo a toda para o endereço do cara.
                  Casa de playboy por fora,eu toco a campainha em vão.Então meto o pé na porta e entro.Por dentro a casa é um chiqueiro,garrafas,papelotes com spank,camisinhas usadas,filmes pornôs.
Cada objeto que vejo me faz querer mais e mais por as mãos nele.Econtro livros de psicologia e de filosofia.Sigmund Freud,Immanuel Kant,John Locke,David Hume.O cara é um nerd do mal.
                     Nessa hora meu parceiro,Cabral.Entra pela porta.E vai me dando esporro:

                    "-Caralho Meirelles!O que você ta fazendo?Não era pra você me esperar?"

                    "-Equanto agente espera Leonardo tá solto por aí.Ele não está na casa.Chame o resto da equipe e mande vasculhar tudo e pra não dar problema,diga que chegamos aqui juntos."

                    "-Meirelles,segura a tua onda,cara."

                   "-Pode deixar,to segurando.Agora escuta.Sabemos que ele mata profissionais da psicologia e estudantes.Mas ele tinha um bom relacionamento com a mãe psicóloga,apesar dos pesares.
Até uma certa idade da vida,ele era um bom sujeito.O que o fez pirar de vez?O uso do spank?E quanto as vítimas,ele as escolhe aleatóriamente só pelo fato de elas serem estudantes e psicólogos?Todas
as vítimas eram pessoas desconhecidas dele.O que determina pra ele a pessoa que ele precisa matar?Nem tudo é claro para mim.Esse padrão de débio mental eu não tô acostumado,isso parece um thriller
americano!"

                      A equipe chega e vasculha tudo.Econtraram instrumentos e ferramentas incomuns.Leonardo Monteiro é um playboy,não estuda e nunca trabalhou.Nunca precisou.Seu pai era dono de uma indústria
farmaceutica,bem sucedido mas morreu novo,aos 58,Leonardo tinha 17 anos.Hoje ele herdou uma bolada do pai,grande o bastante para garantir uma vida bacana para ele e até pare seus netos.O calhorda tem tempo
de sobra pra escolher,planejar e atacar suas vítimas.Mas por quê?Ainda não está claro.Por que matar psicólogos?A mãe dele,sempre teve bom relacionamento com ele.Pra quê matar esses pobres doutores da mente?
Só porque pagamos eles pra nos dar opinião sobre a nossa vida?Tá,até eu iria querer matar um psicologo se eu fosse um psicopata.Menos minha filha.Natália.Meu Deus!Que ela esteja bem!
                      O pessoal permanace checando os pormenores equanto eu ligo para Clarice e aviso que não voltarei pra jantar.Ela reclama,dizendo que se sente só e ameaçada,ainda mais com o desaparecimento de nossa filha.
Ela é mulher,somos casados a 10 anos.Ela sempre reclama de tudo,mas dessa vez ela tem razão.Eu dou uma desculpa qualquer e vou pra delegacia.
                       Quando estaciono meu carro vejo um burburinho na entrada da delegacia.Reporteres vêm em cima de mim,como urubus na carniça.Eles perguntam:

                            "-É verdade que o matador de psicólogos está preso?"

                         Eu sempre odiei essa apelido que a imprensa inventou.Mas quando escutei,arregalei meus olhos e apressei o passo até o saguão do departamento.Lá estava o cara.Leonardo Monteiro algemado e sentado na sala
de espera.Me senti ridiculo logo de cara,eu estava voltando da casa dele com a maior cara de bunda e ele tava ali,tipo me esperando.
                         Espantamos a imprensa e dissemos que o sujeito havia se apresentado na delegacia depois de uma intimação.E que é só um suspeito.
                         O cara tava ali sentado na cadeira com a uma deslavada cara de deboche.Olhei bem nos olhos dele e o levei para a sala de interrogatório.No caminho,eu pensava em qual dos métodos de interrogação da Santa Inquisição eu iria
usar nele.
                           Enfim chegamos na sala.Entro eu,a delegada Janice e Cabral,meu parceiro.Leonardo se senta na cadeira e Janice lê os direitos do cara.Ele sorri e a minha vontade de socar a cara dele aumenta.Janice termina finalmente de falar,Leonardo me
encara e eu começo:

                            "-Tudo bem meu filho?Quer um copo de água ou café?" e ele responde:

                            "-Sim.Água,por favor." Cabral enche um copo com água e joga toda ela na cara de Leonardo.

                            "-É uma pena você não ter pedido café,está bem quentinho."ele continuava a me olhar como se já me conhecesse.Tem a voz calma de quem fala com convicção.Já estive diante de outros assassinos e esse tipo é o pior.O comportamento dele
é padrão.Calmo,demonstrando estar alheio mas na verdade calcula cada passo que dá.Não estou na frente de um assassino drogado e compulsivo e sim de um matador profissional que por algum motivo está aqui e vou descobrir agora:

                             "-Então sr.Leonardo Monteiro,qual o motivo de sua visita ao nosso humilde departamento?"

                             "-Meirelles,não há necessidade de formalidade,afinal você está no meu encalço a pelo menos 3 anos.Não precisa se dar ao tabalho de procurar uma prova cabal,pois estou aqui a confessar meus crimes."Tudo parecia claro pra mim.Leonardo de alguma
forma sabia que eu o investigo e sequestrou minha filha.Agora veio aqui para querer alguma chantagem.Mas como esse safado tem tantas informações?Ele me chamou pelo meu nome!Quem realmente é esse cara?Querendo respostas,o agarro pela camisa e mostro
que não estou disposto a brincadeiras.
                             
                              A psique humana reflete no corpo.Para interrogar um suspeito agente usa alguns métodos típicos de psicologia,só que ao contrário.Ao invés de acalmar a mente do suspeito usamos técnicas para deixá-lo acuado e desembuchar tudo o que queremos saber.
                              Enquanto seguro o cara,me pergunto se tais artimanhas funcionam em um doente mental desses.Reflito sobre o fato de eu ter quase me tornado um psicólogo.Cheguei a estudar psicologia por uns anos,a mente humana sempre me fascinou.Só que no fim das contas
eu preferi prender gente que tira dinheiro e outras coisas das pessoas e não passar para o lado deles,por que na minha opinião é o que fazem os psicólogos.Eu devia ter tentado psiquiatria,que é um seguimento sério.Enfim,toda essa reflexão e o cara tá aqui me observando segurá-lo
pelas golas,vamos ao que interessa:  

                               "-Desgraçado!Onde está minha filha?Se você tocou nela...!Só para você saber,as câmeras estão desligadas tudo o que acontecer aqui dentro,ninguém vai saber.Então comece a falar por quê não tenho saco para quaisquer que sejam seus joguinhos!"

                            Nessa hora Cabral intervém.Me afasta do cara e me chama pra tomar uma água do lado de fora da sala.Ele me diz que estou altamente envolvido e minha presença na sala vai acabar impossibilitando as tentativas de arrancar alguma coisa de Leonardo.Eu concordo.
Me tranco no banheiro e penso em chorar feito uma mininha virgem que acaba de brigar com o primeiro namoradinho,porém tive uma idéia melhor.Saco um baseado do bolso e acendo.Relaxo.Abaixo a tampa da privada e me sento,me acalmo.Olho para a porta do banheiro e leio uma frase
do Bob Marley: "Queria ser um baseado.Para nascer em seus dedos,morrer em seus lábios e fazer tua cabeça." Lindo.Até para um sujeito amargo feito eu.Isso me lembra Clarice,quando éramos jovens,nos conhecemos e nos amávamos.Tudo era lindo.Nossa filha,um anjo.O tempo passou ela
foi crescendo e o trabalho sempre me mantendo fora de casa.Sou um pai ausente,Clarice me faz lembrar disso todos os dias.Pensando bem acho que mal conheço minha filha.Preciso trazê-la de volta pra casa,pedir desculpas.Explicar por que sou sempre tão distante.Recuperar o tempo perdido.
Mas pra isso,tenho primeiro que entrar na mente de Leonardo Monteiro e saber dele onde está Natália.Retorno a sala de interrogatório.Me deparo com Leonardo encapuzado por um pano equanto Janice derrama um copo de água na cara dele.Ele esperneia.E se debate,mas Cabral é mais forte e o
segura firme.Vendo em meu semblante que estou tranquilo agora,Janice me pega pelo braço e fala em meu ouvido:

                              "-Esse moleque não é um psicopata.Tenho certeza de que tem alguém por trás dele,ele tem um cúmplice."

                            Cabral tira o pano do rosto dele e ele olha pra mim.Uma cara de medo que nenhum psicopata faria.Eles são frios e não sentem nada.Egocentricos e auto-confiantes,egoístas.Odeiam o sentimento de impotência.As palavras de Janice fazem todo sentido.Ele não é psicopata.Tem alguém
por trás.Será alguém que eu prendi?Mas e as outras vítimas?Essa pessoa vem querendo jogar comigo todos esses anos,até que por fim,sequestrou minha própria filha?Será isso?Seja quem for,me conhece.A família Braga talvez.Esses putos tem muita influência no submundo do Rio de Janeiro.Podem
estar por trás disso.
                             Eis que de súbito,alguém bate a porta.É Rodolfo,o rapaz do escritório.Ele nos chama para fora e diz e que descobriu o perfil de Leonardo em uma rede social da internet.Internet,computadores,como eu odeio tudo isso.Essa rede social foi criada e patentiada no Brasil.Uma garota criou,ela desenvolvia
softwares em casa.Até que ficou bilionária brincando com seu pc.O nome da rede é algo como "Futilidades e Afins",o que é praticamente a definição das redes sociais da internet.Isso de fato não importa.O que importa e é de fato muito relevante.Era a informção que Rodolfo trazia.No perfil da internet,Leonardo
tinha algumas de suas informações bloquiadas pelo recurso de privacidade da rede.Porém Rodolfo hackiou a conta dele e descobriu que ele tinha entre seus amigos Natália Meirelles,sim,minha filha.Fotos dos dois juntos.No Jardim Botânico,no Maracanã,na praia.As datas das postagens das fotos são de um ano
atrás.Um frio me correu pela espinha.Minha filha tem uma relação com essa cara.Um maldito monstro!Mas e quanto a Gustavo,o namorado dela é corno?Ela tem um amante,que é um criminoso!E agora?O cara planejou se aproximar de Natália pra me atingir?Ou o destino novamente está me violentando sexualmente
fazendo minha filha conhecer esse calhorda e assim fazer ele saber de minha existência?A segunda opção não seria surpresa se tratando de minha maldita sorte.
                             As informações que Rodolfo nos trouxe,nos oferecem nova perspectiva.Até na minha vida pessoal,me convenço de que não conheço minha filha de verdade e preciso resgata-lá.Na sala,me sento de frente para Leonardo e falo com voz calma.Ele está calado e com lágrimas nos olhos:

                               "-Olha aqui filho,você sabe sobre mim mas eu sei o dobro sobre você.Nós dois sabemos que o psicopata aqui não é você.Quem garoto,quem fez você se aproximar da minha filha para me atingir?Quem ta te manipulando?Se você disser na boa vai ser pior para o mandante,sabia disso?"

                               "-HAHAHAHAHAHA!" Essa foi a resposta dele,uma sonora gargalhada.Aquilo me fez quase perder a cabeça de novo.Só que ele foi adiante:

                               "-Policial,o senhor não conhece a sua filha.Eu conheço Natália melhor do que você.Inclusive sei o que fazer e onde toca-la para deixar ela excitada.Como é para um pai ouvir isso?" Antecipando meus movimentos,Cabral joga o cara no chão com um soco e continua a chutando e chingando.Até que Janice o
detém e sai com ele da sala,antes Janice diz pra mim:

                               "-É isso que ele quer Meirelles,não entra na dele." Eu concordo com a cabeça e demonstro a calma de um monge.Eu digo:

                               "-Você ta tornando isso pior,só para você Leonardo." e ele me responde:

                               "-Meirelles,estou aqui pra te dar uma lição.Mas você tem que aprender sozinho.Olhe bem para dentro de si.O homem tem a capacidade de criar,coisa que nenhum outro ser na Terra é capaz.A criação do homem é reflexo dos elementos que ele usa para a criação.Não podemos semear joio e querer colher trigo,podemos?"

                          Lição.O filho da puta veio aqui de fato só pra querer brincar comigo.Vou entrar no jogo dele.Ele ta falando sobre criação,claramente está falando sobre o meu distânciamento da minha filha.Sobre eu mal conhecer a personalidade de Natália.Não foi ele quem matou as outras pessoas.Esse playboyzinho nunca matou nignuém.
Quem ta por trás dele?Ele vem aqui e diz ser o responsável.Ah,isso está muito confuso ainda.Finjo estar no jogo dele:

                                "-Por que se aproximou da Natália?Só para me atingir?E quanto as outras vítimas?"

                                "-Descubra policial,é seu trabalho.Se eu não sou o verdadeiro assassino a quem estou protegendo?"

                                "-Se acha esperto Leonardo?Sua vida deve ser uma merda de chata,não é?Por isso topou fazer parte desse história toda.Precisa de ação,de se sentir vivo né?Se auto-afirmar.Vocês vermes são todos iguais."

                                "-O tempo já se passou Meirelles.Está se esgotando,desde 2023.Você ainda não conseguiu descobrir o motivo disso tudo?Vidas foram tiradas por sua causa Meirelles!Entenda é tudo sua culpa!" as palvras do cara entram pelos meus ouvidos e chocalham meu cérebro.Começo a pensar e finalmente vejo luz:

                                "-Por que matar psicólogos?Porque eu quase me tornei um.Por que toda essa merda sobre a capacidade de criar do homem?Porque alguém vem tentando me mostrar que sou um pai ruim e que é uma responsabilidade enorme criar uma pessoa."

                                "-Na verdade,é a maior responsabilidade de um homem.Criar a vida e ser responsavel pelo que ela vai se tornar.Parabéns.Você descubriu enfim os motivos,mas temo que seja tarde..."

                           Ainda falta descobrir quem é o assassino.E como ele me conhece tão bem?Será algum vizinho meu?Alguém aqui da delegacia?Quem é esse doente mental?Nessa hora meu telefone toca,é Clarice,ela está chorando:

                                "-M-Meirelles!Venha pra casa...ele está aqui.Tá armado!Traga seus amig..." e telefone desliga.Olho bem na cara do Leonardo e ele fala:

                                "-Melhor correr."

                                "-E você vem comigo seu viado de merda!"

                           Passo por Cabral e Janice do lado de fora e digo a eles que o cara vai me levar até onde está o verdadeiro assassino.Nada pode se por no meu caminho agora.Deve ser uma armadilha pra ferrar a mim e minha família mas não tenho escolha,vou direto pra minha casa.Arrastando Leonardo comigo.
                           Chego de arma na mão.São 3:45 da madrugada.Paro o carro em cima da calçada,invadindo o jardim.As rosas vermelhas que Clarice tanto gosta foram para o espaço.Só que agora,isso é o de menos.Empurro Leonardo de porta a dentro.Nos deparamos com Clarice sentada na poltrona da sala e
alguém usando uma toca ninja cobrindo o rosto,de pé,atrás dela.Ele é baixinho,se tiver 1,73 de altura é muito.Ele ta com um revolver calibre 38 na cabeça dela.É a arma usada nos outros assassinatos.Faço minha parte e aponto a arma para Leonardo:

                           "-Larga a arma,ou vamos todos morrer aqui agora.Onde está Natália?Pensa que tenho medo de morrer?Vou começar a atirar se não devolver minha filha!"

                           "-Solta o Leonardo." para minha surpresa total uma voz feminina diz essas palavras.De súbito eu largo o cara e ele corre até os braços do assassino.O choque agora foi maior,o maior de toda a minha vida.Leonardo tira a toca da cabeça da pessoa e ela diz:

                           "-Incrível,nem mesmo minha voz você reconhece papai?"

                  Natália,sim.Minha filha Natália é a matadora de psicólogos.Debaixo do meu nariz,tinha uma psicopata.Pior do que isso,eu criei e a tornei psicopata é evidente agora.Todos os mistérios parecem óbivios quando esclarecidos.Eu nunca estive perto.Ela cresceu me vendo ler livros de psicologia.É lógico!Por isso
ela desenvolveu essa obsessão maldita em ralação a psicólogos.Eu dava mais atenção aos livros do que a ela!O que foi que eu fiz?Tento corrigir meus erros:

                            "-Natália eu lamento,é culpa minha.Eu desenvolvi esse disturbio mental em você!Sempre estive por fora da sua vida"

                            "-Disturbio mental?Ainda agora você continua a usar esses termos,papai?É tarde,muito tarde.Eu comecei a matar as pessoas pra ver se chamava a sua atenção no seu trabalho.Mas nem assim você chegou a mim.Então conheci Leonardo,que me ajudou.Planejamos essa golpe final para te fazer enxergar,pai.
O quanto você não se importa comigo!Fiz tudo debaixo de seu nariz,planejei tudo dentro de sua casa e você nunca notou!"

                            "-Filha me desculpe!Você criou essa falta de sentimentos,desenvolveu esse comportamento psicopata por minha culpa eu sei,deixe-me tentar concertar tudo!"

                            "-Para de falar desse jeito!" e ela atira contra Clarice.Vejo que o tiro foi na perna.Meu Deus estou fazendo tudo errado.Largo minha arma e tento abraçar Natália.Ela me abraça,vejo que ela está muito carente.Precisando de colo mesmo.Leonardo ao ver que Natália está claramente arrependida pega minha arma do chão.

                            "-Como você é tolo papai!Eu não te amo mais!Eu te odeio!Me dá a arma Léo!" Leonardo entrega pra ela a arma e os dois se beijam.Sinto como se estivesse no pior lugar possível do inferno.Ela aponta a arma para mim e diz:

                            "-Adeus papai!" Clarice só chora e esperneia .Nessa hora ouço um disparo.Fecho meus olhos e me preparo para cair no chão.Mas não caio,do contrário Natália cai.Cabral chegou atrás de mim com Janice.Atirou no ombro de Natália.Janice a imobiliza e chama os paramédicos.Cabral me explica que Clarice havia ligado para
o celular dele,alguns minutos atrás.Leonardo tenta fugir,mas de instinto dei-lhe uma rasteira,fazendo-o cair no chão.

                        Enfim,o caso do Matador de Psicólogos foi resolvido.Natália passa por uma avaliação psicológica que detecta psicopatia de grau elevado.Ela ficará encarceirada numa clinica.Leonardo pegou 10 anos de cadeia por cumplicidade em homicído.Clarice se separou de mim e me culpou por toda essa merda.
                        Culpa.O sentimento mais cruel na vida de um homem.Meses depois eu largo a corporação.Tenho 45 anos de idade.Me dedico a psicologia.Largo tudo o que construí e me dedico a me formar.Minha vida agora será para impedir que famílias se destruam pela a falta do sentimento humano que deve sempre vir antes do raciocinio lógico.
                        O amor.