sexta-feira, 11 de março de 2011

Lírio do Vale-pt.2

VII-Inocência do Amor.

                Esqueçamos a ruína.E nos embreaguemos com amor.Bem-vindos ao puro capítulo do amor!Todavia,é preciso exclarecer alguns pontos.Antes de virarmos nossas cabecinhas e soltarmos suspiros de:"awnn!"
                Juan veio a mim com lágrimas nos olhos e tivemos um dos momentos mais fortes que dois amigos poderiam ter.A disputa de uma mulher.Ele me disse que estava com ela,quando esta,recebera minha carta.Ele veio cheio de dúvidas pois nunca antes
nos vimos em posição semelhante.Eu o confortei,disse que ele havia levado mais sorte que eu nessa disputa.Já tinhamos disputado outras mulheres,só que a diferença era que elas não significavam nada para nós.A única coisa que levava o vencedor era o direito
de se vangloriar.Mas nos conhecíamos como irmãos,pois crescemos juntos.Ele sabia que eu amava Taciana e eu sabia que ele a amava também.Porém eu lia as palavras dela própria dizendo que amava Juan.Ela já tinha feito sua escolha,não estava em discussão.
O único errado na história seria eu.E errado por errado,deixe-me cá com meus outros erros.Não sei se Juan se convenceu que eu não investiria mais em Taciana,nem mesmo eu estava certo disso,porém ele relevou.
                Falemos de amor.Eu creio que só fala com propriedade disso quem já amou e foi amado na mesma medida.Eu já fui.Antes de conhecer Taciana.Mas isso não entrará na história.O amor!Sem mais delongas,é belo.Como é belo,como é infanto.Como nos faz agir
de forma embasbacante!O sentimento de Juan e a princesa não trazia consigo sensações diferentes das que citei.Era nobre,muito nobre!Apesar da diferença social,problema com o qual eles driblaram magistralmente.
                Todos os dias,das manhas até as tardes,os dois se viam as escondidas pelas extensas terras do palácio.Frederico nem suspeitava que sua filha se encotrava com um atorzinho de trupe,pertencente a uma baixa categoria.
                Apenas uma das criadas,a mais próxima da princesa,era a única confidente.Ela sabia de tudo e dava as oportunidades para Juan entrar nas terras reais.Numa das tardes estava eu no palácio,com o objetivo de receber do rei nosso merecido pagamento;resolvi
fazer-me de abelha e bisbilhotar o casal,que mesquinho eu fui!Envergonho-me de dizer isso agora,mas foi muito belo ouvir aquilo,ouçam também:

                 "-Juan,se você estiver aqui só por causa do meu título de princesa?Não sente cobiça pelo dinheiro que possuí meu pai?"

                 "-Taciana,cofesso sim a ti,que cobiço muito,muito mesmo,algo que é de seu pai.Mas não falo de dinheiro,falo de ti!Da riqueze de poder me dizer teu homem."

                 "-Oh,Juan!Para sempre...Lhe prometo que para sempre serei sua e você será meu!"

                 "-Renunciaria até a realeza?"

                 "-De nada me vale a realeza,se você não estiver ao meu lado!"

                Me chamem chato se lhes convir,mas eu repito e não me canso.Como é belo o amor dessas pessoas!Como é puro!
                O tempo passava e o rei via sua filha cada vez mais radiante e contagiante.Isso mantinha minha trupe por perto e também Juan perto da princesa.Transcorriam já 2 meses.E eu agora só conseguia sentir afeto e adimiração por Taciana.E Juan,não sei bem
o motivo,talvez preocupação,mas estava frio comigo,eu entendia,agora ele era um homem compromissado.Sei como é desgastante um homem optar entre seus antigos hábitos e sua amada.Não cobrava dele presença nos bailes,penso que sou um homem compreensivo.
                Nas manhãs ela acordava e corria para janela.Na verdade ela mal dormia,rolava pela cama,acordava periodicamente e voltava a dormir.Mal conseguia aguardar a hora de ver seu mancebo despontar pelos cantos dos jardim,furtivamente.Lá em baixo,ele olhava para janela
e a via,ela reluzia como aurora.Se viam,secretamente.O perigo e o prazer de manterem encontros as escondidas incendiava ainda mais a paixão dos dois.
                 Ouvi dizer,certa vez,que o segundo amor verdadeiro é o que dura para sempre.Porque não carrega mais as surpresas da primeira paixão,te dá os pés nos chão de já conhecer tal sentimento e faz com que você não cometa erros de deslumbramento.Eu já havia tido o meu
primeiro amor,achei que Taciana poderia ser o segundo.Não foi e não devia ter citado isso.Mas achei que cabia a ocasião,pois quero dissertar sobre o fato do sentimento deles ser jovial e bonito,mesmo sendo o primeiro de ambos.Nada poderia estremecer ou lhes fazer duvidar do
que sentiam.Ou pelo menos,quase nada.


VIII-O Príncipe Desencantado.

                 Numa manhã chuvosa de sábado eu andava pelas ruas de Córdoba,para efetuar a compra de materias que seriam usados na próxima apresentação da trupe.Pus-me a caminhar pelas estradas de minha infância.Em Córdoba,ficava o orfanato onde cresci,com Juan.Estava
eu de frente para aqueles longos muros,que tanto imaginei fulgas com Juan,porém quando nossa barba mal começara a crescer pelo queixo,fomos tirados de lá por nos considerarem já muito velhos.Viver nas ruas foi dificil.Sempre sonhei com família,com minha origem,diferente de Juan,
ele não se importava.Sempre tive curiosidade em saber quem foi meu pai,minha mãe,se tive irmãos.Em meio a essa sensação de nostalgia,reconheci um rosto envelhecido pelo tempo.No portão do orfanato,estava irmã Judite.A freira que nos educou e ensinou a ler e escrever.Ela dizia:

                   "-Não fique aí parado na chuva,homem de Deus!Entre e espere essa chuva findar!"

                 Somente uma freira,é gentil a ponto de convidar um estranho da rua para adentrar em um lugar desprotegido,cheio de freirinhas e crianças.Pensei em recusar o convite,porém a vontade de rever o local de minha criação,era grande.
                 Lá dentro sentei-me numa cadeira do pátio e recebi uma manta para não me manter molhado.Meus olhos pesavam de lágrimas vendo aquelas crianças brincando,do mesmo modo que também eu fizera na infância.Como era bom e fácil ser criança!As irmãs me observam,mas nenhuma me
reconhece,eu lembro de todas.Betina,Cândida,Anastácia.Só senti falta da madre superiora Matilda.Chamei irmã Judite e a questionei quanto a ausencia de Matilda.Ela havia falecido!Não aguentei e peguei-me chorando,assim como Judite.E ela me perguntou quem eu era.Eu lhe respondi:"Sou Henrique!"
De imediato ela se recordou.Disse aquelas palavras típicas,como:"Você espichou!Se tornou um homem!"Contei para ela que me tornei dramaturgo e Juan ator.Ela disse que não havia profissão melhor para Juan,do que ator.O sujeito ja vivia imitando a tudo e a todos desde de moleque!A irmã ria-se com
demasia,lembrando de nossas travessuras.Então,contei que éramos contratados da corte e nos apresentavamos semanalmente no palácio.Nessa hora Judite se tornou pálida.Suas mãos tremiam e ela estava muito inquieta.Vi que o mal não era só físico e algo a encomodava.Lhe indaguei e ela disse que
era apenas um mal estar.Não me conformei e disse:

                   "-Irmã,você não pode mentir!E esconder a verdade não é certo.Conte-me,o que há?" e ela,começou a confessar como se eu fosse um sacerdote.Parecia lhe tirar um fardo de anos das costas.

                   "-Lembra-se de quando você e Juanito eram pequenos e me pegou conversando com Matilda?Nós os punimos severamente."

                   "-Até hoje não entendo porque castigo tão severo!Qual era o motivo,irmã?Divida comigo essa verdade!"

                   "-Henrique,isso não pode chegar nunca nos ouvidos de pessoas erradas!Seria uma tragédia!"

                    "-Diga irmã!Não se prolongue mais.Vi que você se encomodou quando eu falei sobre estarmos próximos da realeza?Qual o motivo?Por que eu e Juan não podemos estar próximos a corte?"

                    "-Henrique,quanto a você não há problema!Você era filho de um lenhador e uma servente.O seu pai morreu doente por uma terrivel febre,sua mãe grávida abateu-se e não resistiu ao parto.Deu a luz aqui
onde você cresceu..."

                   "-Então essa é minha origem...Mas e quanto a Juan?"

                   "-Bom meu jovem,o Juan...Tem sangue real."

                   "-O quê???" essas palavras me fizeram arregalar os olhos.

                   "-Dom Frederico III não tem apenas uma filha única.Ele tem um filho caçula.E esse filho é o seu amigo Juan!"

                Meus cabelos se arrepiaram.Eu me sentia como se estivesse embreagado.O que irmã Judite estava dizendo?Juan é um filho bastardo de Frederico III?Ela prosseguiu a explanação:

                   "-Frederico teve um filho fora do casamento antes de se tornar viúvo.Ele se deitava,contra a vontade,com uma de suas criadas.Ela engravidou e com medo do que poderia fazer o rei,ela se afastou.Mas o rei soube de sua barriga.Então mandou um soldado matar a criada,porém ela já havia dado a luz ao
menino.Então o soldado com medo do que poderia acontecer com ele se não cumprisse sua ordem,mandou a mulher se esconder,mas a desgraça ja havia se tornado maior.A mulher infeliz se matou e abandonou a criança ao léu.O soldado comovido,trouxe a criança para cá.E nos contou a historia e pediu segredo
por tudo que é mais sagrado.Porém,vivi com esse fardo até hoje.Agora ele se tornou pesado demais para mim e arriscado.Divido ele contigo,Henrique."
                                          
                A história me impressionou e muito.Juan é um príncipe!Quem diria,meu Deus,Juan é filho de Dom Frederico.Só que agora,outra coisa me encomodava,muito.Então dividi com a irmã:

                   "-Isso é muito ruim,ruim demais.Oh Santa Mãe de Deus!Que acasos cruéis do destino!"

                   "-O que há,Henrique?"

                   "-Infotúnios infidados é o que há irmã.Pois a princesa Taciana e Juan são irmãos!"

                   "-Sim,de fato são.E vocês frequentam o palácio,pelo que me dissestes.Isso é perigoso,irmãos as vezes sentem ligações que fogem a nossa compreensão!"

                   "-Pior irmã!Muito pior!Juan e Taciana,são namarodos!Eles namoram secretamente,foram atingidos pelos anjos do amor!Que tragédia,Meu Deus!"

                 Agora era a irmã Judite quem estava perpléxa.Irmãos e namorados.Imagine isso na cabeça de uma freira!Ela fez em si o sinal da cruz três vezes e me alertou:

                   "-Henrique,você não pode compactuar com uma coisa dessas!Você precisa alertá-los da verdade!Eles não podem ser amantes.Isso condenaria a alma de ambos ao inferno.É um pecado mortal!Avise-os,Henrique!"

                   "-Não irmã!Não posso,eles são tão felizes!Além disso Juan não me acreditaria e diria que inventei tudo isso,pois também eu amei Taciana um dia,porém Deus decretou que os dois se unissem!"

                   "-Deus jamais decretaria isso,Juan!É pecado!Tu tens de fazer algo!"

                   "-Não.Você está errada.Não foi o próprio Cristo Quem pregou que o amor deve prevalecer?Que devemos nos amar uns aos outros?"

                   "-Não é desse tipo de amor que Ele fala,Henrique!O amor deles é vil e carnal."

                   "-Como podes dizer isso se nem os conhece?O amor deles é puro e inocente.Eles não se conheciam,não sabem que são irmãos,deixe-mos assim e os livremos do pecado!"

                   "-Aí os pecadores seremos nós,por omição!A verdade precisa vir a tona."

                   "-Então contes tú!Pois não serei eu o responsavel por estragar algo tão puro!Se é pecado amar,serei pecador!" respondi compeltamene furioso.A irmã balançava a cabeça negativamente.Não me despedi dela,apenas levantei-me e parti.

                 Quando saí de lá a chuva não havia cessado.Voltei a Sevilha e cheguei no acampamento á noite.Os atores ensaiavam, e me pediam conselho de como deviam se portar em cena,os ignorei estava muito atordoado.Nunca havia visto situação parecida.Me arrependi amargamente de ter entrado
novamente naquele orfanato.Revirar o passado foi ruim,devia te-lo deixado intácto.
                  Os dias se passaram e quando chegou a primeira segunda-feira,depois do ocorrido,eu não fui ao palácio.Não tive coragem.Os atores fizeram um número de comédia imporvisado que,soube depois ter sido um sucesso.Minha falta não foi sentida no corte.Nem por Dom Frederico,nem por Taciana
e tampouco por Juan.
                   Eu não conseguia dormir á noite.Não encontrava repouso em meu leito.A revelação que me foi feita,não deixáva-me descansar.Era atormentador,meus pensamentos,eram atormentadores.Eram confusos,eu não sabia o que era certo,o que era errado.Minhas convicções haviam sido estremecidas.
                   Na terça-feira recebi uma correspondência,endereçada do orfanato "Filhos da Luz."O orfanato onde cresci,onde vivi e onde minha sanidade foi abalada no último sábado.A carta estava assinada por,Irmã Judite.Abri mas não tive ânimo de ler.Deixei-a sobre a mesa.Tomei meus maniscritos,minha pena
e tinta.Coloquei-me a escrever.Uma forma de esquecer,ou tentar desviar-se de fraquezas próprias.Escrever é isso.Colocar num pedaço de papel palavas tolas.Fiz isso o resto do dia.Consegui dormir esta noite,porém não creio que tenha sido o melhor a fazer.Tive um pesadelo horrível.No sonho,eu contava a
Taciana que Juan é seu irmão.Ela dizia ter nojo de si própria e se considerava uma pecadora que deveria ser punida pela Santa Inquisição.Já Juan,dizia que eu inventei tudo só para separar os dois.A sensação que eu tinha era frustrante.Nos sonhos as sensações que temos é o que caracteriza o sonho como um
pesadelo.E nesse caso,minhas sensações eram as piores.Eu acordei,quando no sonho,Juan atravessa meu peito com um punhal.
                   Acordei suado e atônito.Saí da tenda e vi Juan que se preparava para mais uma incursão secreta no palácio,seus olhos brilhavam só de imaginar o encontro com sua amante.Eu jamais descansaria se tivesse que carregar o peso da culpa,por ser responsavel por separar os dois.Mas infelizmente sou humano,
e não atingi a excelência.Cogitei a possibilidade de os dois se sentirem culpados e perderem o interesse um no outro,se soubessem a verdade.O caminho para o coração da princesa Taciana estaria livre.Fechei meus olhos e me senti como a serpente que tentou Eva no paraíso.Corri feito cavalo atiçado pelo bosque.
Juan me viu e foi atrás de mim.Me encontrou,aos prantos a beira do riacho.Assustou-se e perguntou:

                      "-Henrique!Por que choras,meu irmão?"

                      "-Desculpe meu amigo e irmão!Sou um homem muito ruim!Meus pensamentos são sujos!Perdoe-me!" eu disse soluçando.

                      "-Se refere a pensamentos com relação a Taciana e eu?Não se preocupe com isso,Henrique.Te considero irmão.E te conheço de pequeno,sei que sois um homem excelentemente bom."

                    Cada vez que ele usava a palavra irmão,meu peito era atravessado por uma lança invisível.Pedi que ele se apressasse e nunca,nunca ousasse magoar o coração de Taciana.Fiz ele prometer e ele me deu sua palavra e reforçou dizendo que se casaria com ela um dia.Esperei ele partir e voltei para a tenda,peguei uma cheia
garrafa de vinho e voltei ao riacho para embreagar-me.Casados.Irmãos casados.Meus pensamentos tendiam para o pior.
                     Dormi o resto da tarde,no meio do mato.Quando a lua e as estrelas tomaram a claridade do dia naquela quarta,a trupe se dirigiu ao palácio,para mais um número.Quando lá cheguei,eles ja se apresentavam.Taciana ria e se divertia com a comédia.Ela estava tão feliz!Me alegrei por vê-la desse jeito.A noite foi bela,contemplando
a princesa que só tinha olhos para Juan,o protagonista do número.O espetáculo findou,nossa criatividade era grande,quando eu não escrevia nada,os atores improvisavam e se saiam bem,a corte gostava de todos nós.
                      Na saída,pelo jardim,ouço um susurro me chamar.Era Taciana.Estranho,eu mal tinha trocado palavras com ela desde que se uniu a Juan.Ela me leva até os fundos do jardim.Lá vejo Juan me esperando.Minha pernas começaram a fraqueijar,pois vi que ele tinha na mão um envelope.Eu sabia qual envelope era.Era a carta de irmã
Judite.Não sabia o que havia na carta,pois eu não tinha lido.Para meu alívio.Juan sorriu.Um sorriso largo.Ele disse:

                       "-Ora você,visitou irmã Judite e não me avisou!Encontrei esse envolope na mesa hoje a tarde.Vi o rementente,"Orfanato Filhos da Luz".Quando li,soube que você estava com Judite e que ela vem nos ve amanhã!Isso é demais,preciso apresentar Taciana para ela." meu alívio durou apenas alguns segundos,logo voltei a inquietação.

                       "-Quem é irmã Judite?" Taciana perguntou-me.Entre palavras gagas,eu disse:

                       "-O mais próximo que tivemos de uma mãe." Juan olhou para minha face e estranhou:

                       "-Não está feliz,Henrique?"

                      Não respondi.Apenas disse que estava cansando e precisava ir deitar-me.Só que deitar não adiantava,pois não conseguiria dormir.


IX-O Lírio Despetalado.

                    Passei a noite em claro.Só que no fim dela,quando a manhã raiava,cochilei.Fui despertado pelo entusiasmado Juan.Ele estava com Taciana.A princesa havia combinado a fulga com sua serviçal que lhe deu cobertura.No horizonte despontava uma caravana.Podíamos ver a senhorinha de preto no meio dos viajantes.Era a Judite.
                    Quando ela chegou,eu engoli seco.Só podia olhar para baixo.Não conseguia encarar,Juan,Taciana e nem Judite.A freirinha recebeu um forte abraço de Juan,ela sentiu a emoção de uma mãe que não vê o filho a anos.Taciana foi apresentada a Judite e Juan brincou dizendo:"Sou quase um príncepe,namoro uma princesa!"
Essa palavras não soaram bem aos ouvidos de Judite.Daí entramos,não havia nada que eu pudesse fazer para calar a irmã.Na tenda,ela explicou o motivo de sua visita:

                         "-A visita de Henrique ao orfanato,me fez relembrar uma história que muito guardei.Uma história triste.Que seria segredo até hoje,se a mão de Deus não tivesse ligado o destino de vocês.Henrique tinha razão,vocês são um casal apaixonado..."

                      Juan e Taciana olhavam atentos,de mãos dadas.Prestando bem a atenção,os dois são parecidos,o sorriso,os olhos.Se olhar com atenção é nítido que são irmãos.
                      A história que Judite contou a eles,o bom leitor já sabe,pois já vos contei.Não a reescreverei,porque meu pulso dói.
                      Quanto a reação.A reação deles foi indescritivel.Mas tentarei relatar ao máximo.
                      Se olhavam,se pasmavam,choravam,não diziam nada,nem se tocavam.Apenas choravam olhando um ao outro.Não coseguia saber como eles se sentiam,pois era impossivel me imaginar em situação parecida,eu nunca soube de nenhuma situação igual,talvez nas tregédias gregas,porém não me recordava de nenhuma.Enfim,ela estendeu
sua mão e tocou o rosto dele.Os dois se levantaram,ele olhou para ela e disse:
          
                          "-Case-se comigo Taciana,pois amo você mais do que tudo."

                          "-Oh,Juan!Nada poderá ser maior que meu amor por ti!Caso-me sim!E serei tua para sempre!"

                       Então se beijaram.Me retirei da sala,pois ainda no fundo aquela cena me entristecia.Também eu amava Taciana.Só que me confortei,e ri sozinho.Porque ali vi.Pude presenciar a mais pura prova de amor verdadeiro.Nunca havia visto o amor ser desmonstrado assim.Sem barreiras,sem preconceitos,sem limites.Eles não se importavam com nada,
só queriam ser felizes.Minha fé no ser humano cresceu ainda mais.Quando ouço alguém dizer:"Quanto mais conheço o ser humano,mais gosto de meus cães!"Pessoas dizem isso quando se chocam com a crueldade humana.Mas diga,o ser humano só é capaz de destruir?Existe alguma outra criatura divina capaz de amar dessa forma?Existe sentimento
mais forte do que amor?Acho que não.E ali naquela tenda,naquela quinta-feira,soube que a capacidade do ser humano de amar,não tem limites.
                        A freira saiu da tenda e disse pra mim que sua parte estava feita.Adimiti que ela agiu certo lhes contando a verdade.Pois a verdade tem de ser revelada,cedo ou tarde.Ela partiu e desejou felicidade para ambos,se prontificou em celebrar um casamento simbólico para eles.Pois a igreja jamais adimitiria dois irmãos casando-se no altar.Até o coração
crente daquela velha senhora se comoveu com os dois,mas existem corações mais gelados que não aceitariam,e é desses que falarei agora.
                        Nossa princesa voltou ao palácio.Decidida e muito desapontada com seu pai,ela foi ao seu aposento e preparou suas malas.Estava pronta para partir com Juan.A princesa largaria a realeza para fugir com seu amado.Antes,ela iria ter de dizer algumas palavras a seu pai.Aquele inescrupuloso rei.
                        No meio do palácio,de malas prontas a princesa chamou seu pai e disse:

                          "-Vossa majestade hoje perderá mais uma de sua linhagem.Não se preocupe em mandar matar-me como tentou fazer com meu irmão.Pois hoje parto e jamais voltarei a esse palácio.Adeus papai!"

                          "-Taciana!Que loucura é essa?A ausencia de um homem a fez enlouquecer?" e o canalha real continuava a soltar seu veneno.

                           "-Pois saiba que tenho um homem sim.E é Juan,da compania de teatro,nos encotramos todos os dias sem que você pudesse ver.E para sua infelicidade total,ele é o filho que você tentou matar,o filho da criada.Criada que você traia minha mãe.Por isso ela morreu abatida,nenhuma mulher sobreviveria ao seu lado!"

                           "-Aquele bastardinho está vivo ainda hoje?Pois isso não durará mais,essa velha história acabará aqui e você Taciana,só sairá dessas terras comigo morto!Guardas!Tranquem minha filha no seu quarto,e vão para o acampamento daquela trupe de quinta categoria,ateiem fogo em tudo e que nenhum deles sobreviva para contar a história!"

                         E realmente eu não estaria aqui com a pena e a tinta em mãos se a criada fiel de Taciana não tivesse vindo nos avisar.Ela nos contou tudo.Mandei meus colegas partirem,disse para se apressarem e que deixassem o menos usual.A trupe se retirou,Juan pegou com um dos nossos,duas espadas.Me deu uma e disse:

                            "-Amigo,lhe rogo que por favor,ajude-me a tirar Taciana do cárcere e juro que partiremos para longe,esperando que você possa se livrar de seu incômodo interior!"

                            "-Não digas uma bobagem tamanha,meu irmão.Vocês dois são as pessoas que mais tenho afeto nessa vida,são o mais próximos que tenho de uma família.Não quero os dois longe de mim!Agora cale-se e vamos logo salvar essa princesa!"

                          Meu amigo sorriu,e juntos partimos a cavalo para o palácio.
                          Pretensiosos,chegamos ao local.Nós dois,contra a guarda real.Porém,nem um exército de mil homens pode superar a vontade de um homem apaixonado,nesse caso éramos dois.Eu não podia deixar Juan morrer,nem ao menos se ferir.Ele conhecia os atalhos da mansão melhor do que eu,sugeri então que ele entrasse pela janela enquanto eu me
apresentava a porta.Ele recusou e disse que entraríamos juntos pela porta da frente.Insisti e disse que ele só precisaria entrar pela janela,sair com Taciana e eu os acompanharia depois,porque se entrassemos juntos,Dom Frederico poderia reforçar a segurança na entrada dos aposentos dela.Foi o que fizemos,Juan que já era acostumado a perambular pela
propriedade real,soube evitar os guardas e entrou furtivamente para o andar do quarto de Taciana.Eu não tive a mesma fortuna.Caminhei para a porta da frente e me deparei com dosi guardas,que disseram:

                            "-Ninguém entra ou sai desse palácio,sem a ordem da majestade."

                             "-Pois informe a Dom Frederico que estou aqui e ele me receberá,pois sou o grande dramaturgo real!' dizer isso foi uma das idéias mais estúpidas que tive desde então.

                              "-Ah,você pertence a trupe da qual o rei mandou assassinar a todos?Acaba de dizer suas últimas palavras!"

                         Adimito e é detutível,não sou bom com a espada.Abomino a violência,mas a ocasião me obrigou.No primeiro golpe do hábil soldado,minha espada tomou asas e voou.Me vi desarmado na primeira investida!Minha alternativa foi simples,corri feito um louco.Só que estratégicamente,dei uma volta completa na mansão com eles em meu encalço,quando
completei a volta eu estava de frente para a entrada.Apenas entrei e tranquei os guardas do lado de fora.Grande idéia!No saguão principal me deparei com Taciana assustada carregando sua mala equanto Dom Frederico e Juan duelavam na espada.Confesso que ele era melhor que eu na esgrima e sua luta com o perverso rei fazia os olhos de Taciana brilharem.Juan estava cumprindo
seu papel de herói,protagonista e mocinho.Já havia visto ele digladiar-se em cena,mas de verdade assim nunca antes.Era uma luta de vida ou morte.Disputavam-se ali,valores,linhagem,honra e amor.O maldito rei dizia:

                               "-És de fato um bastardo!Enamora-se de sua própria irmã?Acaso não sabes que ela tem seu sangue?Vais ser tio e pai e de seu filhos?Nunca deverias ter nascido!"                      

                                "-O amor verdadeiro nos uniu!E isso é algo que um coração gelado como o seu jamais poderá entender!"

                            Juan começou a falhar e foi atingido no braço,foi ao chão.A princesa gritou o nome dele,fazendo-o se destrair ainda mais.Dom Frederico preparava-se para desferir um golpe mortal,só que nessa hora visti a capa do heroismo e tomei um castiçal de ouro que ali estava.Com um golpe único atingi a testa do rei,que foi a baixo.Juan disse:"Há!Mataste o rei!"
Mas eu repliquei:"Não,apenas está desmaiado.Retiremo-nos daqui logo."
                           A princesa Taciana olhou-me nos olhos e me abraçou forte.Ela disse:"És um herói poeta!"Me orgulhei,mas respondi a ela:"Talvez seja poeta,mas herói nunca hei de ser." Nos apressamos e saimos dali.


X-A Eterna Primavera do Lírio.

                      Taciana que conhecia saídas secretas do palácio,construidas com o intuito de fulgas rápidas caso houvesse invasão de reinos vizinhos,nos tirou dali rápido.Montamos nossos cavalos e disparamos para encontrar a compania.Cavalgamos pela tarde toda.Ainda á noite encontramos o acampamento.Pedi que levantassem todos e que saiassemos das terras de Sevilha,
o rei poderia ainda estar em nosso encalço e querendo trazer de volta sua filha.Entretanto,a frieza do rei era maior ainda do que podíamos imaginar.Passaram 3 dias e soubemos que ele havia dito que sua filha estava morta!Ele nem se deu ao trabalho de vir atrás de nós,simplesmente nos ignorou,provavelmente temesse que a verdade viesse a tona.Com toda a certeza ele
seria destronado.Não conheci homem pior em toda vida.Ele persistiu em sua farça e a sua filha jamais voltou a lembrar que um dia teve pai.
                       No quarto dia veio uma notícia.Juan e Taciana vieram a mim já decididos,apenas vinham me informar.Juan deixaria a compania e com algumas moedas que Taciana trazia escondida em sua mala,construiriam juntos,uma vida em outras terras.O casal estava livre para ser feliz,não existia empecilho.Comprimentei Juan com lárgimas nos olhos.Lágrimas de felicidade!Nunca havia
visto meu amigo tão feliz!E a princesa Taciana,não mais princesa de trono,mais ainda princesa.A princesa de Juan!Quantas vezes já disse isso?Não me lembro,mas digo novamente.Como é adimirável o amor deles!Que sentimento fortíssimo!Serão felizes por quanto durar a felicidade no mundo!Eram as almas mais belas!Me disseram que partiriam pela manhã.Naquela noite divertíamos
sem medidas,como se o dia seguinte fosse o último do firmamamento.Bebemos,cantamos e dançamos.Toda a trupe se animou aquela noite!Não havia ninguém triste!Até que o de súbito,foram todos dormir.
                        Bem cedo,muito cedo.Antes do Sol brilhar.Equanto dormia,ainda hoje não sei se sonhava ou se foi real.Senti lábios tocarem os meus,era um doce beijo.Continuei de olhos fechados e sorri.Quando os abri,não vi ninguém próximo de mim.Saí da tenda e vi Taciana,como estava linda,ela usava aquele predestinado vestido preto.Estava montada no cavalo,Juan vinha em seguida
com a bagagem de ambos.Abracei meu amigo e irmão.Taciana só olhava para baixo e nunca para mim.A trupe veio e despediram-se todos de Juan e de sua amada.Até que por fim,quando ja iam trotando os cavalos,ela me olhou.Vi lágrimas em seus olhos,que os faziam brilhar.Sorri e ela sorriu.Desejei com a sinceridade própria dos poetas que fossem felizes e se amassem intessamente,
sem a nada temer.
                        Passaram-se dias desde de a partida,mas antes de eu desncançar minha pena.Preciso contar sobre essa manhã.
                        Sonhei com aquele estranho beijo,que me acordara na manhã da partida do casal.Fiquei meio encomodado e descompromissadamente meti a mão por baixo do meu travesseiro,encontrei uma carta!Sim caro leitor,uma carta!Estranhei como também vós deveis estranhar.Abri.As palavras que nela estavam eram essas,sem tirar nem acrescentar detalhes:


                                "O amor é mesmo sem sentido!Por isso adimiro poetas que tentam compreende-lo.Você poeta,me fez pensar sobre ele.
                                  Quantos homens uma mulher é capaz de amar durante a vida?Em quantos pedaços pode se dividir um coração?Acho que
                                  nunca teremos tais respostas,pois se a tivéssemos,provavelmente descobriríamos o segredo da vida!
                                  Ao te ver gostei ti,mas conheci Juan.Apaixonei-me,por ele.
                                  Talvez essas palavras o confortem ou apenas ou deixem pior.Espero a primeira opção.Nunca mais nos veremos,pois sua caravana viaja sempre,mas
                                  quem sabe a mão de Deus nos cruze novamente.Porém aqui digo-te em verdade.Comigo,sempre estarás no pensamento.Acho que tenho sentimentos por ti.Quais?Não sei."
                                
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            
                          Sou um péssimo dramaturgo,não soube terminar essa história.Foi certo mostrar esta carta ao fim de tudo?Não sei.Julguem-me!É o que mais faz o ser humano,apenas julgue-me.
                          Andando uma vez,pelas terras de Málaga soube de um casamento,os noivos eram Juanito e Tácia.Coincidência?Eu acredito em coincidência.Enfim,sem mais me prolongar,entreti-me
muito contando a vocês a linda história da Princesa Taciana e do Príncipe Juan!Adoro clichês,por isso ficam aqui as últimas palavras.

                            Eles foram felizes para sempre!

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