sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Memórias

Era manhã de 15 de Janeiro de 1944,sim,tinha um leve brilho de Sol por entre as nuvens,como eu poderia esquecer?Foi a
primeira vez que a vi.Eu trabalhava na loja de meu pai em Berlim,ela trazia neste dia específico,o carregamento de doces fabri-
cados por seu pai,sócio do meu pai,seu irmão era quem costumava trazer,mas desde que o partido Nacional Socialista assumiu
o poder ele ingressou para o exército,logo eu também ingressaria;bastaram apenas alguns passos dela da porta até o balcão onde
eu estava para meu coração disparar como uma locomotiva em meu peito,era a figura mais formosa que meus olhos jamais haviam
visto durante meus 21 anos recém completados.

           -"Oi."ela disse com simpatia.

          -"O-oi".respondi com encanto.

         A partir daí,todas os semanas rigorosamente ás segundas nos víamos,era o climáx da minha semana.Cada dia eu percebia que
a vontade dela de me ver era tão grande quanto a minha de ve-lá.Porém o Socialismo de Hitler já era chamado de Regime Nazista,o
cerco estava apertado,a guerra era iminente ,jovens como eu,até crianças...Meu Deus....crianças... Eram tiradas de suas famílias e
levadas aos quartéis genarais para terem seus cérebros lavados e serem reeducados nas monstruosas doutrinas nazistas.Meu pai
dizia que um verdadeiro alemão era aquele que não se rendia a Hitler e patriota era aquele que resistia e se mantinha nos ideáis que
ergueram nosso país.
      Numa segunda feira de Abril,não me lembro exatamente a data,eu estava sentado com ela na calçada,eu havia lhe ofertado doces,
ela adorava caramelo,seu nome era Catherina,este foi o momento mais real e intenso da minha vida,eu a beijei,estava com aroma de caramelo,
enquanto a beijava pensava em dizer o quanto eu a amava,só que de súbito ouvimos um carro freiar bruscamente,homens do exército...Entraram
na loja do meu pai,eu pensei em entrar também,mas em menos de cinco minutos meu pai foi chutado para fora da loja com sangue no rosto,a
loja foi toda metralhada,agora entendia porque meu pai odiava o exército e Hitler,me despedi de Catherina e disse que tinha algo a dizer na próxima
segunda,mas na verdade deveria ter dito ali naquela hora.Aqueles homens vinham pressionando meu pai para que eu entrasse no exército mas ele
se negava e nem se quer conversava comigo sobre isso.Ele me disse que eu deveria ir para a casa de meus avós na Polônia,mas eu me neguei, então
ele falou que não queria ver seu filho servindo a um louco assassino,eu o confortei e disse que só iria conversar com os sujeitos.
    No dia seguinte eu estava sendo apresentado a Henrich Himmler,general da SS onde prestei serviço militar até o presente momento,6 de Junho de 1944.
As tropas aliadas invadiram a Normandia,exatamente onde estou agora,me chamaram de "Porco Nazista",balas rasgaram meu corpo enquanto corria para essa cabana,
escrevo essas memórias com sangue nas mãos,não sei o que aconteceu com meu pai nos últimos dias e Catherina...Catherina..a deixei esperando para ouvir as palavras
sinceras do meu coração,não sei se ela se importaria com isso agora,não seu onde ela está ou com quem está,provavelmente achou alguém mais digno que eu;tomei
decisões erradas e pago com a vida por isso,ninguém vai ler isso....mas neste leito de morte só consigo sentir o beijo dela,não disse isso a ela mas tenho certeza que ela
sabe....

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