Todos precisamos de vinte minutos
Que sejam ao menos vinte os minutos...
Minutos para dedicar à flor, minutos para ver.
Não olhar, mas ver, contemplar o sol nascer
E morrer.
Assim são as coisas todas em sua excelência
Nascimento e morte; a dualidade em imanência...
Neste universo dual, não há o bem e o mal
Existe o real e o irreal, o começo e o final.
É natural.
Precisamos nos resguardar, nos libertar...
Fugir sozinhos para procurar e encontrar.
A isolação! Esta nos guia até a compreensão.
Sozinhos somos nós: seres em profusão!
Oh, solidão!
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
O Encontro
Carlinhos fazia lama na areia de Copacabana com sua urina, ele segurava para não vomitar. Advogado dos maiores traficantes e contraventores do Rio de Janeiro ganhava muito dinheiro. Muita grana, pouca ética.
Depois de comemorar em um bar a conversão em cestas
básicas a pena de quatro garotos que espancaram uma prostituta na Vieira Solto,
ele havia acabado de transar com a mãe de um dos rapazes. Com 45 anos, dinheiro
e status, Carlinhos Brandão levava para cama todas as mulheres que podia, para
muitos essa era uma boa vida, não para ele.
Com vinte anos de profissão e uma vida acelerada desde
a juventude, ele começava a sentir um vazio que não conseguia preencher, nem
com dinheiro, nem com bebidas, nem drogas, quicá mulheres. Tentou uma religião,
depois duas, três, nenhuma fazia realmente sentir-se vivo, então, ele começou a
pensar sobre a alma. Fez uma conclusão: era um homem sem alma. Um desalmado.
Carlinhos observou que estava ficando incapaz de amar alguém. Não tinha
parentes próximos. Poucos amigos. E quando estava com mulheres tinha de fato a
certeza de que era incapaz de sentir algo maior que mero instinto sexual por elas.
Era por isso que ele não amava ninguém, não tinha
alma, não tinha essência. Como é possível um homem não ter alma? Mas o que é
alma? Ela de fato existe? Onde está a alma? Carlinhos resolveu procurar
respostas para suas perguntas.
O que é a alma? Ele aprendera, enquanto fora hindú, que
as almas dos homens e de todas as coisas vinham de uma existência maior e Una,
que com seu movimento espalhava a vida em todas as coisas que existem. Ele
entendeu a alma como sendo a bateria que mantém em funcionamento um aparelho,
bateria vinda de algo superior e incompreensível.
Mas ela de fato existia? Ele quis testar. Precisava
achar alguma evidência de que ela existe. Ouvira dizer que os olhos são a
janela da alma. Passou a gastar longo tempo observando o seus próprios e os das
demais pessoas. Os companheiros de trabalho no escritório achavam aquilo
estranho, “Carlinhos não está normal”, eles diziam. Ele passou para os demais
companheiros de escritório os últimos cinco casos para os quais fora designado.
Ele nunca perdia a chance de defender algum poderoso da cidade e faturar grana
alta, porém, agora o advogado almejava coisas além do dinheiro e do renome.
Onde está a alma? O buscador de si agora se convencera
de que para comprovar a existência da alma havia de localiza-la. O mundo fora
já não o satisfazia, absolutamente nada o confortava. Ele queria saber o porquê
disso tudo. Por que existe a humanidade e suas organizações? Por que existe esse
mundo? Por que precisa trabalhar, ter dinheiro, ter fama? Isso ele já sabia,
era coisa da sociedade, o modelo da sociedade em que vive é assim, são
paradigmas. Mas suas perguntas eram para além disso. À essa altura, todos em
sua volta o julgavam louco.
Imerso em sua sóbria loucura, Carlinhos caminhava como
gostava de fazer pelas pedras do Arpoador
em um fim de tarde, fitando cada pedra, cada desvio e rachadura, era um
olhar contemplativo. O pôr do sol se aproximava, ele então, resolveu admirar o
horizonte. Percebeu que ainda levaria uns 5 ou 6 minutos para o divino
espetáculo, decidiu sentar, posicionou-se como os antigos escribas costumavam
sentar, fechou os olhos.
...
...
...
...
Naquele fim de tarde Carlinhos percebeu que bastava
olhar para dentro com sinceridade para sentir que todo o Universo sempre esteve
dentro dele. Entendeu rapidamente que cada indivíduo tem um o momento de
encontrar-se, mas que independente de quando seria esse encontro, era preciso
continuar procurando e se questionando, o questionamento não deve parar mesmo
ao encontrar-se com algumas respostas. Era preciso também conhecer sua natureza
e entender-se, para obter respostas sobre si e sobre os homens todos, até a própria vida em si se tornava mais clara.
Carlinhos havia encontrado sua Alma.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Idade Média
O
cheiro daquele incenso me deixava ainda mais enjoado, acendi um cigarro para
tragar a náusea junto com a fumaça.... e desse jeito fui convidado a me
retirar, era proibido fumar no local, detesto lugares onde se pode acender
incensos, mas não um cigarro.
Lá
fora encontrei um sujeito que fedia a suor e cachaça, tudo corroborava para que
eu vomitasse. Meu primo George organizava um casamento cigano na capela lá
dentro, e do lado de fora um velho fedorento me encarava. Então, o velho
resolveu falar enquanto tentava focalizar sua visão turva em mim, "Meu
nome é Dante, nobre cavalheiro. Daria um cigarro para um também nobre
cavalheiro andante?" De cara vi que era um mendigo bêbado e nesse caso é
melhor se livrar da situação o mais rápido possível, porém, para minha surpresa
e para o peculiar desta narrativa, ele pegou o cigarro que lhe dei, acendeu, e
nos espaços entre as tragadas desenvolveu sua tese:
"-Estamos, meu amigo, vivendo em plena Idade Média... e digo mais,
esta é a segunda Idade Média da Era Cristã e que pode superar em ignorância e
violência a anterior." O velho me pareceu eloquente e falava sem se
atrapalhar, o que era contraditório, vista a barba ainda molhada e o cheiro da
cachaça que impregnava aquela figura extremamente dantesca. Quis dar corda ao
velho louco, queria ver até onde ele iria...
"-Ora, não me diga, Dante! E você pode falar com propriedade, não é
mesmo? Afinal, seria a segunda Idade Média que você presencia..."
"-Não seja idiota, eu não sou Dante Alighiere! O que eu estou
fazendo é apenas uma dissertação sobre a nossa sociedade atual, comparando com
o que temos registrado na nossa História. Os erros sempre se repetem, basta
olhar para as diversas sociedades."
"-Ah, sim, queira me desculpar, sr.Dante. Prossiga com sua tese
socio-histórica, por favor."
"-Deus do Céu, você é mesmo um paspalho! O que eu estou fazendo de
fato é um ensaio, um ensaio sobre a Idade Media."
Nessa
hora o velho começava a me encher a paciência, entretanto, o que ele desandou a
falar me prendera embasbacado até o fim do papo.
"-Observe como de forma sutil a
religião começa a fazer parte da política em nosso país, e isso porque nosso
estado é laico, mas veja... quantos deputados e senadores evangélicos nós
temos?! Agora repare como eles agem baseados em uma certa moral, a moral
cristã, a moral da família, porém, o que eles mais fazem é pregar uma
segregação: os que serão salvos por Deus e os condenados, que são os não
cristãos, homossexuais e etc. Esse tipo de pseudo moral é plantada sempre que um
governo autoritário e ditatorial está emergindo ao poder. E não é só isso, a
humanidade esta cercada de ignorância e desinformação, digo, em alguns casos os
líderes no poder tentam censurar e esconder informações da massa, hoje, temos a
internet e muitos novos meios que entopem as pessoas de informação, só que uma
informação inútil. As pessoas estão cada vez mais violentas e acham que justiça
está em devolver a violência com mais violência, linchamentos por motivos
fúteis onde cada parte julga estar com a razão, mas se não há paz, não há razão."
Olhei
bem nos olhos do velho, aquelas palavra até faziam muito sentido, fiquei em
silêncio por alguns segundos. Depois de digerir tudo aquilo, falei para o
velho:
"-Você é louco!"
Dei as
costas para ele e voltei para dentro da capela, já havia fumado meu cigarro e
tinha o casamento do meu primo para terminar. Eu pensava nos drinks ciganos que
serviriam mais tarde na festa...
Ano Novo
Vago sozinho observando a chuva
Vejo as luzes do Ano Novo que aproxima
Eu entro em uma rua sem curva
Dentro da minha mente, dentro da esquina.
Minha cabeça: uma prisão interior.
Ouço meus pensamentos circulares;
Mas não há angústia, nem temor
Só fantasmas das ações particulares.
A festa do Ano Novo não me agrada
Pessoas bebem, mentem e enfartam
São acúmulo da promessa não realizada.
Quantas honras! Quantas barcas!
Entretanto, antes de atirar ofertas ao mar
É preciso (sem demora!) aprender a nadar.
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